07 junho 2016

Imobiliário para arrendamento: "O foco é o turismo. Em vez de 700, ganho 3.000 por mês"


A câmara de Lisboa pôs à venda em leilão 15 prédios degradados. Vendeu todos por um valor total que ficou 99% acima do montante base estipulado. Destino da maioria: o florescente arrendamento a turistas.


E acabou de fazer um mês. Está ao colo da mãe e as duas compõem um quadro inesperado na sala da Câmara de Lisboa (CML) onde se vai realizar nessa tarde a venda em hasta pública de 15 imóveis no âmbito do programa "Reabilite primeiro, pague depois". Os lugares na sala do leilão são poucos para acolher todos os interessados e há quem fique de pé. "Fomos ver a casa no dia em que ela nasceu e gostámos muito", explica Sofia Miguel Rosa, a mãe da bebé. 

Apesar dos bons agoiros, reconhece que "a esperança é pouca". O prédio que a família quer adquirir situa-se na Rua Silva Carvalho, perto do Hotel da Estrela, com vista para a basílica e no concorrido bairro de Campo de Ourique. Está bastante degradado, mas são 350 metros de área bruta com três andares e um sótão. Há 84 interessados e o preço base de licitação é de 389 mil euros. Um valor que acabará por subir até aos 954 mil depois de uma luta renhida ganha por uma ilustre cidadã anónima.

Foi um dos mais caros, só superado por um outro, na Graça, com uma área total de 775 m2 e que, partindo de um valor base de 825 mil euros, ultrapassaria, no final, 1,5 milhões de euros. Destino: na esmagadora maioria o arrendamento de curta duração a turistas. Em alguns casos a venda para a habitação, mas num segmento alto, em que os compradores serão sobretudo estrangeiros que vivem uma parte do ano em Lisboa e, na restante... arrendam a turistas.

Câmara arrecada 7,3 milhões de euros 

A hasta pública ocorreu na passada semana e a autarquia colocou à venda 15 imóveis, cujo valor base de licitação do conjunto era de 3,7 milhões de euros. No final, a câmara arrecadou 7,3 milhões, "99% acima do preço base", realça António Furtado, director municipal de gestão patrimonial da autarquia. Ao todo, apareceram 138 interessados, sobretudo empresas. 

As regras do programa estipulam que o investidor adquira agora, faça as obras num prazo de dois anos e só no final pague o valor à câmara. É uma forma de "estimular a economia e a reabilitação urbana na cidade", sublinha António Furtado. Para quem tem dinheiro para investir, é um bom negócio, como demonstra o entusiasmo de quem comprou e de quem, pelo menos, tentou. 

Miguel Reis foi um dos investidores que se bateram pelo prédio da rua Saraiva de Carvalho. O pai viveu muitos anos no Brasil e o filho está agora a convencê-lo a investir em Lisboa. Criaram no início do ano a empresa Dragonking, que está já a reabilitar um imóvel junto ao Panteão Nacional. Nesta hasta pública da CML comprou um prédio na Rua da Atalaia, ao Bairro Alto, e um outro no Passadiço, perto da Avenida da Liberdade, um investimento total de 725 mil euros. Num e noutro caso, "o foco é claramente o arrendamento de curta duração", admite, sem quaisquer problemas. "Em vez de 600 ou 700 euros [por uma renda mensal fixa] ganho três mil euros por mês", diz Miguel Reis. A escolha é óbvia.

Retorno acima dos 30%

E quanto aos custos? Em média, a bitola são 1.000 euros por metro quadrado para reabilitar este tipo de imóveis. O da Rua Saraiva de Carvalho precisará, em contas grosseiras, de mais 350 mil euros para obras. Ao todo, um investimento de 1,3 milhões, 3.700 euros por metro quadrado. Parece muito, mas há que ter em conta que, "nesta zona, os preços para venda atingem facilmente os cinco mil euros por metro quadrado", afirma Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal. Contas feitas, se o destino for a venda, a rentabilidade será de 34%.

E não será difícil vender. Como diz Luís Lima, "Lisboa está na moda e o mercado fervilha. O número de interessados que compareceu ao leilão da câmara de Lisboa é prova disso", diz. A velocidade com que se baixavam e levantavam as raquetes a somar novas parcelas de 2.500 ou cinco mil euros ao preço base (consoante este era inferior ou superior a 250 mil euros) era absolutamente impressionante. Os compradores são quase todos empresas imobiliárias que reabilitam e depois vendem a investidores ou promotores turísticos, que já estão no ramo e querem novos imóveis. A câmara de Lisboa tem já outro leilão previsto para este ano, mas ainda sem data marcada.

Fonte: Negócios

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.