
Estrangeiros estão a mudar a residência fiscal para Portugal. Vêm de França, Bélgica, Inglaterra, Suíça, Suécia, Holanda, Finlândia ou Brasil. Portugal está no radar de escritórios de advogados estrangeiros por causa do regime fiscal dos residentes não habituais (RNH). Há sociedades no Reino Unido que indicam aos clientes que Portugal é a melhor aposta para instalar a residência fiscal e poupar nos impostos.
“O RNH é muito atrativo por si só, mas é mais atrativo ainda conjugado com outras características: Portugal não tributa sucessões ou doações; não tem impostos sobre a riqueza; tem um bom regime de participation exemption [dividendos e mais-valias com a venda de participações sociais não pagam IRC] e um bom regime de vistos gold”, refere João Luís Araújo, advogado associado da Telles de Abreu.
O clima, a segurança, a qualidade dos serviços (educação, saúde ou telecomunicações) e o custo de vida barato para o padrão europeu são outras mais-valias e, tudo somado, atraem cidadãos vindos de diversas geografias como França, Bélgica, Inglaterra, Suíça, Suécia, Holanda, Finlândia ou Brasil. Muitos deles são encaminhados por advogados estrangeiros. “As sociedades inglesas têm uma atividade internacional muito relevante e o regime português tem-se mostrado credível e estável e, por isso, esses escritórios têm referenciado clientes de diversas nacionalidades para escritórios portugueses”, menciona um advogado contactado pelo Expresso.
Várias firmas portuguesas
confirmam estes contactos, por
vezes exploratórios, com pedidos
de informação sobre o RNH.
A procura intensificou-se “desde
há um ano e meio”, diz Nuno da
Cunha Barnabé, sócio da PLMJ,
frisando que as preocupações de
muitas das pessoas que querem
o RNH não são apenas fiscais.
As tensões sociais ou a insegurança
financeira nos países de origem, os fluxos migratórios e a
consequente pressão para maiores
restrições na circulação de
pessoas são outros fatores que
reforçam a escolha por Portugal.
“Haverá cada vez mais pessoas
que vão querer um veículo que
lhes permita circular no espaço
Schengen”, sustenta o advogado
da PLMJ.
Criado em 2009, o RNH não
funcionou durante alguns anos,
gerando muitas queixas de estrangeiros.
“Houve grande resistência
por parte da Autoridade
Tributária (AT) em aplicá-lo, o
que, associado à desconfiança
em relação a Portugal em matéria
de (in)segurança fiscal, dificultou
muito o arranque desta
iniciativa”, explica Mariana
Gouveia de Oliveira, advogada
da Miranda. “Numa primeira
fase a AT exigia muita documentação
e demorava muito tempo
a responder”, recorda a jurista,
ressalvando que “felizmente
esta tendência foi revertida e
hoje em dia este regime é sobejamente
conhecido por toda
a Europa e no Brasil e tem tido
um grande sucesso”. A Miranda
diz que tem sido contactada por
escritórios de advogados estrangeiros,
bem como por gestores
de ativos e de fortunas por causa
de clientes interessados no regime
português.
€2 mil milhões para o PIB
O RNH prevê a isenção de IRS
para os rendimentos de pensões
e de capitais com origem no estrangeiro,
embora, por norma,
exista sempre alguma tributação
(regra geral no país de origem)
e há que ter em conta as convenções
para evitar a dupla tributação
(sobretudo no caso dos
rendimentos de capitais). Mas é
possível evitar todo o imposto.
“Um brasileiro com uma empresa
no Brasil torna-se residente
não habitual em Portugal e a
companhia no Brasil paga-lhe dividendos. No Brasil não se tributa
dividendos na fonte e Portugal
vai isentar esses rendimentos”,
exemplifica João Araújo.
Há, sobretudo, dois tipos de
‘clientes’ do RNH, os reformados
e quem vive de rendimentos
passivos (dividendos, juros
e mais-valias). Os reformados
querem reduzir o custo de vida,
gozando a pensão num destino
aprazível e vêm de países escandinavos,
da Suíça, Holanda,
França ou Inglaterra — no caso
dos franceses pesou o facto de
François Hollande ter aumentado os impostos sobre os ricos.
Já os milionários juntam muitas
vezes ao RNH os vistos dourados
e aqui “o mercado do ano são
os brasileiros”, garante Nuno
Barnabé. Portugal terá também
ganho residentes não habituais
ao Reino Unido, depois de o Partido
Trabalhista ter ameaçado,
nas últimas eleições, acabar com
o regime dos resident but not-domiciled. O RNH dá também
vantagens para os trabalhadores
especializados, com um IRS de
20% (mais a sobretaxa de 3,5%)
para os rendimentos obtidos em Portugal — porém, segundo os
especialistas contactados, existem
outros países mais interessantes
para expatriados.
A Deloitte fez as contas (possíveis) ao impacto deste regime e
Luís Léon, sócio da consultora,
garante que as vantagens são
várias, começando pelo relançar
do consumo interno “com rendimento
que vem do estrangeiro,
com um efeito na economia equivalente
às exportações”, passando
pela dinamização do mercado
imobiliário, sem esquecer os
ganhos para o turismo, porque “os melhores embaixadores de
Portugal são os estrangeiros que
cá vivem”. “Se Portugal conseguir
atrair 50 mil RNH, a receita
fiscal direta (IMT, IMI, IRS) e
indireta (IVA, IRC ou IRS dos
prestadores de serviços) poderá
rondar os mil milhões de euros,
com um impacto no PIB de dois
mil milhões”.
COMPETIÇÃO
O regime português - Na generalidade, os
rendimentos obtidos no
estrangeiro não são tributados
por via do regime fiscal do
residente não habitual e as
atividades de alto valor
acrescentado desenvolvidas
no país pagam menos IRS. Para
aderir, não se pode ter tido
morada fiscal em Portugal
nos últimos cinco anos e tem
que se passar seis meses por
ano no país. O regime tem a
validade de dez anos, exclui os
rendimentos de paraísos fiscais
e tem normas que evitam o uso
abusivo do regime. Este tipo de
regimes não são consensuais e
têm sido alvo de críticas por
quem não considera justo que
existam duas categorias de
residentes fiscais.
Os concorrentes - Portugal concorre pela atração
de estrangeiros com o Reino
Unido, Espanha, Chipre,
Irlanda e Malta
Fonte: Expresso
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