11 maio 2016

Tudo a mexer em Lisboa


Ao fim de muitos anos de actividade reduzida, o imobiliário em geral tem beneficiado de um conjunto de factores que estão a transformar a cidade. Coloca-se a pergunta se tudo não passa de um efeito da lei da oferta e da procura ou se existe uma estratégia para dinamizar o sector, com benefícios múltiplos para o Estado e para os privados. Um dos principais factores é o aumento do turismo, com impacto no aumento da oferta de camas em Lisboa, seja através da construção ou reabilitação de hotéis, seja através de um aumento significativo de oferta do chamado “aluguer” de curta duração. Há também um impacto considerável no comércio, essencialmente no centro histórico da cidade com a instalação de marcas de luxo e premium, bem como novos conceitos de restauração.


Verifica-se também um aumento da procura de habitação, quase sempre nos segmentos médio alto e alto, por parte de estrangeiros de diversas proveniências. Da procura de Golden Visas às vantagens fiscais dos franceses, Lisboa tornou-se visível e apetitosa. Neste último caso, o efeito esperado de um retorno de habitantes ao centro da cidade poderá sair frustrado uma vez que muitos destes novos proprietários revelam-se investidores não residentes ou têm uma utilização algo pontual destes imóveis. 

Finalmente os escritórios, que sendo um reflexo directo da dinâmica empresarial e da actividade económica, têm revelado alguma dinâmica mas que são preteridos quase sempre no centro de Lisboa em favor dos sectores acima referidos porque não se aproximam dos valores por estes praticados. Com valores de rendas que dificilmente justificam construção de raiz, as empresas vêm-se um pouco empurradas para zonas mais periféricas ou constrangidas a adaptar-se a edifícios mais antigos que já dificilmente dão resposta às exigências técnicas e funcionais das empresas mais dinâmicas. 

Como em tudo na vida, há duas formas de olhar para o copo: do lado meio vazio, a perceção que se está a construir um cenário cada vez menos autêntico e com poucos figurantes nacionais. Do lado meio cheio, o património imobiliário vai sendo recuperado e sente-se mais dinâmica nas ruas, o que contribuirá para valorizar Lisboa e a tornar mais competitiva com outras cidades europeias. 

Por Carlos Oliveira, partner, diretor do departamento de escritórios da Cushman & Wakefield
Fonte: Público Imobiliário

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