14 março 2016

Dinheiro barato vai acelerar descida dos "spreads" da casa


O BCE vai dar mais financiamento à banca para puxar pela economia. O destino principal serão as empresas, mas as famílias também poderão beneficiar com o acesso a créditos mais baratos. Mas as Euribor negativas podem atenuar a descida dos "spreads".


Contrair um empréstimo para a compra de casa foi praticamente impossível nos anos da troika. Com o BCE a injectar liquidez no mercado, a "torneira" do crédito começou a "pingar", retomando recentemente algum do ímpeto verificado durante a crise. Mas com as novas medidas anunciadas pela autoridade monetária o financiamento poderá acelerar. Apesar de o foco de Mario Draghi ser as empresas, há margem para que as famílias beneficiem de "spreads" menores.

O BCE avançou com um corte na taxa de juro de referência para 0%, na de depósitos para -0,4%, novas rondas de financiamento para a banca, com juros que podem ser negativos. Em suma, mais liquidez que será injectada na economia – além de mais dinheiro para o programa de compra de activos –, para puxar pela região. "O BCE pretende, sobretudo, incentivar o crédito a empresas e negócios, ou crédito a particulares para outros fins", diz Paula Gonçalves Carvalho.

Mas o dinheiro barato para a banca acabará por chegar também ao crédito para a casa – que tem menor risco para os bancos. "Dependendo do andamento da actividade económica global, dos mercados financeiros internacionais, da economia doméstica e da saúde dos balanços das empresas", as margens exigidas pelos bancos nos empréstimos podem descer, até porque a banca nacional precisa de aumentar a sua rentabilidade. 

"Os bancos continuarão disponíveis para a concessão de crédito. O preço dos novos créditos parece-me que deverá ter tendência a baixar", diz Filipe Garcia, economista da IMF. "Num cenário positivo, existe mais alguma margem para redução" dos "spreads" da banca para a compra de habitação, nota a economista-chefe do BPI. Contudo, "será sempre um processo lento", diz. 

Os "spreads" começaram a cair no arranque do ano passado, depois de um longo período em que as taxas mínimas superavam a fasquia dos 3%. Os grandes bancos deram o mote, com a CGD e o BCP a assumirem a liderança neste mercado ao atirarem as taxas para abaixo de 2%. E os cortes continuaram, ainda que mais lentamente, especialmente a partir do momento em que a actuação da autoridade monetária da Zona Euro empurrou as taxas interbancárias para "terreno" negativo.

Já este ano, foi a vez de a banca estrangeira a actuar em Portugal atacar o segmento da habitação, com o Deutsche Bank a apresentar-se como o banco com a taxa mais baixa: 1,5%, havendo vários bancos que apresentam "spreads" de 1,75%. "Há espaço para um recuo, mas reduzido", nota Filipe Garcia, acrescentando que esta "decorrerá até mais da concorrência entre os bancos do que das medidas do BCE".

À procura de indexantes
Esta baixa dos "spreads" tornará mais acessível o acesso ao crédito para a compra de casa, com as famílias a beneficiarem ainda do facto de os juros estarem em mínimos históricos. E a tendência será de manutenção das quedas para novos mínimos antes de haver uma inversão. Reconhecendo este contexto, e tendo em conta o impacto que "spreads" muito baixos praticados no passado têm na rentabilidade dos empréstimos mais antigos (as taxas negativas são deduzidas aos "spreads"), os bancos têm procurado encontrar alternativas às Euribor de curto prazo. Praticamente todos os bancos estão a disponibilizar apenas a Euribor a 12 meses (mais "cara") nos novos empréstimos, havendo também um aumento de créditos de taxa fixa.


Fonte: Negócios

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