14 abril 2015

Como estão a viver os portugueses com juros a zero?


Com as taxas em queda livre, a compra de carros e de casas e o turismo estão novamente em alta. Mas os empréstimos às famílias ainda estão a cair. São indicadores em destaque e que chamam a atenção para a recuperação do consumo privado em Portugal: as vendas de automóveis ligeiros estão a crescer acima dos 30%, o turismo interno está a subir a dois dígitos e o número de casas vendidas para habitação recuperou para os níveis anteriores ao resgate internacional.


Numa conjuntura marcada por taxas de juro muito baixas - as taxas Euribor estão até em terreno negativo nos prazos mais curtos -, inflação negativa e alguma recuperação da economia, as famílias responderam com um aumento do consumo, em particular de bens duradouros. Até porque há várias empresas com campanhas "juro zero" nas aquisições a crédito. No sector automóvel, por exemplo, essa é já a regra. 

A reação dos consumidores é racional, consideram os economistas. Esta evolução "é compatível com algum aumento do rendimento e com melhores condições de crédito", aponta Miguel St. Aubyn, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão. Afinal, as baixas taxas de juro tornam o financiamento mais barato e a poupança menos atrativa - as taxas de juros dos depósitos a prazo estão a caminho de zero. Além disso, na prática, aumentam o rendimento disponível das famílias, através da redução das prestações de crédito. Se a isto somarmos a reversão dos cortes salariais sobre os funcionários públicos e o fim da contribuição extraordinária para a maioria das pensões, numa altura em que a confiança dos consumidores está no valor mais elevado desde abril de 2002 (alicerçado na melhoria das expectativas sobre a evolução do desemprego), temos reunidas as condições para uma recuperação do consumo.

Turismo, casas, carro, o consumo passa por aqui
É pela aquisição de bens de consumo duradouro e pelo turismo que passa muito do aumento do consumo privado em Portugal nos últimos meses. A compra de automóveis e de casas, bem como de equipamentos eletrónicos e de eletrodomésticos, regista taxas de crescimento expressivas. Foi também por aqui que passaram as maiores quedas no consumo durante os anos da troika, marcado pela austeridade. Uma tendência comum ao turismo dos portugueses: depois da retração, chegou a recuperação. Nota ainda para os combustíveis: a queda no consumo foi, por fim, estancada em 2014. E no início de 2015 verificou-se já um aumento no caso do gasóleo.

Casas
Em 2014 transacionaram-se 84.215 casas, mais 4.440 que no ano anterior. Apesar da recuperação, os valores estão ainda muito aquém das quase 130 mil habitações que se venderam em 2010, antes do resgate, quando os bons ventos do crédito sopravam com força. Mais comedidos, os bancos começam, no entanto, a retomar o financiamento a particulares. A maioria baixou os spreads no crédito à habitação, alguns abaixo mesmo dos 2%. Apesar de não existirem ainda dados sobre 2015, Luís Lima, presidente da APEMIP Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal garante que o primeiro trimestre "foi bom". "Temos sinais de que há mais operações, mais investimento estrangeiro e mais crédito concedido pela banca. Há bancos que aumentaram em 80% a sua produção".

Fonte: Expresso / Ilustração: Paulo Buchinho

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