09 novembro 2013

"Não é o sismo que mata as pessoas, são os edifícios"


Aníbal Costa, professor da Universidade de Aveiro, apresentou em Lisboa soluções para o reforço sísmico de imóveis.
No dia 1 de novembro fez 258 anos que ocorreu o sismo de 1755 que dizimou Lisboa. Para Aníbal Costa, professor da Universidade de Aveiro (UA) e especialista em estruturas, "não é o sismo que mata as pessoas, são os edifícios". Num seminário sobre Vulnerabilidade Sísmica no Contexto da reabilitação Urbana, organizado esta semana pela Ordem dos Arquitetos (OA), mostrou que com pouco mais de €10 mil se pode reforçar a resistência sísmica de um imóvel.

Se a terra tremer em Portugal, a perspetiva não é animadora. Segundo Aníbal Costa, grande parte dos edifícios existentes, dimensionados e construídos até finais dos anos 70, sem caraterísticas sismorresistentes, estão vulneráveis e os últimos sismos ocorridos na Europa, são prova disso. Daí que o professor defenda que as reabilitações, renovações, requalificações ou regenerações, introduzam sempre o reforço sísmico. Contudo é sempre necessário estudar o imóvel em causa, fazer o diagnóstico dos seus problemas e aplicar as melhores soluções.

Proteger a baixo custo

Aníbal Costa e a sua equipa da UA têm vindo a estudar os últimos sismos ocorridos no mundo e em Portugal, nomeadamente o dos Açores em 1998 onde fizeram a experiências para testar reforços em imóveis. No continente desenvolveram um estudo para um edifício de habitação situado na Avenida Infante Santo, construído em 1954 em betão armado e paredes de alvenaria, com nove pisos. "É representativo da época do modernismo, em que o rés do chão é vazado, só aprecem pilares e o edifício desenvolve-se para cima", explica. Em caso de sismo, o edifício colapsa e para evitar este cenário o professor apresentou quatro soluções para melhorar o comportamento do imóvel. Na mais barata, o valor estimado de obra é de €10.760 e corresponde à adição de contraventamentos metálicos com elementos dissipadores de energia no rés do chão. A solução mais cara tem como valor estimado de obra €44.612, implicando a adição de contraventamentos metálicos no rés do chão. "O sismo é inevitável e vai aparecer. Temos a obrigação de chamar a atenção e sensibilizar as pessoas de que é preciso fazer algo e normalmente representa baixo investimento". Ainda neste evento esteve presente Andrew Charleson, investigador da Nova Zelândia, que contou que no seu país e após o último sismo, houve edifícios novos que tiveram problemas. A partir daí desenvolveram novas maneiras de construir para evitar danos e passou a existir maior partilha de informação e trabalho conjunto entre engenheiros e arquitetos.

Realizado no dia 5, este seminário foi organizado por um grupo de trabalho dentro da OA, que visa criar uma bolsa de peritos que inclui arquitetos e engenheiros que irão ter formação para atuar como especialistas na avaliação de danos em imóveis em caso de sismo.

Estimar perdas e danos

Foi recentemente apresentado o software OpenQuake, integrado no projeto Global Earthquake Model, criado por vários investigadores, incluindo Vítor Silva da Universidade de Aveiro que desenvolveu o módulo que calcula as perdas humanas e económicas. "O software tem a capacidade de estimar as zonas num dado país ou sub-região com uma maior probabilidade de intensidade sísmica e consequentes perdas mateirais e humanas". explica Vítor Silva. Para fazer as previsões, a ferramenta precisa da introdução de dados sobre as placas tectónicas e falhas geológicas da área em análise, a localização, valor e número de ocupantes dos edifícios aí situados e informação sobre a qualidade da construção e estado de conservação dos imóveis. No próximo ano o OpenQuake vai estar acessível ao público e "permitirá que qualquer pessoa possa entender se a sua habitação tem um risco considerável e, em caso afirmativo, que decisões poderão ser tomadas para mitigar esse risco", frisa. Em Portugal o OpenQuake prevê que um terramoto igual ao de 1755 possa provocar mais de 10 mil mortes.

Fonte: Expresso

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.