08 outubro 2012

Brasil e Portugal, cenários económicos e do setor imobiliário da próxima década!


Jorge Garcia, Especialista em Imobiliário
No Brasil prosseguimos rumo a um novo patamar de desenvolvimento e competitividade à escala global, com a convicção de que é necessário criar hoje as condições para que tal aconteça. 

Guido Mantega e Fernando Pimentel têm sido os protagonistas do pensar estratégico do governo Dilma Roussef, trilhando caminhos com visão de futuro, apostando em desatar os “nós” do “custo Brasil”. Num ano, a taxa básica de juros caiu de 12,5% para 7,5%, a política cambial em relação ao dólar mudou sendo adaptada a desvalorização flutuante, mas existe conscientização que é preciso ir mais além para crescer sustentadamente.


A desoneração na folha de pagamentos para 40 setores de atividade, a concessão à iniciativa privada de logística e infraestruturas (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos) e a redução do custo energético, são medidas que vão nesse sentido. Para garantir competitividade económica, os próximos passos terão de ser a reforma tributária, trabalhista e previdenciária. Para garantir a sustentabilidade desse crescimento será ainda necessário um maior foco, na educação, no social e ambiente.

Hoje o mercado imobiliário brasileiro, segundo a AFIRE (Associação de Investidores Estrangeiros em Mercado Imobiliário) é considerado o mais propício para investimento estrangeiro dos países emergentes e o 4º maior do Mundo. Também a demanda (procura) particularmente no segmento residencial, manter-se-á com duradoura dadas as necessidades habitacionais por satisfazer. A redução dos juros, o aumento dos limites de renda familiar dos que podem acessar ao programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida” e dos valores financiados vai reforçar a sustentabilidade desse crescimento. É na crescente profissionalização e globalização dos seus “players”, incorporadoras, construtoras e agências imobiliárias e no ajustamento da oferta à demanda nos diferentes segmentos de mercado, que também se vão trilhando novos caminhos de futuro.

Em Portugal tendo sido criada uma excessiva interdependência entre o setor financeiro e o setor imobiliário, a solução do mercado da construção e do imobiliário terá de passar inevitavelmente pelo saneamento da banca, o repensar do papel da banca pública (CGD) e das entidades supervisoras e reguladoras do setor financeiro.

Até que se vislumbrem sinais de recuperação da economia europeia, até que Portugal recupere parte da soberania perdida pelo resgate financeiro será necessário encontrar soluções de curto e médio prazo para os problemas da dívida imobiliária e da dívida do Estado às empresas de construção que ascendia em Julho a 1,4 mil milhões de euros.

Enquanto se aguardam sinais de recuperação da economia europeia, particulares e empresas do setor da construção aguardam por soluções. Quanto à maioria das empresas, sem liquidez e com atividade residual na construção residencial e obras públicas, enquanto desesperam pelo pagamento das dívidas de autarquias e do Estado central esperam um sinal de boa vontade governamental; que poderia começar pela concessão das mesmas condições que foram concedidas às empresas da Região da Madeira, a liberação das cauções garantias após um ano.

Esperam pela reafectação de verbas do QREN a obras de reabilitação de proximidade, pela declaração do setor como setor em reestruturação, por planos de manutenção e conservação das redes rodoviárias e ferroviárias, por mais recursos afetados ao programa Jessica de reabilitação e desenvolvimento urbano, esperam pela reestruturação da sua dívida na banca avalizada pelo seu principal devedor.

Quanto às famílias portuguesas que esperavam um enquadramento legal que lhes permitisse renegociar junto da banca a sua dívida imobiliária, que afastasse o espectro do incumprimento e a entrega do imóvel que habitam, viram frustradas as suas expetativas.

Numa conjuntura de redução do seu rendimento disponível, as famílias com rendimentos superiores ao salário mínimo não irão beneficiar do regime excecional recentemente aprovado na Assembleia da República. Também “desapareceu” a proposta de redução de 25% do capital a amortizar no que diz respeito à dação para quitação da sua dívida bancária, num quadro de desvalorização temporária do produto imobiliário equivalente.

Enquanto se aguarda pela recuperação da economia europeia e a revalorização dos ativos imobiliários, o fator tempo na renegociação das dívidas de empresas e famílias à banca será crucial. Enquanto no Brasil, nos arriscamos em projetar cenários de longo prazo, na velha Europa e particularmente em Portugal parece apenas fazer sentido a célebre frase de John Maynard Keynes “_ no longo prazo estamos todos mortos !”.

Por Jorge Garcia, Especialista em Imobiliário

Fonte: Casa Sapo

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