20 dezembro 2014

Balanço de 2014: Vendem-se 239 casas por dia


O ano 2014 foi cheio de surpresa boas mas também muito más para o mercado imobiliário. Marcou pela positiva desde logo pela consolidação da retoma imobiliária após um 2012 e um 2013 negros, esperando-se que este ano o número de casas transacionadas chegue às 87.254. Estimativas cedidas pela APEMIP (Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal) mostram, assim, que por dia e em média foram vendidas 239 casas novas e usadas. Deste total calcula-se que cerca de 50 tenham sido compradas por estrangeiros.


Um número ainda longe das quase 130 mil que foram vendidas ao longo de 2010, mas com um acréscimo positivo quando a comparação se faz com o ano passado, que encerrou com apenas 79.775 imóveis transacionados. Ainda nas novidades positivas que marcaram o ano, mereceu destaque o frenesim que o mercado imobiliário português tem gerado junto dos estrangeiros. Os vistos gold (onde os chineses se evidenciaram), o regime do Residente Não Habitual (que cativa cada vez mais franceses) e também o regresso de quem sempre escolheu Portugal para viver a reforma dourada (os britânicos) permitiram a venda de 23 mil imóveis, 22% do total das 103.300 casas, lojas e escritórios transacionados este ano em Portugal.

Luís Lima, presidente da APEMIP, estima que 80% destes 23 mil imóveis adquiridos por estrangeiros serão habitações "ainda que exista um número crescente de investidores chineses a comprar lojas para arrendar". Uma estimativa que aponta assim para cerca de 18.400 casas compradas pelo mercado externo, uma média que ronda as 50 por dia.

Fazendo a média, os estrangeiros adquiriram 63 imóveis por dia. Destes 23 mil vendidos ao longo do ano, 23% foram comprados pelos britânicos, 18% pelos chineses, 16% pelos franceses, 7% pelos brasileiros, distribuindo-se os restantes 36% por diversas nacionalidades. 

Luís Lima sublinha que "2014 foi o ano da recuperação" mas que poderia ter sido melhor. "Estimamos um aumento de transações a variar entre os 9% e os 15% mas se não fosse os casos dos vistos gold e do BES chegaríamos facilmente aos 25%", diz este responsável. Os estilhaços do caso BES junto do sector imobiliário, em agosto, e o mais recente abalo provocado pelas suspeitas de corrupção do então diretor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e do presidente do Instituto dos Registos e Notariado, no mês passado, provocaram um impacto desacelerador no sector.

"Em maio e junho havia um clima de confiança muito positivo junto do mercado interno e externo. Mas em agosto, aconteceu o caso BES, que não é um banco qualquer. E isso foi tremendo para o sector. Só aí ficaram milhares de escrituras bloqueadas", diz Luís Lima. Três meses depois estalou a polémica com os vistos gold. Um caso que lançou a discussão sobre a manutenção desta medida que concede a autorização de residência e o acesso ao espaço Schengen a cidadãos extracomunitários que adquiram um ou mais imóveis de valor superior a meio milhão de euros. "O processo de obtenção de um visto gold não é difícil. Qualquer imobiliária contrata um advogado por €2.500 que trata todo o processo em mês e meio, caso reúna todos os critérios a aprovação. Portanto, nesta polémica recente não sabemos o que se está a passar mas calculo que tenha a ver com a aprovação de vistos que não tinham condições para o ser", vaticina Luís Lima, acrescentando que importante agora é apurar responsabilidades rapidamente.

"Se alguém errou, inclusive algum associado da APEMIP, deve ser penalizado. Mas não faz sentido retirar o programa do imobiliário. Surpreende-me até que se pondere tal coisa pois pensei que já se tinha percebido a importância dos vistos gold para o sector". 

O número de imóveis vendidos a chineses durante este ano revela o impacto desta medida junto do mercado e o seu efeito multiplicador. Segundo a APEMIP, os chineses adquiriram 4.140 imóveis durante o ano. E, segundo dados oficiais, desde a entrada em vigor desta medida, em outubro de 2012, e igual mês deste ano, foram concedidos 1.681 vistos por aquisição de imóveis. "Isto significa que o potencial de um visto gold é multiplicado por quatro ou cinco. Ou seja, há neste momento muitos investidores chineses que compram dois ou três imóveis. E há aqueles que até compram prédios inteiros com 30 ou 40 frações. Ou seja, não se trata só de obter o visto. Eles estão a investir muito só para rendimento", sublinha o responsável.

Portugueses asseguram 80% do mercado 

A agitação provocada pelas detenções de Jarmela Paios e António Figueiredo no início de novembro trouxeram uma acalmia súbita ao sector durante esse mês. Mas os resultados de outubro - "que foram excelentes" - e o retomar do ritmo normal de transações, já em dezembro, acabaram por cumprir a regra das compensações. 

O que leva Luís Lima a dizer que Portugal continua na moda. "Temos um potencial enorme. O que sei é que o mercado está a ficar mais maduro, mais imune e aguenta tudo". Apesar do grande estímulo gerado pelos estrangeiros, os portugueses continuam a absorver cerca de 80% das vendas de casas. O fenómeno ainda recente das dações de imóveis e da perda das casas a favor dos bancos devido a incumprimentos das prestações bancárias, não parece ter ficado na memória e muitos recorreram ao financiamento da banca. "Os bancos começam a lidar com o mercado de forma normal. Já concedem crédito à habitação que não seja só para os seus ativos.

As taxas de juro já são bastante razoáveis. Isso tudo ajuda o mercado a resistir", diz o presidente da APEMIP. Se não fosse o caso BES, reforça, ainda haveria mais movimentações. "Em junho tive a indicação de que um dos maiores bancos nacionais ia fazer uma grande campanha durante o mês de agosto para captar mais crédito à habitação. Mas por causa do BES, não avançou. Mas também não é preciso porque os clientes estão na mesma a entrar e a pedir crédito à habitação". Para 2015, a perspetiva é de crescimento. "Só espero é que não aconteça mais nenhum polémica no país", remata Luís Lima.

Fonte: Expresso

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.