A maioria são agentes. Mas há também coordenadores de loja, advogados, solicitadores e responsáveis por obras. Estas são algumas das profissões que a Remax vai recrutar em 2015. Cerca de 1,5 mil milhões de euros. Foram estes os valores atingidos pela Remax Portugal, no ano passado, que a levaram a ser eleita a melhor do mundo.
Bateram 90 países, alguns com seis vezes mais habitantes e que não estão em crise, como a Alemanha ou a Suíça. E o crescimento, este ano, vai continuar com a abertura de mais lojas e o recrutamento de quase 550 pessoas, revela Beatriz Rubio, CEO da empresa em entrevista ao Capital Humano do ETV. Cerca de 500 são agentes, sem remuneração fixa e que ganham à comissão e os outros 50 das restantes especialidades.
Como explica este crescimento de quase 40% no volume de vendas num ano de crise?
É o resultado de um trabalho que vimos a fazer desde 2008. Quando começámos a sentir os primeiros sinais de crise, alterámos a nossa forma de trabalhar. Apostámos no arrendamento e começámos a vender os imóveis da banca. A partir do final de 2012, começou a surgir o investimento estrangeiro, com a legislação dos "vistos gold". Portugal é dos países que melhor trabalhou este sistema.
Estamos a falar da China, mas também de outros mercados?
São todos os mercados de estrangeiros que pretendem obter um visto português, um passaporte para a União Europeia. Não apenas os mercados asiáticos, mas também os Emirados Árabes Unidos, a África do Sul e o Brasil. Mas todos estes consumidores compram de forma diferente. Por exemplo, os brasileiros compram com o projecto ainda em planta. Já o mercado asiático tem que ver o imóvel pronto, acabado, bonito e novo.
Mas há outros mercados internacionais?
Desde há um ano e meio, tem havido uma afluência muito forte de volume considerável de vendas do mercado francês. Trazem o dinheiro em mão, que representa as poupanças de toda a vida e têm a lembrança de ter passado férias em Portugal. Por isso querem cá passar a a reforma, porque é um excelente país para viver, pelo bom clima, pela comida excelente e pelo povo que sabe receber muito bem.
Os franceses compram fundamentalmente para ficarem isentos do pagamento de IRS...
Sim. Porque assim recebem a pensão em bruto. Mas estes compradores tem um comportamento completamente diferente. Compram casas totalmente em ruínas, que refazem e reconstroem. Porém o mercado mais forte continua a ser o nacional. "Muita sardinha e carapau faz vender muito no final", é a expressão que costumo usar. Temos que saber servir do cliente que compra uma casa de cem mil euros ao cliente que compra uma cada no valor de um milhão de euros.
Como se explica esse fenómeno numa altura de crise?
Vendemos muitas casas dos bancos enquanto não houve crédito hipotecário. Mas posso anunciar já que começa a haver a abertura do crédito hipotecário. Observo as tendências dos mercados, falo semanalmente com os bancos que estão a voltar a emprestar dinheiro ao consumidor, o que reanima o mercado imobiliário. E quando reanima o mercado imobiliário, reanima a economia.
E o primeiro sinal de recuperação da economia é a recuperação do imobiliário...
Por exemplo, como Remax posso dizer-lhe que se houvesse mais construção nova na Expo, e ainda há terrenos para construir, estaria toda vendida a portugueses e estrangeiros. Neste momento já temos falta de produto.
Este crescimento significa que vão recrutar em 2015? Quantas pessoas?
Entre 450 e 550 pessoas durante este ano. Desde agentes a coordenadores de loja, advogados a solicitadores até pessoas que asseguram as obras nas casas. Porque hoje os conceitos das lojas são muito mais desenvolvidos. Tenta-se dar o máximo ao cliente.
Como foi receber o prémio de melhor Remax do mundo?
Foi tão emocionante como o dia em que me casei. Saí do quarto com uma bandeira grande de Portugal pendurada. E coloquei seis mil pessoas a gritar: Portugal! Quem estava na Convenção Internacional da Remax, em Las Vegas nunca mais se vai esquecer do país , porque ganhamos tudo. O prémio foi um reconhecimento para mim e para todas as pessoas que fazem parte da Remax Portugal da luta e trabalho diário que temos tido durante todos estes anos. Portugal tem sofrido e ainda continua com uma crise forte. Não podemos mudar as condições exteriores, mas a nossa atitude interior. Esse é o discurso que faço aos trabalhadores da Remax Portugal: "Não se deixem influenciar pelo clima exterior e trabalhemos o que podemos: prestar um bom serviço ao cliente, formação e vendas".
Quais são os critérios deste prémio?
É considerado o volume bruto de facturação, o que significa que a dimensão dos países não é tida em conta. Os portugueses conseguiram ser eleitos os três melhores vendedores da Remax do mundo e também a melhor loja do mundo.
PERFIL
Uma força da natureza
"Os problema são os problemas e a felicidade é a felicidade". Esta foi a frase que Beatriz Rubio escreveu com batom no espelho da casa de banho para nunca se esquecer de pensar positivo. "Sonhar acordada" é a sua bandeira. O que significa ter um objectivo e traçar uma estratégia para lá chegar. É o conselho que dá para quem quer ter sucesso. Uma verdadeira força da natureza, que nasceu em Espanha, mas depois de 20 anos em Portugal já se sente mais portuguesa. Licenciada em Gestão pela Universidade de Saragoça, tirou o MBA do IESE.
Começou a sua carreira na L´Oréal em Espanha, em 1990. Três anos depois veio para Portugal, por razões familiares. Assumiu uma direcção na Perfume e Beauté. O passo seguinte foi a Jerónimo Martins onde assumiu a direcção da marca Recheio. Em 2002 entrou na Remax Portugal com a responsabilidade do marketing e sector financeiro. Sete anos depois, assumiu o lugar de CEO. Há dois anos, lançou a "Motiva-te" para ajudar as equipas comerciais a atingir os resultados. O seu percurso é um exemplo de caminho para o sucesso. A motivação das equipas é o segredo que levou a Remax Portugal a ser eleita a melhor do mundo, batendo 90 países, como a Alemanha e a Suíça. Beatriz é casada e mãe de três filhos.
"Se eu consegui, também vão conseguir!"
Motivar continuamente é o segredo para ter sucesso durante a crise, diz Beatriz Rubio.
"Durante anos, limitei-me a mim própria e assim não conseguimos chegar longe", diz Beatriz Rubio. "Mas cada um pode chegar onde quer, basta ter um sonho, desenhar uma estratégia e passar à acção".
A palavra-chave é a motivação e a Beatriz é uma motivadora nata...
Adoro motivar! "Tu é que fazes a tua vida", foi a conclusão a que cheguei. Tu assumes as consequências das decisões que tomas! A situação pode estar boa ou má, mas não é uma crise que me vai parar. Não nos podemos deixar influenciar pelo exterior.
Como é que se resiste a este ambiente exterior que é tão negro em Portugal?
Motivando continuamente. Todos os meses tenho sessões de motivação interna para que os agentes se foquem neles, nos seus clientes e no seu serviço. Porque o facto é que há muitas pessoas a querer vender e muitas que querem comprar. O que temos que fazer é o casamento.
A Beatriz é espanhola. Que conselhos daria aos portugueses para darem a volta à crise?
Os portugueses também são assim! Os meus colaboradores e quem me rodeia também são assim! É uma questão de contágio. Quando entramos numa onda de considerar tudo negativo, o que já me aconteceu, ela vai crescendo até que quase nos afoga. O que digo a mim própria é : "Eu já te ouvi, e agora desaparece!". E depois começar a pensar positivo.
Que conselhos daria às portuguesas que são uma minoria no topo das empresas?
Para além de receberem menos que os homens. "Durante muitos anos, limitei-me a mim própria. Não precisava de mais ninguém para me limitar. Tenho filhos e uma casa e perguntava-me: como vou chegar a directora-geral de uma empresa ou administradora ou CEO?". Este pensamento limita. Buda dizia: "Não existe pior inimigo que o teu próprio pensamento!". E isso é mesmo verdade. Se te limitas com os teus pensamentos não poderás chegar muito longe. Cada um pode chegar onde quer. É tudo uma questão de acreditar e pormo-nos em acção. Ou seja, sonhar de olhos abertos. Sonhar e passar à acção.
Ter sonhos, desenhar uma estratégia e passar à acção...
Especialmente para as mulheres, que nos limitamos muito por causa da família, dos filhos e por ser mulher. Ontem fiz oito entrevistasa quatro homens e quatro mulheres. As quatro mulheres foram as escolhidas para passar à fase seguinte. Por isso, mulheres não se deixem ficar para trás! A mulher é muito determinada e tem a capacidade 'multi-task' que o homem não tem. Se eu consegui, também vão conseguir!
Fonte: Diário Económico
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