Os resultados do primeiro ano do Golden Visa são positivos e reveladores de uma forte vontade dos investidores chineses em vir comprar imóveis a Portugal. Mas o país tem ainda muito para crescer neste mercado.
Ou, pelo menos é esta a opinião do secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), Sérgio Martins Alves, que foi o orador convidado pela revista Vida Imobiliária num encontro realizado no passado dia 21 em Lisboa, sob o mote “O Investimento Chinês no Imobiliário Português: Que Caminhos”. O evento, que teve lugar no Hotel da Estrela, reuniu ao almoço perto de uma centena de profissionais do setor, confirmando a importância do mercado chinês para a revitalização das vendas de imóveis no nosso país.
O programa do Golden Visa veio abrir uma importante janela de oportunidade na China ao setor imobiliário português, mas a verdade é que há ainda um longo caminho a percorrer para que o nosso país possa aproveitar ao máximo o potencial vindo do Oriente, considera Sérgio Martins Alves.
E desengane-se quem pensa que este é um fenómeno de curta duração, avisa o responsável. Muito pelo contrário, diz, garantindo tratar-se de “um fenómeno muito mais duradouro do que o poderíamos supor inicialmente”, além de que “parte destes cidadãos chineses que chegam a Portugal pela via da compra de imobiliário, deverá mesmo tornar-se um pequeno investidor no nosso país”.
Ilustrando este interesse vindo do Oriente, o responsável da CCILC contou à plateia que “logo no início do programa fomos contactados por uma agência de emigração chinesa que estimava trazer cerca de 1.000 milhões de euros de investimento para Portugal pela via do Golden Visa no curto e médio prazo”. Um número que retrata bem a atual vontade e disponibilidade que os chineses têm direcionar capital para o exterior, e que já uma realidade bastante expressiva em regiões como a Nova Zelândia ou na Flórida, por exemplo.
Tendo isto em conta, aliada à “enorme dimensão” do capital disponível na China, o secretário-geral da CCILC considera que “ao final de um ano, 400 vistos não é nada, comparativamente ao peso que este tipo de investimento pode atingir”.
Empresas de origem chinesa são as que melhor têm sabido aproveitar a oportunidade
Funcionando como posto de observação do negócio bilateral entre Portugal e a China, a Câmara de Comércio Luso-chinesa tem notado que “quem melhor tem sabido capitalizar esta lei são as empresas portuguesas pertencentes a chineses de segunda geração”, o que não surpreende o responsável.
É que para saber capitalizar da melhor forma a oportunidade que o mercado chinês representa, há que conhecer extremamente bem a forma como ele funciona, e que é bem diferente da realidade portuguesa, explicou Sérgio Martins Alves. Desde logo com a importância que as agências de emigração desempenham na China, sendo um parceiro decisivo para quem quer vender casa a este mercado.
Estas entidades, explicou, exercem um papel dominante “na forma como se processa a compra e venda de casas no exterior do país a pequenos investidores”, selecionando previamente um leque de mercados e de oportunidades imobiliárias que lhes serão apresentadas. Uma realidade que se torna tanto ou mais importante quando percebemos que “quem conduz a procura de imobiliário para Golden Visa são sobretudo novos ricos, ou seja, cidadãos chineses com muito poder aquisitivo mas que não falam inglês e que por vezes têm pouco conhecimento acerca dos outros países; depositando nessas agências grande confiança e contratando-as para os ajudar a procurar e encontrar um ativo onde investir o seu capital de forma segura”.
Contudo, a forma de trabalhar desses intermediários é diferente do que é hábito em Portugal, o que pode causar servir de entrave aos vendedores portugueses, que vêm as suas margens diminuídas, salientou o secretário da CCILC. É que as agências “trabalham com comissionamentos que começam nos 14 ou 15 por cento e que geralmente podem ir aos 25- 30 por cento”, ou seja, bastante acima do que é comum em Portugal.
A questão, alerta Sérgio Alves, é que “se não percebermos como atacar diretamente esta franja da imigração a partir daqui, é possível que comecemos a assistir à chegada de grandes fundos, como por exemplo veículos sedeados em Hong Kong ou Macau, que vêm para Portugal comprar produto imobiliário por atacado e com desconto, para depois o revender a retalho aos pequenos investidores chineses”, uma situação que, a tornar-se dominante no mercado, afetará a rentabilidade do negócio para as empresas portuguesas. Daí a necessidade flagrante do setor imobiliário português “se agregar e unir esforços para poder penetrar de forma mais eficaz e direta na China”.
Quem é o investidor chinês que vem comprar casa em Portugal?
Na ocasião, o Secretário-Geral da CCILC traçou o retrato do pequeno investidor chinês interessado em comprar casa em países como Portugal. “Em primeiro lugar, trata-se de alguém da classe média-alta, abastado. Depois, há que ter em conta que embora toda a evolução verificada nos últimos anos, o sistema político chinês tem algumas particularidades que impedem, por exemplo, que um cidadão, mesmo que abastado, compre casa ou frequente o ensino fora da região onde está recenseado. Por isso, ter casa, algo seu, é uma coisa muito importante e valorizada para estas pessoas, ainda mais quando se tratam de jovens famílias interessadas em ter mais do que um filho e que vêm no estrangeiro uma oportunidade para isso”. Sem esquecer que “a possibilidade de ter um visto português que lhes confere livre acesso à Europa e a zonas económicas como Macau é muito aliciante para estes investidores, que também têm interesse em retirar algum capital da China”.
Fonte: Público
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