
Os maiores bancos nacionais têm mais de sete mil milhões de euros em imóveis no balanço. É um máximo desde, pelo menos, o pico da crise. Um problema que é, agora, resultado das falências das empresas.
A crise atirou muitas casas para os bancos, com as famílias a deixarem de pagar as prestações dos empréstimos. Mas agora, mesmo com a recuperação da economia, o sector continua a ser castigado pelo imobiliário. O valor dos i veis que têm no balanço nunca foi tão elevado: são mais de sete mil milhões de euros. É o resultado da burocracia, que atrasa os processos de venda, especialmente no caso das empresas. E que a maioria destes bens imobiliários já não são apartamentos. São armazéns e lojas.
Os cinco maiores bancos nacionais tinham, no final de 2015, 7,18 mil milhões de euros em imóveis depositados nos seus balanços (em Espanha, o sector tem 84 mil milhões de euros em imóveis). Um montante que representa um aumento de 16%, ou 993 milhões de euros, face ao ano anterior. O Novo Banco continua a ser o banco com mais imóveis em carteira: 3,57 mil milhões de euros, no final de 2015. Já o BCP tem quase dois mil milhões de euros e a CGD tem 1,24 mil milhões de euros.
Nem mesmo no pico da crise financeira, em 2011, o valor foi tão elevado, segundo os Relatórios e Contas dos bancos. Porquê este máximo num período que está a ser marcado pela recuperação da economia? São as questões burocráticas associadas à entrega do imóvel: após receber o imóvel com a entrada do cliente em incumprimento, o banco terá que o libertar de ónus e encargos para o colocar à venda. "Este processo pode ser muito longo e muitos imóveis que são colocados agora à venda pelos bancos podem dizer respeito a problemas gerados há dois anos", diz Miguel Poisson, director-geral da ERA. "Os imóveis que agora entram no mercado são processos iniciados em muitos casos, há mais de três anos", concorda Ricardo Sousa.
Nesse sentido, o administrador da Century 21 Portugal prevê que a recuperação apenas será visível nos próximos anos". Mas, para que efectivamente ocorra, é necessário que "se implementem e normalizem procedimentos para que exista acordo - entre banco, famílias/empresas e agente imobiliário - para que se possa concretizar uma venda antecipada e rápida do imóvel", conclui. Gonçalo Reino Pires, advogado, especialista em Direito do Urbanismo e sócio da Serra Lopes, Cortes Martins (SLCM), também frisou, em entrevista ao Negócios, a necessidade de resolver este problema: é como "uma bomba-relógio que alguma vez vai ter de explodir".
Metade não são casas
Apesar do crescimento do valor dos imóveis no balanço, o número de activos recebidos pelos bancos em dação em pagamento tem vindo a diminuir. "O fenómeno da dação em pagamento deixou de ser expressivo no mercado habitacional, o que levou a Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) a deixar de trabalhar estes dados", diz Luís Lima, presidente da associação, ao Negócios.
Mas o alívio fez-se sentir apenas no mercado habitacional. "A dimensão dos ativos imobiliários entregues aos bancos é maior, pois são essencialmente ativos não habitacionais de grande dimensão, como centros comerciais ou terrenos industriais, por exemplo, o que faz com que o valor dos activos em carteira seja elevado", explica. Dos 19.883 imóveis que podem ser encontrados nos sites de nove bancos, mais de 65% não são habitacionais, ou seja, são escritórios, lojas, terrenos, garagem, entre outros. As casas representam 34,7% do total.
Fonte: Negócios
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