11 maio 2012

Regressar às origens nas Casas do Lupo

Resgatar antigas casas de aldeia que se encontravam ao abandono e convertê-las numa atrativa proposta turística é o objetivo do projeto que está a nascer na Lapa do Lobo, em Nelas, pela mão do empresário Carlos Cunha Torres.

Com os olhos postos no turismo rural e na vizinha Serra da Estrela, as Casas do Lupo são fruto da visão e dos afetos do promotor e mecenas que há pouco mais de um ano tam­bém ali criou a Fundação Lapa do Lobo, uma instituição que está a transformar a aldeia ao apoiar, em diferentes vertentes, o desenvolvi­mento cultural e social da população do con­celho.

As Casas do Lupo, projeto integrado no turismo de aldeia, é assim mais uma etapa de um processo que é quase como um regressar às origens. No local onde passava férias na casa dos avós, o empresário resolveu investir agora num projeto turístico que é, em simul­tâneo, uma aposta na recuperação da arqui­tetura tradicional e do aprimorar do espaço local. "Este projeto nasceu da forte ligação que te­nho com esta aldeia e do facto de me sentir muito desconfortável com a existência de uma série de casas rurais em granito, aban­donadas no centro da aldeia. Considero-as património arquitetónico civil da Beira Alta e é uma pena que esse património esteja, de certo modo, abandonado porque os seus an­tigos proprietários ou saíram das aldeias ou desinteressaram-se por estas casas", resume Carlos Torres.
Batizado de Casas do Lupo, o nome foi colher inspiração ao nome original da aldeia Lapa do Lobo, que até 1526 era referida em todos os mapas como a Lapa do Lupo.
A primeira fase das Casas do Lupo está já terminada. Outras três casas encontram-se agora em fase de obra, um trabalho cuidado de recuperação dos materiais tradicionais da zona. "Para já, temos em recuperação três ca­sas todas juntas, o chamado núcleo central e que acolhe toda a zona social, o bar, o jardim e a piscina. A estas três vão juntar-se mais três casas, pequeninas, situadas na rua principal da aldeia, um projeto também muito inte­ressante pois todas têm um pequeno quintal anexo. Entretanto, já recuperámos uma casa, também situada no largo principal da aldeia, típica dos anos 70, em cimento à vista e de gosto muito duvidoso, o que iria estragar todo o enquadramento estético do projeto Casas do Lupo. Neste espaço agora recuperado vai funcionar toda a logística do turismo (a copa, lavandaria, etc)", especifica o promotor, que é também administrador do grupo Resul.
O projeto de arquitetura do empreendimen­to turístico é da autoria de João Laplaine Guimarães e António Gomes. Os arquitetos respeitaram os princípios da arquitetura civil beirã devidamente adaptada ao conforto dos dias de hoje. "As casas estavam em avançado estado de abandono, já com alguns elemen­tos dissonantes ao nível da arquitetura. Ha­via, de facto, a necessidade de as recuperar e devolver-lhes a traça original. Por isso, tam­bém procurámos preservar todos os mate­riais existentes, caso da pedra, que foi intei­ramente recuperada. Um pequeno exemplo: mesmo nas situações em que foi necessário desmontar as escadas estas foram posterior­mente montadas com a mesma pedra", apon­ta João Laplaine Guimarães.O primeiro edifício reabilitado deste projeto, e entretanto já concluído (onde vai funcionar o núcleo logístico da unidade hoteleira), era aquele que estava em melhores condições. Porém, era também o mais descaracterizado e desenquadrado em termos arquitetónicos. Se antes era uma habitação pouco funcional e escura, hoje é um edifício ao qual se devolveu a dignidade e uma estrutura racional, confor­me explica o arquiteto António Gomes. "Tra­tava-se de uma casa vulgar, dos anos 70, pro­priedade de emigrantes e com mau aspeto... Em vez de deitar a casa abaixo, optámos pela sua transformação, algo que parecia compli­cado mas que se tornou óbvio. Do ponto de vista estrutural, fizemos uma espécie de 'cor­te e costura': tivemos de avançar ligeiramen­te o telhado, cortar paredes, corta uma laje, inverter o sentido de uma escada, eliminar a marquise, mas o resultado acabou por ficar interessante", justifica. A fachada em cimen­to desapareceu, tal como a falta de simetria, reforça o mesmo arquiteto. Com mais espaço, a casa conseguiu ainda conquistar uma zona adicional que na preexistência estava total­mente desaproveitada: um sótão elevado.Uma aposta na revitalização do património, com a envolvente inspiradora do Vale do Mondego e a cerca de 50 quilómetros da Serra da Estrela. Já com a primeira fase terminada, as Casas do Lupo deverão estar totalmente concluídas em 2013.

Texto Marisa Antunes
Foto Go-To
Fonte. BPIEXPRESSOIMOBILIÁRIO

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