01 outubro 2013

Beatriz Rubio: "Houve casas na Quinta da Marinha a baixar 500 mil euros"


IMOnews Portugal
CEO da Remax fala do negócio, das zonas de luxo e da mudança de relação com empreiteiros e promotores imobiliários.

Veja a entrevista de Beatriz Rubio ao Negócios.




Os dados do primeiro semestre revelam uma subida de 14% das transacções e um aumento de 18% do volume de negócios mediados. Como explica o crescimento num ambiente de queda no sector e de crise generalizada?
Esses números até já são melhores. Sinceramente, penso que isto se deve ao facto de nos termos adaptado à crise e aos mercados alternativos como o arrendamento e os imóveis da banca. O arrendamento era muito caro e escasso, antes da crise, e os imóveis da banca quase não existiam. Estamos muito metidos nesses dois mercados, e continuamos a vender. Agora apostamos muito nos investidores O que são investidores? Até à crise era quem investia 350 mil ou meio milhão de euros numa casa. Agora é quem tenha 100 mil euros de poupança e compre um imóvel de 150 mil euros. Querem comprar para alugar, tendo o custo do empréstimo mais baixo, e vão ter um retorno de arrendamento mais alto.

Qual é a melhoria?
Até Agosto, transacionámos 23.991 casas das quais quase 14 mil do arrendamento e 10 mil de vendas. Crescemos 15% face ao mesmo período do ano passado: 23% nas vendas e 9% no arrendamento. Estamos com 600 milhões de euros em transações mediadas.

O fenómeno dos pequenos investidores cresceu nos últimos dois anos? 
Sim. Há muitas pessoas que no último ano, ano e meio, têm poupado dinheiro. Há muita instabilidade no sector bancário e existe ainda um pouco de receio. Os juros que a banca dá também são baixos. Através do arrendamento, estes investidores podem conseguir 4,5 ou 6%, já com os gastos todos incluídos. E no final ainda terão um bem que será deles.

Quem são esses investidores, há algo que os caraterize?
Não, mas onde mais se investe é em Lisboa, em T2 e T3. É a localidade em que mais se arrenda. Mas há quem também esteja a comprar na linha de Cascais e de Sintra. Consideramos agora investidores quem não tenha necessidade da casa para viver e gaste 70 ou 80 mil euros, por exemplo.

O preço das casas já bateu no fundo? Há notícias que revelam uma subida nas zonas nobres de 10% (parte histórica de Lisboa). Qual é o panorama atual?
Isso são fenómenos muito pontuais, ainda não há retoma do preço. Isso pode acontecer num produto muito específico como o centro de Lisboa em que os produtos são quase contados, em que muitos têm 200 m2 e jardins interiores. Esses vendem-se logo e são produtos quase únicos. Por outro lado, as vendas a estrangeiros estão mais puxadas e essas são as zonas preferenciais, Não houve retoma na globalidade, mas também já não creio que desçam mais. Os preços já estão muito, muito baixos. Houve prédios que desde 2008 perderam 40% do valor, o que é muito. No Porto ainda desceram mais.

Quão mais "puxadas" são as vendas a estrangeiros?
Por exemplo, um brasileiro que queira uma casa de 250 m2, se só há essas no mercado, é natural que provoque um aumento do preço. É o único produto que há e eles pagam por ele. Mas são casos pontuais.

Os promotores e mediadores imobiliários estão sempre a dizer que "este é o melhor momento" para comprar casa. Esse "momento" já passou ou ainda está para vir?
Isso é verdade. Não, agora é que é mesmo boa altura para comprar casa. Se os preços estão baixos, é uma boa oportunidade. O mais complicado é arranjar financiamento. Se a casa não é da banca, ou se não tem o dinheiro ou que empreste dinheiro...

Há artigos em que os vendedores de luxo dizem que há uma retração das pessoas na compra por medo da perceção da ostentação. No imobiliário é assim também?
Na Quinta da Marinha que é das zonas mais caras de Portugal, e e estes são dados reais porque fiz lá vários negócios, houve casas de dois milhões que desceram para 1,5 milhões de euros.

Porquê?
Pela dificuldade em pagar e porque tinham de vender a casa rápido. Há pessoas que montaram negócios que não correram bem e ficaram endividados. Ao não correr bem, não têm dinheiro para pagar.

Está-me a falar de quem tem problemas de pagar, mas e quem não tem essas dificuldades mas não quer ostentar?
Nesse caso não, no que respeita à casa. Se têm dinheiro compram uma casa melhor. Nos carros e nas jóias não acontece o mesmo.

Lançaram este ano um serviço de seguro de rendas. Como tem sido a adesão?
Devemos ter feito uns 600 contratos. Pensava que íamos fazer mais, o custo é baixo para a segurança que dá. Mas as pessoas preferem correr riscos. Em 14 mil transações, em seis meses, é pouco. Esperava uns 1.500. mas há que ir sensibilizando o mercado. Ainda é dinheiro, mas se houver uma quebra de pagamento sai barato. No entanto, se o mercado de arrendamento subir, este produto vai ganhar importância.

Remax vai contratar 500 pessoas, que poderão ganhar 40 mil euros por ano.

Que impacto tem a quebra da construção de casas novas no vosso negócio? 

Tínhamos muita dificuldade em entrar em empreendimentos novos porque eles se vendiam por si. O construtor colocava o stand de vendas, com três pessoas, e promovia os imóveis e vendia-os. Agora têm mais dificuldade e eu faço essa promoção. Fiquei a ganhar com essa dificuldade que existia no mercado. Eles têm de vender para que o banco não fique com a promoção. Em muitos casos são mesmo os bancos, que quando os projetos estão para ir para incumprimento, que pedem ajuda.

Faz sentido construir casas novas?
Para que o mercado continue dinâmico tem de haver construção, senão estagna. É importante que existam casas novas porque há mercado para elas. Mas agora é preciso fazer muito bem contas, porque com o preço do terreno, mais o mínimo que metes na construção, se calhar o preço final do apartamento fica muito caro. Se tivesse de construir, não fazia nem muito caro, nem baratíssimo. Não ariscaria tanto. E construir sem financiamento é quase impossível, mais facilmente se vende o produto médio.

Vão contratar 500 colaboradores. Numa época de tão grande desemprego, o número motiva. Que tipo de empregos são?
Nunca falo de emprego porque isso me soa "das 9h00 às 17h00" e o nosso trabalho não é desse tipo. Têm de ter uma veia de empreendedor, porque quem quer trabalhar connosco vai arriscar. Se não vendes, não ganhas. Nem todos são empreendedores.

Qual é a taxa de novos contratados que ficam mais de um ano?
Temos uma rotação de 50% como em todos os países, ao fim de um ano, um ano e meio. As pessoas tentam, muitos conseguem e outros não. Há que ter muita determinação. E há muito trabalho duro. No entanto, eu acho que em Portugal há mais empresários do que em Espanha. Os espanhóis são mais funcionários.

Qual é a remuneração média?
Varia muito. Temos o maior vendedor da Europa que ganha 600 mil euros por ano e depois temos quem ganhe 25 a 30 mil euros. A média será de 40 mil euros/ano. Mas há quem também não faça nada ou apenas seis a sete mil euros. Esses têm de sair.

Fonte: Negócios

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