Foram vendidas 152 mil casas, uma subida de 25% a 30%. Franceses e brasileiros são os estrangeiros que mais compram. Mariah Rangel trocou a França por Portugal. Brasileira, com 62 anos, comprou casa em Cascais para recordar o que é viver perto do mar e de um calçadão que a aproxima do Rio de Janeiro. Cansada de grandes cidades, contou com a ajuda do custo de vida para a mudança: "Com 65% do valor da venda de 75 metros quadrados em Paris comprei um apartamento de 250 metros quadrados em Cascais e ainda guardei 35%." Regressar ao Brasil? "Não tenho por quê", confessa.
Brasileiros, mas sobretudo franceses, são os grandes compradores estrangeiros de casa em Portugal. "Os estrangeiros já valem 25% do mercado, ou seja, um quarto das casas foram compradas por estrangeiros", admite Luís Lima, presidente da APEMIP, a associação que representa os imobiliários e promotores. Britânicos e chineses, estes a aproveitarem os vistos gold, também estão a ajudar ao boom do mercado. E à subida meteórica dos preços.
No ano passado, as vendas de casas subiram entre 25% e 30%, admite Luís Lima. Isto significa que, a cumprir-se a expectativa da APEMIP, deverão ter-se vendido mais 23.500 casas do que em 2016 pelas imobiliárias e promotoras. São mais de 152 mil imóveis transacionados.
"É um aumento dentro do que prevíamos e que permite antecipar que, neste ano, o imobiliário irá crescer novamente", prevê Luís Lima, detalhando que em regiões como Lisboa a subida do preço por metro quadrado ainda está longe de afastar os estrangeiros mais endinheirados, que vêm atrás de qualidade de vida, segurança, bom clima e preços que ainda estão abaixo dos praticados noutros países.
De fora destes números estão 30% de vendas que são feitas diretamente entre particulares e que deverão fazer os números catapultar para 215 mil imóveis vendidos para habitação ao longo de 2017.
"Os ativos imobiliários valorizaram o país. O imobiliário está a ser a árvore das patacas, mas tem de haver investimento no combate à escassez da oferta para a classe média portuguesa", destaca Luís Lima, lembrando que os preços em Lisboa começam a tocar valores que não estão ao alcance de qualquer bolsa.
E pior, na perspetiva da APEMIP, é que a escalada dos preços está a tornar o mercado tão apetecível que estão a multiplicar-se as imobiliárias que atuam à margem da lei.
Em Lisboa, o preço por metro quadrado fixou-se, em dezembro do ano passado, em 2.796€, segundo o Índice de Preços da Habitação medido pelo Idealista. É uma subida de 36,92% em relação a dezembro de 2016 e representa a maior subida registada no país. Mas basta uma rápida pesquisa pelas ofertas online para encontrar imóveis à venda por bem mais do dobro. Segundo este índice, os preços avançaram 23,67% num ano no Porto, tendo subido mais de 18% em Faro. No geral, o preço do imobiliário avançou 25,09%.
"Em Lisboa, o metro quadrado até pode passar para 7.000€, há estrangeiros que pagam", observa Luís Lima, que apela ao Estado e às autarquias para criarem "não habitações sociais, mas habitações para a classe média", que se vê cada vez com menos opções para viver nos grandes centros urbanos. A conduzir estas subidas, acrescenta, estão os estrangeiros que "estão disponíveis para pagar acima do que uma família portuguesa poderia".
Os dados do SIR - Reabilitação Urbana, apurados pela Confidencial Imobiliário, confirmam: entre janeiro de 2016 e junho de 2017 não houve uma única freguesia de Lisboa que tenha ficado de fora do investimento estrangeiro. E, em média, estes investidores pagaram mais 94 mil euros por uma casa na capital do que os portugueses.
De todas as nacionalidades, "os brasileiros são os que estão sempre disponíveis para pagar mais", sublinha Luís Lima, lembrando que, tal como os franceses, os brasileiros estão a investir um pouco por todo o país. "Estive agora no Rio de Janeiro e eles querem sair, estão a deixar o Brasil", adianta o presidente da APEMIP.
"A maioria dos brasileiros estão a fugir do Brasil e é muito por uma questão de segurança... Neste momento não dá para sair à rua. Conheço muitas famílias a escolher Cascais e Lisboa para viver", admite, por sua vez, Mariah Rangel, cuja filha também já se mudou para Lisboa.
Mas também há classes médias estrangeiras a mudarem-se. "A grande maioria dos franceses que compram casa em Portugal são de classe média", refere Cecile Gonçalves, administradora da promotora Maison au Portugal. A maior procura vem de reformados, que beneficiam de condições fiscais muito mais vantajosas, ou de empresários que querem investir em Portugal. A preferência vai para o Litoral, Algarve, Lisboa e Porto.
Fonte: DN/Dinheiro Vivo
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