26 setembro 2013

Prestação da casa caiu de metade para um terço do salário em cinco anos


Falência do Lehman levou as Euribor para recorde, tornando o custo do crédito à habitação insustentável. Cinco anos depois, a prestação custa menos a pagar, mesmo com quebra do salário médio.
A queda do Lehman Brothers mergulhou, há cinco anos, o mundo na maior crise financeira desde a Grande Depressão. Em Portugal, as famílias sentiram os primeiros efeitos do colapso do gigante de Wall Street na factura do crédito. Todos se recordam da escalada dos juros nos mercados que levou os encargos com a habitação para recorde. Cinco anos depois, estão em mínimos históricos e a mensalidade média representa pouco mais de um terço dos salários líquidos.

A falência do banco americano deu o golpe final na pouca confiança que restava num sistema financeiro contaminado por activos tóxicos que, quase de um dia para o outro, perderam todo o valor. O receio de emprestar a uma instituição que poderia afinal estar insolvente paralisou o crédito. A liquidez desapareceu do mercado. Quem a tinha exigia custos elevados para a emprestar aos necessitados. As Euribor escalaram. A 8 de Outubro atingiram um nível recorde: a taxa a três meses chegou aos 5,393%. A de seis meses fixou-se nos 5,448%.

Para as famílias, a factura chegou na mensalidade de Novembro. Apesar dos recordes das taxas de referência para os créditos à habitação em Outubro, a média das Euribor (que é a base para o cálculo das prestações dos empréstimos para a compra de casa) fixou máximo histórico em Setembro. Os contratos revistos no mês seguinte ditaram uma prestação média de 427 euros no penúltimo mês do ano, ascendendo a 428 euros em Dezembro, de acordo com os dados do INE.

Este recorde agravou a situação financeira dos portugueses que contavam já com taxas de juro de mais de 4%. O salário líquido mensal ascendia à data a 765 euros, segundo o INE, pelo que a escalada das Euribor fez com que mais de metade do rendimento ficasse cativo pelo crédito à habitação (56%). O peso seria ligeiramente maior, dado que à mensalidade é preciso juntar os seguros e comissões associados ao empréstimo.

A intervenção concertada dos bancos centrais para baixar as taxas de referência, a 8 de Outubro, marcou o arranque da correcção da Euribor. Os cortes sucessivos do BCE no preço do dinheiro encolheram a prestação para 327 euros em seis meses. A tendência manteve-se até aos mínimos da Euribor já este ano, depois de duas descidas de juros por parte de Mario Draghi, atirando a prestação média para 273 euros em Agosto.

A descida das prestações foi mais forte do que a quebra do rendimento líquido mensal dos portugueses a partir do primeiro trimestre de 2011, em resultado do agravamento da carga fiscal. Actualmente, os encargos com o crédito da casa representam 34,1% do salário médio, que estava nos 803 euros no segundo trimestre deste ano.

Juros mínimos travam malparado

Para os economistas, não fosse a folga no orçamento familiar proporcionada pelas taxas historicamente baixas e o incumprimento no crédito à habitação seria muito superior. O que não evita que o malparado esteja em níveis recorde, devido à escalada do desemprego, num contexto de contracção económica. A percentagem de crédito vencido passou de 1,5% no início de 2009 para os actuais 2,3%.

"Considerando as famílias com mais créditos que aplicações financeiras, o efeito da queda das taxas de juro é favorável, aumentando o rendimento disponível após o serviço da dívida", diz Paula Carvalho. "Relativamente aos níveis de incumprimento, penso que o factor taxas de juro só tem impacto sobre os níveis de incumprimento quando se trata de patamares muito elevados. No entanto, em casos de famílias com menor margem financeira, poderá ter sido o factor fundamental para evitar entrada em incumprimento", remata a economista-chefe do BPI.

Fonte: Negócios

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