18 dezembro 2016

Imobiliário teve desempenho positivo mas longe das expectativas traçadas no início do ano


O desempenho do setor imobiliário foi positivo para a maioria dos profissionais ligados ao setor imobiliário. Contudo, a instabilidade político-partidária e algumas alterações nos regimes legais e fiscais que regem o setor provocaram que tivesse ficado longe das expectativas desenhadas no início do ano.


“Ainda não temos os números finais, contudo parece que o desempenho do setor continuará a ser bastante positivo, destaca Hugo Santos Ferreira, secretário-geral da APPII, estrutura associativa que representa os promotores e investidores imobiliários. Mas acrescenta, “porém, julgo que, infelizmente, não bateremos os números alcançados no ano anterior, ficando-se assim aquém das expectativas do início do ano e aquém daqueles valores que realmente o mercado poderia ter vindo a obter, não fosse a constante instabilidade e imprevisibilidade do nosso regime fiscal e legal”. 

Na sua opinião, as empresas do setor fizeram um excelente trabalho, “notando em particular e com orgulho que os promotores imobiliários, também nacionais, voltaram em força ao mercado, lançando ou relançando muitos e bons projetos imobiliários, alguns até de relevante dimensão”. 

Na opinião de Luís Lima, o ano foi positivo para o setor imobiliário, continuando numa perspetiva de crescimento que se começou a registar desde o final de 2015. 

“Assistimos a um bom desempenho do mercado de compra e venda e do mercado da reabilitação urbana, impulsionados pela procura estrangeira e também pelo mercado interno, numa perspetiva de obter rendimento deste investimento através da colocação destes ativos em mercados como o do arrendamento urbano ou do alojamento local”. Acrescenta que, “apesar de o ano ainda não ter acabado e ainda não termos bem noção do impacto que algumas decisões poderão ter tido no setor, no cômputo geral, este foi um ano positivo para o setor imobiliário”. No entanto, adverte, “não posso deixar de assinalar de forma algo negativa a ausência do diálogo entre o Estado e a sociedade civil na tomada de algumas decisões, cujas consequências não terão sido bem avaliadas. No próximo ano avaliaremos o impacto das mesmas”. 

César Neto, presidente da AICE, estrutura que representa os industriais da construção de edifícios, considera que o setor imobiliário teve “uma prestação intermitente, tímida e sem a expressão desejada, naturalmente influenciada pela instabilidade político-partidária que conduziu às últimas eleições e à consequente formação de um governo singular, resultante de um novo modelo de coligação na Assembleia da República”. Na sua opinião, “à forma governativa criada, algo fragilizada na sua estabilidade, foram acrescentados eventos associados às dificuldades da banca nacional, que agravaram a confiança dos investidores, das empresas e das famílias”. Por fim, destaca toda a incerteza dos conflitos mundiais, que provocou redobrados cuidados e reforçadas ponderações no avanço de investimentos. 

Adverte qye todos estes fatores “alteraram as tradicionais fases de maior ou de menor expansão do negócio imobiliário, tradicionalmente colados à evolução económica cíclica. E, dramaticamente, passaram a acontecer aos ‘solavancos’, em períodos inesperados e com frequências cíclicas preocupantes, até no curtíssimo prazo”. 

César Neto destaca, ainda, que “este é um negócio que obriga a investimentos elevados e a compromissos de longo prazo e que tem estado perante um desconforto assinalável”. 

João Pessoa e Costa, presidente do Círculo Imobiliário, dá nota positiva ao desempenho do setor. “Entre 2008 e 2015 foram anos de grandes dificuldades no setor. Em 2016, respirou-se um novo ar de otimismo. Muitas empresas do setor ficaram pelo caminho. É bom não esquecer o que aconteceu, para não repetir os mesmos erros. Há novos atores, melhores profissionais e temos um melhor ambiente de negócios”, destaca. 

Luxo supera expectativas 

Na opinião de Gustavo Soares, managing director da Sotheby´s, 2016 foi um ano fantástico, “basicamente porque se irão atingir, ou mesmo ultrapassar, os números existentes no passado, nomeadamente em 2009/ 2010, superando-se assim a barreira das 100 mil propriedades vendidas”. Assim, 2016 é o ano em que o mercado imobiliário retomou os seus níveis normais, na sua opinião. 

“Em relação ao segmento de luxo, em que a Portugal Sothebys International Realty por mais um ano irá manter a liderança deste segmento tão específico, os números globais também normalizaram, confirmando-se que o número de negócios no residencial acima dos 500.000€ atingirá o volume total de 5000 transações”, destaca Gustavo Soares. 

Salienta que 2016 foi também o ano da consolidação internacional de Portugal como destino mundial. “De facto, sobretudo no mercado de luxo, os compradores estrangeiros consolidaram uma quota de mercado de mais de 60% sendo de destacar nacionalidades como a França, Reino Unido e Brasil”. 

Outra boa noticia, na sua opinião, é que os compradores nacionais voltaram ao mercado, sendo que provavelmente os compradores nacionais, que já vinham em crescendo desde finais 2014, constituíram este ano uma das grandes fontes de crescimento do mercado. 

Gustavo Soares destaca o papel do setor financeiro, por ter consolidado a sua presença e interesse no crédito hipotecário. “O crédito é um fator verdadeiramente dinamizador deste setor, pela perspetiva de longo prazo do negócio imobiliário, sustentando a possibilidade de maior dimensão de negócio ao permitir trazer para o nosso segmento mais potenciais compradores que juntam (o crédito) aos capitais próprios”. 

Na opinião de Almeida Guerra, presidente da Rockbuilding, temos assistido, durante 2016, a uma variedade de mercados imobiliários em Portugal. Assim, nos “centros de Lisboa e Porto, tudo parece correr bem; falta de bons escritórios em Lisboa, onde as rendas “prime” já ultrapassam os 20€/m2/mês; grande volume de apartamentos, terrenos e resorts turísticos que os bancos ainda mantêm no seu balanço, com dificuldades de escoamento; a dificuldade de “acertar o passo” no que respeita ao golden visa e aos residentes não permanentes; o evidente esforço de várias autarquias para trazerem para os seus territórios atividades económicas geradoras de emprego; as indefinições ainda existentes quanto ao estatuto e à forma de desenvolvimento das “Residências para Idosos”; a confirmação do negócio de “Residências para Estudantes”, prejudicado pela alta de preços dos edifícios para uso habitacional”. 

Investimento atinge 1,8 mil milhões de euros 

Para Pedro Rutkowski, CEO da Worx, em 2016, o mercado imobiliário português experienciou um comportamento positivo, confirmando o dinamismo que o caracteriza e integra o seu perfil. 

“Altamente motivado e influenciado por uma recuperação da confiança no setor, que se estendeu a vários quadrantes e segmentos de mercado, o imobiliário viu na reabilitação urbana a sua grande força motriz, destaca. 

Acrescenta que a reabilitação urbana, incentivada por amplos benefícios fiscais, veio trazer vida aos principais centros urbanos, com Lisboa a liderar o número de projetos reabilitados, assim como promover a entrada de novos conceitos habitacionais, comerciais e turísticos. “De salientar, que por intervenção governamental e até à data de Novembro de 2016, foram investidos cerca de 66 milhões de euros na reabilitação do património habitacional municipal de Lisboa”, alerta.

Fonte: caderno imobiliário do jornal Vida Económica

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.