01 junho 2012

Domingos Oliveira: “Os consumidores não têm noção do consumo dos elevadores”


Não existe a consciência de que o elevador representa o maior custo de energia da área comum do prédio, lamenta Domingos Oliveira, diretor-geral da OTIS, empresa que inovou no seu setor com o lançamento de uma linha de equipamentos energeticamente eficientes. A crise gera vontade de poupança, reconhece, mas a prioridade é dada aos efeitos imediatos.

A eficiência energética sempre foi uma questão presente no quotidiano profissional deste setor? Quais são as preocupações mais recentes? O que se discute agora?
Infelizmente é bastante recente no setor a preocupação com a eficiência energética. Aliás, consideramos que a indústria dos elevadores se tem portado de um modo bastante egoísta em termos de preocupações ambientais. Desde a invenção do elevador por Elisha Graves Otis, as inovações têm sido sucessivas, mas sempre direcionadas para a segurança ou para o desempenho do equipamento. Repare que durante anos foi perfeitamente normal vender, instalar e utilizar elevadores hidráulicos que gastavam tanto de energia elétrica como se todo o edifício mantivesse permanentemente todas as suas luzes ligadas.

Quando lançámos o Gen2TM, viemos resolver algo que nos restringia em termos de condicionantes técnicas da instalação de elevadores, de impacto ambiental e de consumo energético. Agora tornou-se indispensável apresentar produtos que sejam amigos do ambiente, tanto na sua utilização como no seu fabrico. O que poderemos discutir é se todos o conseguem. Temo que a resposta seja negativa.

Como tem evoluído a sensibilidade dos vossos clientes para estas matérias?
Para um utilizador comum, o elevador é uma caixa que vem quando carregamos no botão e depois sobe e desce. Infelizmente, a grande maioria dos nossos clientes não tem a mínima noção do consumo do elevador. Acredite que se a fatura de energia do edifício fosse discriminada, separando o consumo do elevador do restante consumo, as pessoas deitariam as mãos à cabeça. Não existe a consciência de que o elevador representa o maior custo de energia da área comum do prédio.

A juntar a isto, quando falamos de elevadores novos, acresce o facto de que a concorrência ainda não está toda focalizada nesta matéria e as soluções nem sempre correspondem à realidade. No horizonte vislumbramos aumentos brutais a nível dos preços da energia. Sem dúvida que esses aumentos vão contribuir para que as familias tomem consciência do desperdício que determinado tipo de elevadores representa.

O que mudou com a implementação da vossa solução economizadora de energia na instalação de elevadores, a linha Gen2?
Tudo começou em 2000, com o lançamento da nossa linha de elevadores Gen2TM. Estes equipamentos vieram romper com algo que há mais de 100 anos representava uma barreira à evolução dos elevadores: a utilização de cabos de aço. Começarmos a utilizar cintas de aço revestidas a poliuretano, abriu-nos caminho a um elevador completamente diferente . As dimensões das máquinas foram drasticamente reduzidas, deixámos de necessitar de casa das máquinas - que representavam um considerável desperdício de recursos, tanto para o construtor, como para o condomínio. As próprias máquinas deixaram de necessitar de mudanças periódicas de óleo e os consumos de energia desceram de forma significativa. Ou seja, apresentámos ao Mundo um elevador que gastava menos energia e era muito menos poluente. Não posso deixar de referir que esta preocupação do Gen2 TMcom o ambiente estende-se, inclusive, ao próprio processo de fabrico. A fábrica que construimos em Espanha produz praticamente toda a energia que consome e tem uma "pegada" reduzidíssima.

No entanto, não ficámos por aí. Um elevador em funcionamento desperdiça energia. Imaginemos um elevador como uma balança com dois pratos: Num prato está a cabina e no outro o contrapeso, que tem um peso constante. Quando a cabina viaja para cima com pouca carga, o contrapeso, enquanto desce, está a gerar energia que era, até há pouco tempo, desperdiçada.

De igual modo, quando a cabina viaja para baixo com muita carga, ela própria está a gerar energia com o seu movimento. Essa energia dispersava-se, na sua maior parte, sob a forma de calor. Ao juntarmos ao Gen2 TMa nossa drive regenerativa RegenTM, aproveitamos essa energia, que é injectada na rede.

Tudo isto, o Gen2TM e o ReGenTM juntos, significa que os nossos elevadores chegam a representar uma poupança de perto de 75% quando comparados com o consumo energético de um elevador tradicional. Tendo em conta que os elevadores representam a maior parte do consumo energético do edifício, é fácil tirarmos conclusões.

Que avanços já se conseguiram na implementação de soluções de eficiência energética em elevadores para projectos de reabilitação urbana? E quais são habitualmente as principais dificuldades a enfrentar nestes projectos?
Infelizmente não sentimos que haja um grande esforço na reabilitação urbana. Sem dúvida que continuam, e sempre continuarão, a existir oportunidades para modernizar equipamentos antigos. Mas há uma enorme falta de apoios, o que se traduz em que a principal preocupação seja, apenas, manter os equipamentos em funcionamento. Não vemos grande preocupação com as questões ambientais ou sequer com o consumo energético.

Sendo os tempos de crise aqueles que mais despertam a vontade de poupar, são também aqueles em a disponibilidade para investir está sujeita a mais constrangimentos. Sendo assim, até que ponto o atual contexto económico nacional condiciona a procura de inovação e de novas soluções energeticamente mais eficientes?
Sem dúvida que os tempos de crise originam uma apetência para a poupança. Mas, infelizmente, por vezes as opções tomadas limitam-se a uma "falsa poupança", ao "imediato". Quando comparamos a "poupança" alcançada com o recurso a tecnologia ultrapassada, com o desperdício energético que essa opção significa, passamos todos os limites da razoabilidade e da compreensão.

Eu sei que quando coloco a situação nestes termos, os seus leitores vão ficar com a ideia de que existe uma diferença de custo significativa entre equipamentos tradicionais e equipamentos energéticamente eficientes. Não é verdade. A diferença de custo é irrisória. Principalmente quando se tem em conta a poupança em consumo ao longo de toda a vida útil do elevador. No entanto, a eficiência energética e o baixo impacto ambiental não são considerados prioritários nestas decisões. E depois há algo de muito importante: muitas vezes, não é quem escolhe o elevador que vai pagar as facturas da energia.

Fonte: OJE

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