02 abril 2014

Temos em Portugal um mercado imobiliário transparente?


Temos em Portugal um mercado imobiliário transparente?
Já há muitos anos a trabalhar na área de research e consultoria no setor imobiliário, a procura de informação consistente e fiável, para análise, faz parte do meu dia-a-dia.
Diria que existem, em Portugal, três níveis distintos de informação, de acordo com o seu grau de acessibilidade: informação pública, informação semi-pública e, informação exclusiva das empresas prestadoras de serviços imobiliários.

O mercado de investimento imobiliário é o que beneficia de mais informação pública. Esta inclui, nomeadamente, o valor das aquisições efetuadas pelos fundos imobiliários (divulgada no site da CMVM), índices de rendibilidade dos fundos de investimento (APFIPP) e índices de retorno de investimentos imobiliários (IPD). 

Temos depois um conjunto de informação, que designo como semi-pública, que é disponibilizada por empresas particulares que agregam a informação dos diversos agentes imobiliários presentes no mercado e fornecem indicadores de performance como o LPI para o mercado de escritórios de Lisboa e o SIR para o

mercado residencial em determinadas zonas do país. Esta informação é semi-pública na medida em que as grandes tendências do mercado são divulgadas na imprensa mas um maior detalhe da informação é apenas acessível aos seus participantes e também subscritores (no caso do SIR). Deve-se assim à iniciativa privada, a única fonte de informação, ainda que agregada, da evolução dos valores reais (e não pedidos) de comercialização. 

Por fim, temos a informação exclusiva das grandes empresas prestadoras de serviços imobiliários (como a CBRE), que pelo facto de serem agentes no mercado e nele atuarem há muitos anos (no caso da CBRE há mais de 25), são detentoras de um elevado nível de informação.

A minha primeira perceção é de que dispomos de bastante informação, mas que o mercado imobiliário em Portugal é ainda pouco transparente no que respeita a valores de transação. Penso que, por uma questão cultural mas também devido à nossa reduzida dimensão, é raro encontrar comprador, vendedor, proprietário ou ocupante disponível para divulgar publicamente este tipo de informação.

Tive a semana passada a oportunidade de participar na conferência anual da CBRE EMEA Research e aproveitei para conversar com os meus colegas de outros países sobre este assunto e comparar o nível de informação pública, bem como, as práticas de recolha de informação em cada mercado. Concluí que, na verdade, em muitas situações até estamos mais avançados que outros países da Europa Ocidental, nomeadamente nos mercados de investimento e de ocupação de escritórios: temos muitas vezes mais informação pública e empresas privadas a tratar a informação.

Há, no entanto, alguns países onde a informação relativa aos valores de transação é inclusivamente divulgada na imprensa. O caso mais extremo é o mercado inglês onde de facto a transparência do mercado se distingue, nomeadamente, no mercado residencial. Em Inglaterra todas as transações (comerciais e residenciais) são registadas na entidade correspondente em Portugal à Conservatória do Registo Predial da região. Esta informação é acessível a qualquer um, mediante o pagamento de um determinado valor, que não é significativo.

Mas para além disso, há empresas de motores de busca residenciais, como é exemplo a Rightmove e a Zoopla, que compram esta informação e a disponibilizam online, permitindo que qualquer pessoa que aceda a esse site possa saber o valor de cada casa vendida em determinada zona. Não querendo ir tão longe, considero que seria já bastante útil se fosse possível em Portugal saber o valor médio de venda das casas em todos os bairros/localidades do país.

Concluo pois, que o nível de transparência do nosso mercado, nomeadamente de imobiliário comercial, é bastante razoável tendo em conta a reduzida dimensão e liquidez do mesmo. Contudo, ganharíamos todos certamente se houvesse mais entidades a participar nos índices de mercado existentes (de escritórios e residencial) e se houvesse uma partilha semelhante de informação para os mercados de retail e industrial onde de facto o mercado é muito menos transparente.

Por Cristina Arouca, Associate Director da CBRE/OJE

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