Apesar da falência de muitas empresas ligadas ao imobiliário e à construção, existem casos em que a crise no sector tem sido ultrapassada com aumento de produção, sobretudo para aquelas que apostaram na internacionalização. É o caso da Casais, empresa familiar na área da construção, que entre 2011 e 2013 registou um aumento de 500% no mercado externo.
Só em 2013, a Casais apresentou um volume de negócios de 335 milhões de euros. Apenas 30% foram oriundos de projectos em Portugal, tendo a construtora registado um decréscimo de 12% face a 2012. Já a nível internacional, a Casais teve um aumento de 35%.
António Carlos Rodrigues, CEO da Casais, revelou ao SOL que a empresa não deixou de actuar no mercado nacional, mas os projectos internacionais são neste momento a base de negócios do grupo. A empresa tem em curso diversas obras actualmente, sobretudo na área da reabilitação, nomeadamente dois grandes hotéis na Avenida da Liberdade, em Lisboa: Porto Bay Liberdade e Bessa Hotel Lisboa, da BBon.
“As obras de reabilitação são uma forma de continuar a trabalhar em Portugal, mas não são suficientes para manter a empresa. Passámos a facturar metade do que fazíamos há uns anos no mercado nacional, enquanto a nível internacional triplicámos”, revela o CEO. Além destes projectos, a Casais está também a construir um resort em Mourão, o L'And Reserve.
60% da actividade em África
No momento actual, 60% da actividade da Casais é realizada em África, sobretudo em Moçambique, Angola, Argélia e Marrocos. António Rodrigues revela que nestes países são necessárias infra-estruturas básicas - escolas, hospitais, saneamento básico e muitos outros equipamentos fundamentais. Só nessa vertente a Casais terá muito trabalho para os próximos 10 anos. “Temos perto de 300 quadros a trabalhar no exterior”, salienta o responsável.
Além do continente africano, a Casais está presente também na Europa, em países como a Alemanha, França, Bélgica, Gibraltar e Holanda. Encontra-se ainda no Brasil e no Qatar.
Mão-de-obra qualificada vai faltar no futuro
Perante o panorama actual de Portugal, António Carlos Rodrigues adianta que o sector da construção tem sido um dos mais afectados pela quebra na economia. Isso comprova-se no número de trabalhadores, que passou de 600 mil em 2008/2009, para os actuais 300 mil. “Só não tivemos mais problemas sociais porque quase todos os trabalhadores foram para fora”.
O responsável da Casais mostra, entretanto, alguma preocupação com esta situação: “No futuro vamos ter falta de mão-de-obra qualificada, porque os nossos especialistas estão a sair e os cursos em Portugal começam a perder jovens interessados nestas áreas, sobretudo as engenharias”.
É nesse sentido que a Casais tem realizado uma forte aposta na formação. Para o empresário, é fundamental que os seus quadros estejam bem preparados. Precisamente a pensar no futuro, tem uma estratégia bem definida para formar os trabalhadores, quer portugueses quer os locais, que trabalham para a Casais. “Demorámos 20 anos a conseguir uma actividade sólida nos países onde estamos a trabalhar, por isso estamos concentrados nesses mercados”, salienta.
Mercado português está irracional e desequilibrado
O responsável da Casais vai ainda mais longe e admite que o mercado nacional está irracional e desequilibrado: “Continua a existir pouco investimento e nos concursos públicos só se privilegia o preço. Em muitos concursos, a maioria das empresas apresentam valores 40% abaixo do base”. Segundo António Carlos Rodrigues, “Isso destrói qualquer viabilidade de se apresentar um projecto com um valor justo e com qualidade”. Explica que na maioria das vezes a Casais nem concorre aos concursos públicos e defende que “o princípio da sustentabilidade devia constar na Constituição, tal como acontece na Colômbia, por exemplo”.
O responsável alerta mesmo para o facto de a crise vir novamente incentivar à má construção em Portugal. “Estamos a criar empresas mutiladas. O Governo tem de definir um preço justo para a construção”, conclui.
Fonte: Sol
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