Em 2014 a compra de casa iniciou a retoma, acompanhando a maior abertura do sector financeiro na concessão do crédito bancário. Um facto que pode ter colocado um travão na afirmação do mercado do arrendamento, que continua a pautar-se pelo desajustamento entre a procura e a oferta. Ao mesmo tempo, verifica-se a quase inexistência de oferta de casas, com rendas inferiores a 500 euros, destinadas a uma camada média e média baixa da população.
João Pereira, 35 anos, técnico de saúde, decidiu que tinha chegado a hora de arrendar uma casa maior. A zona estava identificada, mas a procura acabou por mostrar outra realidade: afinal podia comprar a casa desejada pagando um valor de prestação, ao banco, semelhante ao estava a pensar dispor no arrendamento. Nem a entrada foi problema, porque tratando-se de uma casa de retoma, o banco facilitou todo o processo.
O exemplo, baseado num caso real, serve para ilustrar a nova realidade que vive o mercado imobiliário. numa altura em que o arrendamento habitacional começava a ser uma opção de negócio - impulsionando a reabilitação das casas nos centros das cidades, onde existe grande procura - a venda passou a ganhar um novo fôlego, ocupando um espaço que tinha sido deixado vago pela quase impossibilidade de conseguir crédito bancário por parte das famílias, que aconteceu, especialmente, nos anos de 2011 a 2013. E quando o valor a pagar pela prestação na compra de casa consegue competir com o valor do arrendamento, é fácil adivinhar quem sai vencedor.
Esta nova realidade é confirmada pelo departamento estatístico da Apemip, que alerta para a retoma na venda de casas em detrimento do arrendamento, que é já visível. De acordo com o presidente, Luís Lima, ''durante o ano de 2014, começou a verificar-se uma diminuição da representatividade do arrendamento urbano, em prol do mercado de compra e venda e começámos também a assistir a alguma movimentação, por parte do sector financeiro, no sentido de retomar o acesso ao crédito à habitação".
Luís Lima adverte, "para que exista uma verdadeira dinamização deste mercado, será necessário baixar os preços das rendas, dos chamados arrendamentos novos, para valores competitivos face aos de uma prestação bancária de um crédito habitacional, numa diminuição que deveria chegar aos 30 ou 40% nos segmentos médio e médio baixo".
O aumento da venda de casas, que se prevê venha a ser incrementada ainda mais este ano, pode deitar por terra todas as medidas de incentivo ao arrendamento e impossibilitará de vez a resolução dos estrangulamentos que vive este mercado.
Em primeiro lugar, o facto de a oferta estar desajustada do procura. Em distritos como Bragança, Portalegre, por exemplo, a procuro é quase residual para a oferta existente. Contudo, em regiões como Lisboa e Porto, acontece precisamente o contrário: há uma maior incidência por parte da procura, revelando-se a oferta existente insuficiente e divergente das necessidades expressas pelas famílias, sobretudo em termos de valores de rendas.
"Tal como tenho dito por diversas vezes, como as casas não têm rodas e não podem deslocalizar-se para se oferecerem onde a procura pressiona mais, seria necessário inverter a tendência das movimentações demográficas em Portugal, que continua a ser do interior para o litoral, ou seja, das regiões onde há oferta mas não há procura, para as regiões onde há procura mas não há oferta", alerta Luís Lima.
Oferta cara e escassa em Lisboa
Num contacto com algumas mediadoras que trabalham o mercado do arrendamento a ideia deixada é que o oferta é, de uma forma geral, escassa para a procura que existe, especialmente na cidade de Lisboa. A maior oferta concentra-se, especialmente, em localidades fora da cidade, mas onde a deslocação é um dos principais entraves à concretização do arrendamento.
Nas melhores zonas da cidade a oferta é cara, sendo que os jovens e casais novos que a procuram não a podem pagar. De acordo com Mário João Mateus, consultora da Markiclasse, empresa de mediação, as casas localizadas nas zonas de maior procura da cidade de Lisboa, caso do Parque das Nações, atingem rendas superiores a 700 euros (T1) ou 900 euros (T2), em locais mais afastados do rio, porque nos condomínios à beira rio as rendas andam entre os 1.000 euros e os 1.200 euros (T1 e T2) e disparam para os 2.000 euros em empreendimentos de luxo, como é o caso das torres Vasco da Gama.
As zonas tradicionais, como as Avenidas Novas, são procuradas por pessoas com um maior poder de compra, sendo que aí um apartamento T2 ou T3 tem urna renda média de 2.000 euros.
Na zona da Baixo/Chiado a pouca oferta que aparece, com valores de renda mais competitivos, é absorvida rapidamente, já que a procura, constituída especialmente por casais jovens e estrangeiros, é muito grande
José Matos, responsável da mediadora Comprar Casa Villa Palace, considera que existe, nesta zona, "uma alta pressão, porque as pessoas procuram com alguma intensidade, mas não encontram facilmente". A oferta é constituída, especialmente, por algumas frações, em prédios recentemente reabilitados.
Paulo Carvalho, da loja da ERA Chiado/Lapa, confirma a grande procura que existe na zona da Baixa de Lisboa, sendo que também aqui os valores de renda para tipologias pequenas são superiores aos 600 a 700 euros mensais. Existe também um arrendamento de gama alta, em condomínios de luxo, "cujos valores de renda rondam os dois mil euros, atingindo por vezes os quatro mil euros", adianta Paulo Carvalho.
Baixa do Porto com grande procura
A Baixa do Porto é uma das zonas da cidade onde a procura de casas para arrendar é grande, sendo que a oferta que aparece é rapidamente absorvida. Este facto leva a que a oferta de apartamentos turísticos seja muitas vezes uma das formas encontradas pelos jovens e estrangeiros para resolver o problema da falta de alojamento no mercado tradicional de arrendamento. De acordo com Manuel Negrão, responsável da Casa Foz, empresa com grande tradição no mercado do arrendamento, a escassez de oferta nesta zona pode tendencialmente "fazer subir um pouco os preços".
A procura de casas para arrendar é também muito significativa na zona da marginal do Porto e Matosinhos, alimentado, especialmente, pelos estudantes universitários e profissionais liberais. Contudo, Manuel Negrão considera que, nesta zona, onde a oferta também não é muita, os valores de renda mantém-se estáveis. Dinis Fraga, responsável da mediadora Frontal, confirma que "existe uma dinâmica própria no centro da cidade em especial na Baixa portuense", onde há uma tendência de aumento de preço das rendas.
Contudo, considera que "tem sido surpreendente a procura noutras zonas consideradas menos apetecíveis, menos centrais e até em outros concelhos do Grande Porto". na opinião de Dinis Fraga é preciso colocar no mercado mais oferta, "quer na quantidade de imóveis quer na diversidade de destino de utilização e de tipologias".
Fonte: Magazine Imobiliário
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