Resgatar antigas casas de aldeia que se encontravam ao abandono e convertê-las numa atrativa proposta turística é o objetivo do projeto que está a nascer na Lapa do Lobo, em Nelas, pela mão do empresário Carlos Cunha Torres.
Com os olhos postos no turismo rural e na vizinha Serra da Estrela, as Casas do Lupo são fruto da visão e dos afetos do promotor e mecenas que há pouco mais de um ano também ali criou a Fundação Lapa do Lobo, uma instituição que está a transformar a aldeia ao apoiar, em diferentes vertentes, o desenvolvimento cultural e social da população do concelho.
As Casas do Lupo, projeto integrado no turismo de aldeia, é assim mais uma etapa de um processo que é quase como um regressar às origens. No local onde passava férias na casa dos avós, o empresário resolveu investir agora num projeto turístico que é, em simultâneo, uma aposta na recuperação da arquitetura tradicional e do aprimorar do espaço local. "Este projeto nasceu da forte ligação que tenho com esta aldeia e do facto de me sentir muito desconfortável com a existência de uma série de casas rurais em granito, abandonadas no centro da aldeia. Considero-as património arquitetónico civil da Beira Alta e é uma pena que esse património esteja, de certo modo, abandonado porque os seus antigos proprietários ou saíram das aldeias ou desinteressaram-se por estas casas", resume Carlos Torres.
Batizado de Casas do Lupo, o nome foi colher inspiração ao nome original da aldeia Lapa do Lobo, que até 1526 era referida em todos os mapas como a Lapa do Lupo.
A primeira fase das Casas do Lupo está já terminada. Outras três casas encontram-se agora em fase de obra, um trabalho cuidado de recuperação dos materiais tradicionais da zona. "Para já, temos em recuperação três casas todas juntas, o chamado núcleo central e que acolhe toda a zona social, o bar, o jardim e a piscina. A estas três vão juntar-se mais três casas, pequeninas, situadas na rua principal da aldeia, um projeto também muito interessante pois todas têm um pequeno quintal anexo. Entretanto, já recuperámos uma casa, também situada no largo principal da aldeia, típica dos anos 70, em cimento à vista e de gosto muito duvidoso, o que iria estragar todo o enquadramento estético do projeto Casas do Lupo. Neste espaço agora recuperado vai funcionar toda a logística do turismo (a copa, lavandaria, etc)", especifica o promotor, que é também administrador do grupo Resul.O projeto de arquitetura do empreendimento turístico é da autoria de João Laplaine Guimarães e António Gomes. Os arquitetos respeitaram os princípios da arquitetura civil beirã devidamente adaptada ao conforto dos dias de hoje. "As casas estavam em avançado estado de abandono, já com alguns elementos dissonantes ao nível da arquitetura. Havia, de facto, a necessidade de as recuperar e devolver-lhes a traça original. Por isso, também procurámos preservar todos os materiais existentes, caso da pedra, que foi inteiramente recuperada. Um pequeno exemplo: mesmo nas situações em que foi necessário desmontar as escadas estas foram posteriormente montadas com a mesma pedra", aponta João Laplaine Guimarães.O primeiro edifício reabilitado deste projeto, e entretanto já concluído (onde vai funcionar o núcleo logístico da unidade hoteleira), era aquele que estava em melhores condições. Porém, era também o mais descaracterizado e desenquadrado em termos arquitetónicos. Se antes era uma habitação pouco funcional e escura, hoje é um edifício ao qual se devolveu a dignidade e uma estrutura racional, conforme explica o arquiteto António Gomes. "Tratava-se de uma casa vulgar, dos anos 70, propriedade de emigrantes e com mau aspeto... Em vez de deitar a casa abaixo, optámos pela sua transformação, algo que parecia complicado mas que se tornou óbvio. Do ponto de vista estrutural, fizemos uma espécie de 'corte e costura': tivemos de avançar ligeiramente o telhado, cortar paredes, corta uma laje, inverter o sentido de uma escada, eliminar a marquise, mas o resultado acabou por ficar interessante", justifica. A fachada em cimento desapareceu, tal como a falta de simetria, reforça o mesmo arquiteto. Com mais espaço, a casa conseguiu ainda conquistar uma zona adicional que na preexistência estava totalmente desaproveitada: um sótão elevado.Uma aposta na revitalização do património, com a envolvente inspiradora do Vale do Mondego e a cerca de 50 quilómetros da Serra da Estrela. Já com a primeira fase terminada, as Casas do Lupo deverão estar totalmente concluídas em 2013.
Texto Marisa Antunes
Foto Go-ToFonte. BPIEXPRESSOIMOBILIÁRIO
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