30 maio 2014

A festa já começou?



Ao longo dos últimos 16 anos de experiência no mercado imobiliário, assisti a alguns períodos em que o setor se regozijava de um determinado facto, que se supunha vir a ter um impacto positivo de grandes dimensões no mercado, mas que depois, por uma ou outra razão, essa expectativa era gorada por algum “contra facto” que deitava tudo por terra, como um grande balde de água fria.


Uma destas situações ocorreu há uns anos, quando o Governo, depois de ter criado os fundos fechados de subscrição particular, que tal como os abertos eram isentos de IMT e de IMI, passado muito pouco tempo retirou esta isenção e passou a tributar estes fundos em 50% desses impostos (e mais tarde em 100%). Um investidor britânico apressou-se a contactar-me e disse-me, bastante incomodado, “the party is over before it began”. Depois veio a crise e a queda da Lehman Brothers após o verão de 2008. O mercado foi piorando cada vez mais, até que o resgate em abril de 2011 fez com que se congelasse quase em definitivo o interesse dos investidores internacionais em Portugal.

Ninguém no mercado imobiliário o previu, nem estava preparado para viver neste contexto e, por isso, passámos alguns anos em negação, tentando fingir que nada disto tinha acontecido.

Só a partir de meados de 2012 é que o mercado começou lentamente a reconhecer que os preços tinham que ser ajustados à realidade, para resolver os problemas e andar para a frente.

Depois do verão do ano passado, parece que os investidores acordaram para os países que tinham estado à beira de sair do euro, nomeadamente a Irlanda e os do sul da Europa, Portugal incluído. O resultado é que Portugal está na mira e na moda e que o volume de capital para investir é tão grande que algum acabará por cá vir parar, desde que haja bons produtos onde investir. No entanto, temos de admitir que a economia portuguesa ainda se encontra numa situação débil, o que faz com que qualquer deslize possa fazer com que os investidores recuem e ponham de novo os seus investimentos em causa.


Não podemos descansar à sombra de uma situação aparentemente mais favorável sem estarmos bem cientes de que o nosso país ainda tem muito trabalho pela frente. Não sabemos se é alguma derrapagem do crescimento do PIB (no primeiro trimestre caiu 1,7% face ao mesmo período do ano anterior), se é algum banco precisa de ser resgatado ou se é algum evento que acontece “depois do verão”, mas temos que estar preparados para que a festa não acabe antes de ter começado. Oxalá não aconteça para bem de todos nós, mas é preciso que as lições dos últimos anos não tenham sido esquecidas.

Por FRANCISCO HORTA E COSTA, DIRETOR GERAL DA CBRE


Fonte: OJE

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