02 outubro 2015

Sector imobiliário: Crescer e qualificar à 'boleia' da crise


O sector imobiliário está a atrair um número crescente de profissionais qualificados. Pode parecer um contrassenso, tendo em conta que o sector é sucessivamente apontado como um dos que mais sofreram com a crise (tanto em matéria de desemprego como de resultados), mas para os especialistas do imobiliário a adversidade económica teve um efeito positivo indiscutível: a crescente profissionalização e qualificação dos seus profissionais.

Se, na área da construção, muitos foram forçado a procurar oportunidades noutras geografias por força da estagnação que afetou o sector, no ramo da mediação imobiliária as transformações foram evidentes. O desemprego elevado em áreas como a engenharia civil, a arquitetura, a docência ou até na área do Direito, atraíram para a atividade um perfil diferente de profissionais altamente qualificados. 


Ricardo Sousa, administrador da Century 21, fala de "um número crestente de perfis qualificados que descobriram o sector como consequência da subida do desemprego, mas que já não ponderam abandoná-lo". Em vésperas de início da segunda-feira de emprego da iniciativa Portugal a Recrutar, desta vez orientada para a contratação de profissionais do sector imobiliário que decorre a partir de 5 de outubro na plataforma do evento, o Expresso reuniu alguns especialistas do sector para perceber onde estão as oportunidades nesta área e que tipo de profissionais podem vencer neste sector. 

Dos perfis mais óbvios, pela proximidade à área imobiliária, como argui tetos e engenheiros civis, aos menos óbvios como técnicos oficiais de contas, avaliadores, bancários, juristas e professores, a equipa de Helena Pedras, diretora de desenvolvimento da consultora OptimHome, tem de tudo um pouco. A especialista confirma que "os últimos anos de crise serviram para fazer uma seleção natural entre as empresas de mediação e os seus profissionais", gerando como resultado a qualificação e profissionalização de ambos.

Rui Torgal, diretor de Operações da Era, confirma-o: "À crise sobreviveram apenas os profissionais com maior grau de especialização e qualificação." Em parte, reconhece o diretor, esta retenção surge também sustentada no facto da imagem negativa que durante muito tempo esteve associada ao sector e fazia desta uma carreira de segunda opção estar hoje ultrapassada. "Há mais pessoas com formação média e superior a fazerem desta uma atividade a full-time e a ver a mediação imobiliária como uma alternativa interessante de carreira", confirma. 

Contratações dinâmicas 

Nos primeiros nove meses do ano, a Century 21, a Era, a Remam Vantagem e a OptimHome, quatro das várias consultoras imobiliárias com atividade em solo nacional, contrataram cerca de 1300 profissionais. A previsão é de que, no próximo ano, possam ser criadas por estas empresas pelo menos mais 1400 vagas. Na maioria, trata-se de funções comerciais, com 

forte componente de remuneração variável e indexada a resultados. Uma prática regular no sector que permite grandes ganhos mas que, reconhecem os especialistas, ainda pode desincentivar alguns perfis menos orientados para o trabalho por objetivos. 

Segundo Sandra Soares, CEO da KPSA, a empresa de recrutamento especificamente focada na contratação de equipas comerciais, a generalidade das empresas deste mercado "perspetivam incrementos de contratação na ordem dos 30% para 2016". As funções mais procuradas são consultores comerciais, diretores comerciais e coordenadores de loja. Em regras, esclarece, "as empresas oferecem, na sua maioria, apenas uma retribuição variável que é bastante elevada". Esta remuneração apelativa, se afasta alguns, é apontada como um dos principais aliciantes da carreira - a par com a flexibilidade horária e a progressão rápida na carreira - por outros. Ter sucesso nesta função implica para os candidatos a capacidade de trabalhar por objetivos e para as empresas, um "olho clínico" muito apurado no momento de contratar. 

João Apolinário, diretor de Recursos Humanos do Grupo Remax Vantagem, não tem dúvidas de que as pessoas são o centro deste negócio e de que o sector ganhou muito com a diversidade de perfis que soube atrair nos últimos anos. O grupo que dirige realiza em média 7,4 transações imobiliárias por dia. Um resultado que atribui ao desempenho de urna equipa formada e qualificada com muito investimento da empresa. "O número de pessoas qualificadas que começam a olhar esta área como urna oportunidade cresceu consideravelmente", explica. Mas por serem perfis que não têm necessariamente uma valência comercial, a necessidade de investimento das empresas na sua formação também aumentou. Em 2013, João Apolinário criou na Remax Vantagem uma equipa de caçadores de talentos imobiliários, treinada para potenciar o recrutamento de talentos para a equipa. A estrutura é hoje a principal ferramenta da empresa para contrariar algum preconceito que ainda possa existir em relação ao sector e que Sónia Moura, diretora de Gestão de Carreiras da consultora de recrutamento Heading, confirma, ao referir que apesar das oportunidades existentes, "ainda há muita dificuldade em recrutar para áreas comerciais e de apoio ao cliente".

Fonte: Expresso

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