Partilhar casa com alguém é regra em todos os manuais de poupança. Em tempo de crise não há nada como dividir as contas, e quem o melhor sabe são os jovens, os mais fiéis seguidores deste regime. Isto motiva a criação de sites especializados para o efeito e até a compra de casas especialmente para aluguer a terceiros.
Em Portugal existem vários sites ( Okroomate; easyquarto; bquarto) para este fim, e a frase mais lida quando se entra num é “quero partilhar casa”.
O facto é que ainda há muita gente a recorrer aos amigos e conhecimentos antes de embarcar no desconhecido. Francisco Pinto, 21, aproveitou esta ajuda preciosa assim que o secundário terminou. Com a Universidade em Lisboa, Francisco deixou a família e passou a viver com duas irmãs, que compraram um apartamento e não se importaram de receber um novo elemento.
“No primeiro ano éramos 3 pessoas, eu pagava renda e dividíamos as contas pelos 3 de igual modo. Nunca tivemos o hábito de partilhar compras, a não ser o ocasional assalto à prateleira quando faltava massa, manteiga ou simplesmente chocolate, que era cuidadosamente reposto antes que ele desse conta”, explica Francisco.
O problema surgiu apenas quando a licenciatura estava a terminar. Fez um semestre de Erasmus na Alemanha, e teve de desistir do quarto para suportar as despesas no estrangeiro. “Quando voltei, em Janeiro, embarquei nessa aventura que é a procura de quarto, começando pelo sítio mais óbvio para mim na altura - que muito independente me considerava – os classificados. Nenhum parecia certo para mim, ou era muito caro, ou em zonas estranhas. Uns tinham falta de transportes, outros não tinham mobília ou pareciam prisões.”
Voltou à rede de conhecimentos e encontrou a frase que mais queria ouvir: “Há um quarto vago no apartamento que eu alugo". Passou a partilhar um T2 com uma rapariga. Dividam a renda e as contas e, já que eram só dois, começaram “a fazer compras em conjunto”. “Comprávamos o que faltasse para casa e ao final do mês contabilizávamos o que tínhamos usado os dois e acertávamos contas”.
Este princípio também foi utilizado pela irmã, Ana Luísa, 23, quando se mudou para Faro. A rede de contactos garantiu-lhe um apartamento amplo, bem localizado e com duas amigas de secundário. Com os cursos a terminar, as duas colegas também saíram da capital algarvia, mas Ana manteve-se e viu entrar uma nova colega para partilhar casa. "Foi um ano e tal, mas ela era muito reservada, pouco saía do quarto e não se sentia muito a companhia".
As regras, contudo mantiveram-se. “Todos temos de fazer pequenas cedências e ter regras fixas. É normal que nem sempre possamos ter a música alta até tarde ou amigos a passearem pela casa. São coisas que se vão aprendendo com o tempo”. Nas partilhas, Ana deixava claro que a colega “podia usar tudo o que fosse preciso, desde que não se esquecesse de repor para quando eu precisasse”.
A parceira também acabou por sair e Ana ficou sozinha “a pagar a renda normal até encontrar alguém”. Poucos meses depois, a casa deixava de ser de estudantes e passava a ser uma casa de enfermeiros. Ana recebeu um colega de profissão em casa e logo depois uma amiga em comum, que também precisava. Com a casa a ficar pequena demais, tentaram os três encontrar um novo local para viver. “Eu gostava mesmo daquela casa, mas não tínhamos quartos suficientes e acabámos por mudar. A renda ainda caiu 10 euros, não é muito mas faz diferença”, diz.
Casa em troca de companhia
Em Coimbra surgiu um programa que ajuda jovens a encontrarem casa a preços mais baixos. Em troca têm apenas de dar a sua companhia aos mais velhos.
No Projeto Lado a Lado, os jovens pagam apenas as despesas porque o valor maior que dão em troca é a presença. Daniel Bandeira tem 18 anos foi viver para a casa de uma idosa de 89 anos de idade.
Soube do projeto "no ano passado quando ainda estava na escola secundária", mas não pensou logo em aderir. Quando entrou para a Faculdade e se mudou para Coimbra, ainda tentou alugar um quarto. "Pagava 170 euros de renda, agora pago 30 de despesas. A diferença é grande e é uma ajuda para os meus pais", diz.
Fonte: Dinheiro Vivo
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