26 setembro 2012

Cultura e regeneração urbana


Por Elisa Pérez Babo*

Nas últimas décadas, têm-se multiplicado, no contexto internacional, os exemplos de apostas na cultura como fator de desenvolvimento urbano e, particularmente, como motor de processos de reabilitação e regeneração urbana.

As atividades culturais e criativas passam a estar no centro de diversas estratégias urbanas. A criatividade e a cultura entram, por sua vez, nas agendas do planeamento e da gestão urbanas.



A dimensão espacial da cultura e os traços de singularidade e especificidade que ela confere às cidades ou a determinadas áreas urbanas têm sido referenciados por diversos autores. As atividades culturais, artísticas e criativas interagem, dentro do espaço urbano, com um conjunto de outros recursos e fatores, físicos, humanos e organizacionais. Esta interação tem suscitado frequentemente fenómenos mais ou menos sustentados de desenvolvimento de novas fileiras da economia cultural e criativa (tendencialmente clusterizadas), de criação de emprego qualificado, de transformação das práticas e consumos culturais e urbanos. Por outro lado, é sinónimo, com frequência, de uma nova imagem, designadamente para alguns setores urbanos onde a presença de estruturas física e funcionalmente obsoletas se tornara dominante.

A realidade portuguesa tem confirmado estas tendências em inúmeras cidades. Será contudo interessante refletir sobre o papel que as políticas públicas podem ter no sentido de valorizar a relação virtuosa entre cultura e regeneração urbana. É fundamental diversificar os modelos de responsabilização política e de gestão orientados para os setores cultural e criativo a nível urbano. A cooperação e as parcerias entre os diversos segmentos - artistas e outros agentes culturais individuais, empresas e instituições sem fins lucrativos do setor cultural e criativo, autoridades políticas locais e centrais, cidadãos e representantes da sociedade civil - constituem uma prioridade inquestionável.
 Independentemente do carácter dos processos, que podem emanar de dinâmicas bottom-up procedentes da ação dos próprios agentes e stakeholders instalados na cidade ou resultar de estratégias e programas protagonizados pelas autoridades locais, a intervenção dos poderes locais responsáveis pela coordenação e integração das diversas políticas setoriais a nível urbano constitui uma necessidade, num quadro de sustentabilidade e maior enriquecimento.

O próximo seminário internacional, a realizar em Santo Tirso em finais de outubro, centra a sua temática no conceito de "Quarteirão Cultural" e constitui uma oportunidade para uma reflexão alargada sobre estas questões.

* Economista, administradora da Quaternaire Portugal, Consultoria para o Desenvolvimento

Fonte: OJE

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