Em maio, os novos créditos à habitação alcançaram os €497 milhões, o volume mensal mais elevado dos últimos cinco anos. Para os especialistas, este crescimento está a impulsionar a procura de casas. De acordo com os dados mais recentes do Banco de Portugal (BdP), em maio deste ano o volume de novos créditos à habitação alcançou os €497 milhões, o valor mensal mais elevado desde maio de 2011, quando se concederam €536 milhões de novos empréstimos para a compra de casa em Portugal.
O registo de maio confirma a tendência de crescimento que se vem sentindo desde meados de 2014, quando os volumes mensais de crédito à habitação concedidos começaram a recuperar para acima dos €200 milhões, depois de um período (entre janeiro de 2012 e maio de 2014) em que chegaram a atingir um mínimo de €132 milhões concedidos num mês (fevereiro 2013). O ritmo de recuperação na concessão de crédito acelerou de forma mais expressiva em junho do ano passado, com volumes mensais sempre acima dos €320 milhões, registando, desde então, já em diversos meses valores mensais superiores a €400 milhões, que agora em maio chegaram mesmo perto dos €500 milhões.
Para os operadores e especialistas do setor, o mercado de compra e venda de casas tem sido claramente beneficiado pela reabertura da Banca à concessão de crédito à habitação, sendo o crescimento deste tipo de financiamento apontado com um dos principais impulsionadores da procura, que continua a aumentar, de acordo com os últimos relatórios do Portuguese Housing Market Survey (PHMS) - um inquérito mensal de confiança no mercado residencial, produzido pela Confidencial Imobiliário e pelo RICS. Para Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, uma das entidades que coordena este inquérito e que produz estatísticas para o mercado imobiliário residencial, “o acréscimo de novos empréstimos, a par do aumento dos vistos gold” têm “conduzido a procura de casas”, na qual se “verifica uma tendência bastante positiva”. Em comentário aos resultados mensais de maio do PHMS, este especialista nota ainda que “a recuperação do mercado (habitacional) está a expandir-se geograficamente e a tornar-se mais forte”. Além disso, diz aquele especialista, “o facto de os spreads estarem a baixar e os Bancos estarem a adotar uma postura comercial mais agressiva” estão também a ter “claros efeitos nos preços e expetativas”.
Também Ricardo Sousa, Administrador da Century 21 Portugal, uma das maiores redes de mediação imobiliária a operar no país, considera que o aumento do financiamento para a compra de casa está “a impactar, de forma muito positiva, a dinamização do mercado imobiliário”. Por um lado, permite que “muitas famílias tenham acesso à aquisição de imóveis”, sobretudo, as da classe média, “que tinham vindo a adiar a decisão de compra de imóveis” e que “estão agora também a regressar ao mercado e a impulsionar a procura”, explica. E por outro lado, também “os proprietários que, nos últimos anos, não estavam a colocar em venda os seus imóveis, para não perderem as condições do crédito já contratado, estão de volta ao mercado”.
Volumes ainda longe dos máximos de 2007
Apesar da recuperação na concessão de crédito à habitação, os volumes mensais estão ainda bastante longe do pico máximo do mercado, atingido em julho de 2007, mês em que a Banca nacional concedeu €1.875 milhões de novos financiamentos para a compra de casa. De acordo com os dados disponibilizados pelo BdP, entre setembro de 2003 e julho de 2008, o volume mensal de crédito à habitação esteve sempre acima dos €1.000 milhões e também os acumulados anuais nesse período mostram o boom deste mercado. Entre 2003 e 2008, os volumes anuais de novos empréstimos para a compra de casa situaram-se sempre acima dos €12.900 milhões, atingindo um máximo de €19.630 milhões em 2007. Em 2008, os níveis de novo crédito à habitação mantiveram-se elevados (€13.375 milhões concedidos), mas começavam já a evidenciar uma tendência de descida, com uma redução de cerca de 31% (face a 2007) nos montantes financiados. A descida anual, que foi apenas interrompida em 2010 (crescimento anual de 8% para os €10.107 milhões), só começaria a inverter-se em 2013, depois do patamar mínimo de €1.935 milhões concedidos em 2012. Em 2013 inicia-se então uma rota de recuperação anual, com um ritmo crescente que alcançou os 73% em 2015 (face a 2014) e que este ano deverá manter-se dinâmico, tendo em conta que nos primeiros cinco meses de 2016 o crédito já cresceu 64% face ao mesmo período do ano passado (€2.112 milhões vs. €1.288 milhões).
Miguel Poisson, diretor-geral da ERA, outra rede de mediação com grande representatividade em Portugal, relembra que “em 2016, a média mensal foi de €422 milhões”, comparando com “anos anteriores à crise do sub-prime”, quando “a média mensal (por exemplo em 2007) superava os €1.700 milhões, ou seja, quatro vezes mais”. O responsável defende que “todos aprendemos com alguns erros do passado”, mas acredita que “ainda haja um forte potencial de aumento até chegarmos a uma situação de equilíbrio”.
Ricardo Sousa também vê potencial de crescimento, mas sublinha que será em moldes diferentes: “As políticas de qualificação e atribuição de crédito à habitação são, atualmente, mais rigorosas, mas também mais consistentes e orientadas para um crescimento mais sustentado do setor imobiliário”, termina.
Fonte: Público Imobiliário
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