As famílias pagam, em média, 100 milhões de euros em juros todos os meses aos bancos. Este valor, uma fracção do que pagavam em 2008, reflecte a queda das taxas, mas também da redução das dívidas e do menor número de empréstimos.
Todos os meses há mais de 1,5 milhões de famílias a pagarem as prestações dos créditos contraídos para comprarem casa própria.
Entregam mais de 400 milhões de euros aos bancos, mas é cada vez maior a "fatia" que fica para as instituições financeiras. Com as taxas de juro em mínimos, a maior parte está a amortizar os empréstimos, sendo que para os bancos ficam pouco mais de 100 milhões, cerca de 75% menos do que estes encaixavam com juros em 2008.
Pelo menos desde que existe o euro, os bancos nunca receberam tão pouco pelos juros associados ao crédito à habitação. De acordo com os dados do Banco de Portugal, cruzados com os do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), a factura mensal com juros ascendia a 107,2 milhões de euros no final do ano passado. Assistiu-se a uma quebra de 30% face a 2012, numa tendência que já vem desde 2008. Nesse ano, marcado pelo rebentar da crise financeira, os bancos chegavam a encaixar 409 milhões de euros com juros.
A quebra de 73,8% face a esse pico reflecte, em grande parte, a forte redução das taxas associadas aos contratos de credito à habitação em Portugal. À data, a taxa do BCE estava acima de 4%, sendo que com o colapso do Lehman Brothers os juros interbancários alcançaram recordes. Desde então, as taxas de mercado corrigiram até mínimos históricos. Isso vê-se nas taxas implícitas nos créditos, que rondam os 1,5%. Neste sentido, em média, os juros pagos pelas famílias são agora apenas 27% da prestação.
Com a maior "fatia" da mensalidade a ser utilizada para amortizar o empréstimo, o valor em dívida pelos portugueses diminuiu, ajudando a encolher o encaixe para a banca. No total, as famílias devem cerca de 88,9 mil milhões de euros das casas que compraram a crédito. Em 2012 deviam 95 e em 2011 mais de 100 mil milhões de euros, de acordo com os cálculos realizados pelo Negócios. O montante médio em divida está nos 57.268 euros, o mais baixo desde 2008.
Este maior ritmo de amortização tem pesado nas contas da banca pelos menores juros que o sector recebe, mas também pelo facto de, assim, mais famílias estarem a conseguir saldar a divida contraída para a compra de casa própria. No final de 2013, segundo o Relatório de Acompanhamento dos Mercados Bancários de Retalho, divulgado na semana passada, havia 1.553 milhões de contratos de crédito à habitação, menos 84 mil do que em 2012, ano em que já tinham sido saldados outros 69 mil empréstimos.
Para esta quebra no número de contratos de crédito à habitação em vigor para mínimos de 2005, além da amortização, tem contribuído, nos últimos anos, o facto de os bancos terem fechado a "torneira" do crédito, nomeadamente para a compra de imóveis, por dificuldades de financiamento nos mercados internacionais. Com a melhoria da situação, a banca está, aos poucos, a voltar a emprestar para a compra de casa, mas com margens mais elevadas que há alguns anos. Uma política que torna mais onerosa a aquisição, mas que o sector necessita para conseguir apresentar rentabilidade (atenuando o impacto dos "spreads" de quase 0%) num contexto ainda adverso para o sector financeiro em Portugal.
Fonte: Negócios
0 comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.