11 junho 2015

Imobiliário sustentável: entre o ruído e oportunidade?


A sustentabilidade como conceito derivado de “sustentar” ou manter ganha cada vez mais importância no léxico dos vários setores incluindo, o imobiliário onde é utilizado em vários contextos, desde ser economicamente sustentável até à interpretação e aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável.
É incontornável que uma pesquisa em publicações e noticias de há dez anos e de hoje possam revelar uma utilização exponencial dessa denominação e conceito embora ainda não seja o mainstream, pelo menos em Portugal.

A questão que se coloca é a sua utilização crescente em consequência de uma tendência que se encontra na “moda” e por isso introduz um ar de modernidade à denominação. Poderá ser esta uma das explicações? A utilização do conceito de sustentabilidade no imobiliário de forma parcial (apenas para uma dimensão) ou não fundamentada comprova esta perspetiva, de não ficar “démodé” e lança, muitas vezes, o ruído sobre o que é sustentabilidade.

Já em Portugal e internacionalmente ganham importância a utilização da denominação sustentabilidade na lógica do imobiliário sustentável tendo em conta os bons desempenhos nos vários setores, energia, água, materiais e sócio económicos. Esta perspetiva promove a criação de valores que vão beneficiar os promotores, os proprietários e utilizadores em geral, fomentando um melhor desempenho, equilíbrio ambiental e económico para as sociedades que adoptarem estes princípios de sustentabilidade.

Esta abordagem de sustentabilidade consistente é por vezes encoberta. Parafraseando Eça de Queirós na sua obra a Relíquia “Sobre a nudez crua da verdade, o manto diáfano da fantasia”. Assim, a realidade e potencialidade da sustentabilidade é por vezes ofuscada pela fantasia ou ruído e uso abusivo do termo sustentabilidade, levando mesmo ao designado uso abusivo (“greenwashing”) dizendo ser sustentável porque tem apenas um aspecto pontual, como umas plantas ou materiais amigos do ambiente ou mesmo porque está pintado de verde.

Não basta dizer que é sustentável, é necessário comprovar. Para este objetivo tem-se vindo a afirmar os sistemas voluntários de avaliação e certificação ambiental e da sustentabilidade como é exemplo, BREEAM, LEED e LiderA, que podem ter um duplo contributo no desenvolvimento imobiliário escolhendo soluções mais eficientes e oferecendo ao mercado opções mais sustentáveis e com menos impacto no meio ambiente.

Um exemplo é o sistema nacional voluntário LiderA, que disponibilizou a sua primeira versão pública em 2005 que se centrava nas questões ecológicas e, a sua segunda versão, cinco anos depois em 2010 que já procurava evidenciar o grau de sustentabilidade. O sistema orienta para assegurar uma boa integração local, ser eficiente no uso dos recursos com energia, água e materiais, reduzir as cargas, potenciar o conforto de forma passiva e as boas vivências sócio económicas.

Esta abordagem do LiderA permite avaliar e certificar a sustentabilidade desde a fase de projeto, da obra ao edificado existente ou sua reabilitação. A análise da sua aplicação a centenas de casos do sistema LiderA desde 2005 a 2104 revela a sua crescente evolução nas várias fases do ciclo de vida, nas várias escalas, nas várias tipologias, bem como a sua adaptabilidade à realidade nacional, com uma escala de desempenho que potencie a escolha viável de soluções para cada caso.

Um análise alargada dos casos aplicados e certificados evidencia que existem classes até à classe A do LiderA (inclusive) um acréscimo de custos de construção reduzido, sendo que a criação de valor pelas eficiências ganhas na operação ou na sua comercialização é muito competitiva, desafiando o imobiliário a uma abordagem integrada e holística a qual não deve ser desvalorizada.

O imobiliário é uma área crucial para o bem estar humano, social e ambiental É um fator económico importante que deve incluir em qualquer fase de desenvolvimento o conceito integrado de sustentabilidade. Não devemos banalizar a definição “sustentabilidade” mas sim implementá-la de forma estrutural e responsável para obtermos os resultados pretendidos, a que este modelo LiderA e outros do mesmo tipo, se propõem de forma a obtermos uma estrutura imobiliária viável e valorizável para os diferentes agentes.

Por Manuel Pinheiro, Professor no IST.
Fonte: Vida Imobiliária

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