22 agosto 2014

Turismo dinamiza imobiliário


O arrendamento de curta duração de apartamentos veio proporcionar rentabilidade a imóveis que com a crise não foram vendidos.
Lisboa e o Porto estão na moda e recebem anualmente milhares de turistas que acabam por dinamizar o imobiliário destas cidades. É que muitos proprietários encontraram no short term rental (arrendamento de curta duração) para turistas a solução para ocuparem e rentabilizarem apartamentos que com a crise do mercado imobiliário não conseguiram vender. As taxas de ocupação destes espaços são elevadas e as empresas que se dedicam a esta atividade não têm dúvidas de que com o turismo a crescer, este é um negócio com futuro.

Rita Corrêa Figueira é proprietária da empresa F2is, especialista no desenvolvimento de projetos de reabilitação urbana e consultoria. Em 2011 terminou uma obra de reabilitação no Porto, com 12 apartamentos, dos quais apenas vendeu um. Foi já no ano seguinte que teve a ideia de explorar as restantes casas deste edifício para arrendar a turistas. Equipou os apartamentos com mobiliário flexível que duplica a ocupação do espaço e criou a marca Design Oporto Flats que se dedica a arrendamento de curta duração. "E um negócio fruto dos obstáculos que foram aparecendo. Quando começámos no Booking existiam 11 apartamentos no Porto e neste momento são mais de 100. Tal como nós houve quem se apercebesse de que era um negócio que estava a ter algum sucesso e começaram a converter os negócios que tinham para esta área", explica Rita Corrêa Figueira. Acrescenta que os Design Oporto Flats conseguiram implantar-se no mercado apesar da concorrência que existe hoje na Invicta e que praticamente era inexistente à data de lançamento da marca.

Do Porto para Lisboa

Em março deste ano, Rita Corrêa Figueira expandiu a sua atividade para Lisboa. "Abrimos os Design Chiado Flats na rua do Carmo, num prédio recuperado pelo arquiteto Alvaro Siza Vieira. Temos dez apartamentos que são propriedade de um fundo e que passámos a explorar para fins turísticos", explica. No primeiro mês a taxa de ocupação foi baixa, mas agora é superior a 80%. "A adesão dos turistas é muito boa e há bastante oferta e muito qualificada neste nicho de mercado", refere Rita Corrêa Figueira. E para responder à procura, em setembro vai abrir também em Lisboa o Amoreiras Design Flats, ou seja, mais dois apartamentos localizados num prédio que está a recuperar e que vão ser explorados para arrendamento de curta duração. Para a proprietária da F2is, "o turismo tem sido o motor da reabilitação dos centros históricos, para o aparecimento de novos negócios e revitalização das cidades o que, por si só, justifica também uma cada vez maior procura pelas nossas cidades". Na prática turismo puxa turismo, o que não só dinamiza o imobiliário como toda a estrutura económica nacional.

A história de Thomas Gerer é muito semelhante à de Rita. Desde 2002 que se dedica a recuperar edifícios antigos na zona histórica de Lisboa que depois arrenda ou comercializa. Há três anos criou a marca Lisbon Short Stay que alberga 29 apartamentos para arrendamento de curta duração, distribuídos por três edifícios contíguos situados na baixa pombalina. "Na altura não conseguimos arrendar os apartamentos por causa da crise e foi uma boa forma de rentabilizar os imóveis", conta. As tipologias aqui presentes são T2 com áreas entre os 70 e 80m2, pelos quais cobram €80/noite e as suas taxas de ocupação rondam os 80% a 85%. Os apartamentos têm limpeza diária e existe uma receção que recebe os clientes, como se de um hotel se tratasse. Apesar do sucesso deste projeto, Thomas Gerer conta que em torno da Rua dos Sapateiros, local onde a Lisbon Short Stay se situa, estão em curso obras para apartamentos de short terrn rental, hotéis e hostels. A concorrência nesta zona está a aumentar e para o empresário "não tarda quase não temos moradores normais na baixa. O português é assim, quando um negócio resulta, todos querem". 

Turismo potencia negócio 

De volta ao Porto, José Maria Reina dirige a By Oporto Apartments, uma empresa que administra imóveis próprios e de terceiros exclusivamente no mercado de arrendamento de curta duração. "Temos quatro unidades num total de 27 apartamentos, estamos a construir mais uma que ficará pronta até o fim deste ano. São apartamentos multifuncionais, com todas as comodidades de um hotel. Os valores rondam os €50 e os €100/ noite", explica. Também aqui a taxa de ocupação das quatro unidades, o By Bolhão, By Almada, By Clérigos e Look at Me, é grande, rondando os 90%. José Maria Reina conta que enveredou por este negócio "já que se torna um investimento com elevadas taxas de rentabilidade, se bem administrado". E tem possibilidades de florescer na Invicta. "É uma cidade que era totalmente desconhecida em mercados estrangeiros e por uma percentagem significativa de Portugueses residentes na região sul que agora estão a olhar para o Porto corno uma boa escapadela de fim de semana ou para um curto período de férias", frisa. 

Além das empresas que trabalham neste mercado, muitos portugueses estão cientes da procura nesta área e têm colocado as suas casas para arrendamento de curta duração em sites, nem sempre devidamente legalizados. Segundo a lei, quem se dedica a este tipo de atividade deve estar registado na autarquia da sua área como alojamento local. Na prática são considerados estabelecimentos de alojamento local as moradias, apartamentos e estabelecimentos de hospedagem que dispondo de autorização de utilização, prestem serviço de alojamento temporário, mediante remuneração, mas não reúnam os requisitos para serem considerados empreendimentos turísticos. 

185 apartamentos no Porto 

A título de exemplo do potencial deste nicho de mercado, segundo dados da Câmara Municipal do Porto, entre 2009 e junho deste ano foram registados 185 apartamentos para alojamento local por 39 empresas diferentes. Um total que se distribuiu por um apartamento registado em 2009 e outro em 2010, zero em 2011, 77 em 2012, 70 em 2013 e 36 até junho deste ano. Em relação à capital não foi possível obter dados por parte da Câmara Municipal de Lisboa. 

"Quem quer cumprir a lei e estar legal nesta atividade tem um conjunto muito simples de ações e registos a desenvolver", explica Joaquim Ribeiro, presidente do sector de empreendimentos turísticos e alojamento local da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP). Acrescenta que a lei em vigor tem lacunas, mas o novo diploma já aprovado em Conselho de Ministros, a aguardar publicação em "Diário da República", traz alterações, nomeadamente uma simplificação de processo de registo que espera venha a trazer para a legalidade unidades de alojamento que estão na economia paralela. Dos 350 sócios de alojamento local da AHRESP, cerca de 30% laboram na área dos apartamentos, mas Joaquim Ribeiro estima que este número venha a crescer até ao final do corrente ano. "Este mercado tem crescido exponencialmente, sobretudo nas zonas urbanas. O que se está a passar em Lisboa e no Porto é que a oferta aumentou, sobretudo devido à reabilitação urbana e ao excedente de oferta imobiliária que ocorreu nos últimos cinco anos", finaliza Joaquim Ribeiro. 

Fonte: Expresso

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