18 abril 2015

Taxas de juro negativas!


Quem não se lembra do tempo em que a compra de casa era quase a única solução para ter habitação e, apesar das taxas de juro elevadas e do esforço financeiro que a contratação de um crédito pressupunha, a prestação mensal desse crédito era mesmo assim bastante inferior às rendas praticadas?


Muita coisa mudou desde esse tempo. Há alguns anos, o sobreendividamento das famílias, a crise económica, o crescimento do desemprego, a subida dos juros, os incumprimentos e a saturação do mercado imobiliário levaram os bancos a restringir o crédito à habitação e criaram as condições para o ressurgimento do mercado do arrendamento que, entretanto, após as alterações legais e fiscais realizadas, ganhou uma dinâmica assinalável.
Mas nada dura para sempre e as condições não param de se alterar. Assim, quando parecia estar a estabelecer-se uma nova normalidade no mercado imobiliário, eis que as taxas de juro caem para terreno negativo e o mercado imobiliário ganha um atrativo para os investidores que até há bem poucos meses parecia impossível. Da mesma forma, comprar casa a crédito pode tornar-se novamente a melhor opção para as famílias com rendimentos médios e uma situação profissional estável.
Será que vamos voltar ao antigamente? Sinceramente, não nos parece uma hipótese razoável. Desde logo porque a banca não terá o mesmo tipo de permissividade e até leviandade na concessão de crédito. Depois, porque não existe uma dinâmica de crescimento económico que possa alterar rapidamente a situação de declínio demográfico em que nos encontramos, o que, apesar do crescimento esperado da procura de imóveis para rendimento ou como simples refúgio de valor, acaba por constituir um travão à sua valorização excessiva e ao aumento das rendas.
Aquilo que poderemos esperar é o regresso a um saudável apetite, quer por parte dos investidores, quer por parte da banca, pelos ativos imobiliários, permitindo a recuperação do seu valor económico e social e tornando as famílias, as empresas e o país mais ricos e menos endividados.
Mais importante, este novo interesse pelos imóveis e pelos projetos imobiliários irá criar novas condições para que, finalmente, a reabilitação urbana aconteça e, se houver visão, para progredir numa estratégia de regeneração das cidades para que se tornem mais sustentáveis e competitivas.
Regenerar não é só colocar uns “gadgets” tecnológicos em cima dos edifícios, implica repensar e redesenhar a cidade, atribuir eventualmente novas funções a parte do que já está construído, adaptá-lo, promover novas formas de articulação e mobilidade entre espaços urbanos, demolir e construir novo, com nova arquitetura e novos materiais. 

E aí sim, haverá espaço para fazer crescer a oferta. Uma oferta que tem procura, porque irá atrair novos residentes e novas atividades económicas. O próprio processo de regeneração contribuirá para alimentar esta procura.
Investir nas cidades e nas infraestruturas não é um desperdício. É uma necessidade para o país se manter na rota da competitividade e para induzir outros investimentos.
E é preciso não esquecer que para as empresas desta fileira, uma das mais importantes em qualquer economia desenvolvida e cujas exportações já representam mais de 10% do total das exportações nacionais, a reabilitação e a regeneração urbana são a base essencial para fortalecer as suas competências e demonstrar soluções inovadoras e com valor acrescentado com que podem concorrer lá fora.

Por José de Matos, Secretário-geral da APCMC – Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção

Fonte: Vida Económica

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