Que me perdoem os Pink Floyd, com quem cresci e ainda passo tempo a ouvir, mas "I wanna be another brick in the wall".
Acontece que passamos muito do nosso tempo em casas. A nossa casa, a casa dos pais, a casa do pai, a casa da mãe, a casa dos avós, casa dos amigas. Casa da cidade... Casa de campo... Casa de praia...
Ao longo da vida vamos trocando de tectos e soalhos e o nosso sono continua entregue a paredes que nos vão sobreviver e continuar a proteger outros sonos, outras sestas, amores felizes e amores infelizes, vidas de pessoas que precisam de casas para fazerem nelas grande parte das suas vidas.
Dizem que as nossas casas reflectem a nossa personalidade. Dizem que as nossas casas são os nossos ninhos, a nossa muralha, mas também dizem que se abrirmos as portas das nossas casas estamos a abrir a porta do nosso coração a quem por elas entra.
Dizem que as casas têm urna determinada energia, pergunto: Quando lá chegamos e ficamos, será que foi por causa dessa energia?
Dizem tudo isto e dizem bem, mas às vezes esquecem-se também de dizer que não são precisas áreas muito grandes nem ginásios, piscinas, pátios ou jardins. Porque eu vivi numa Grande de Família, onde a Família era muito maior do que a casa. E coubemos sempre todos e nunca sentimos frio nem muito calor e gerações assistiram a outras gerações lá morar, lá namorar, na casa. Os bebés tornaram-se crianças, as crianças cresceram. Esta casa que só tinha uma casa de banho nunca viu ninguém em aflição. Era a nossa casa de férias. E a casa de fins-de-semana. De sempre e para sempre. Era a Ericeira toda nela. Hoje já não está na nossa família, mas está no nosso coração, na nossa pele, e nas outras casas onde tentamos todos reproduzir os capítulos simples e/ou intensos do sítio onde almoçavam quatro ou quarenta e nunca ninguém ficava zangado, pelo menos muito tempo.
Dizem até que a vida não é "um amor e uma cabana". É, é! E cada casa é construída, pensada, virada a norte ou a Sul, com vista de mar, céu ou terra. para ser vivida em amor. Com amor. Por amor.
Os imóveis são móveis que viajam connosco nas lembranças, nas saudades ou no bolso do casaco.. numa poloroid.
Fonte: Magazine Imobiliário / Foto: Anabela Loureiro
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