12 setembro 2014

RICS - Portugal é dos países com maiores expectativas de investimento da Europa


Louise Brooke-Smith é a primeira mulher a assumir a presidência do RICS.

Em entrevista, assume opiniões muito fortes sobre o "universo" do RICS e sobre o imobiliário europeu e português.

Quebrou com a tradição de 146 anos de história ao assumir o cargo de presidente, como se sente em relação a este Feito? 
Tenho a honra de ser a primeira mulher presidente do RICS, embora seja apenas uma dos muitos altos membros do sexo feminino que já lideram a profissão. Por exemplo, o nosso vice-presidente sénior, o presidente da nossa maior região mundial e o presidente do nosso grupo de jovens profissionais são igualmente mulheres. 

0 RICS representa 180 mil profissionais de 140 países a nível mundial. Tendo esta realidade em conta, quais são as suas principais prioridades para 2014? 
A minha principal acção é ajudar a atingir o objectivo central do RICS que é ser reconhecido como um corpo profissional de liderança que promove e aplica as mais elevadas qualificações e normas profissionais no desenvolvimento e gestão de propriedades, imóveis, construção e infraestruturas. no âmbito desta prioridade global, vou dar um particular ênfase a África, à diversidade e ao planeamento e economia do território. Em África iremos implementar a nossa estratégia na África Subsaariana em colaboração com instituições de ensino locais e organizações do sector público e privado no sentido de desenvolver padrões profissionais que possam ser aplicados em toda a África. Esta é uma área que me é muito querida e acredito que muitos dos nossos membros em Portugal também tenham laços pessoais com África. Ao nível da diversidade, apesar de a nossa indústria possuir uma enorme difusão de especialidades, a realidade é que deixa para trás a diversificação da força de trabalho. A nossa relevância depende da capacidade em atrair os mais brilhantes e mais entusiásticos talentos independentemente da sua origem, sexo ou qualquer outro factor. Durante todo o meu mandato, e mais além, irei dar especial atenção às temáticas da mobilidade social e do acesso justo à profissão. 

No âmbito do planeamento e economia territorial, refira-se que esta é a minha área de especialização a nível profissional e por isso vou promover o intercâmbio de boas práticas no planeamento do uso do território que considero ser um elemento essencial para determinar de que forma o crescimento da população deve ser feito em prol dos espaços onde e como vão viver e trabalhar. Vou também promover as boas práticas no planeamento de projectos como pré-requisito para o sucesso dos mesmos. 

Qual é a sua opinião sobre o estado actual dos mercados imobiliários e do desenvolvimento imobiliário na Europa? 
O panorama europeu é misto. O mais recente estudo da RICS - Global Commercial Property monitor -, revela que o retorno positivo mais significativo, sentido nos últimos seis-12 meses, surgiu no seio de alguns dos membros da zona do Euro nomeadamente dos que foram mais duramente atingidos pela crise financeira de 2008, ou seja, Espanha, Portugal e Irlanda. Por exemplo, a procura em Espanha parece estar a aumentar a um ritmo muito mais rápido do que na maioria das nações para as quais o RICS possui informação. Além disso, Portugal e Espanha são os países que detêm actualmente as mais elevadas expectativas de transacções e de investimento. Esta realidade está em sintonia com um cenário económico mais positivo, embora as recentes preocupações com o sector bancário em Portugal revelem a natureza frágil da recuperação do País. Em contrapartida, em outros Estados-membros da zona do Euro - como é o caso dos Países Baixos, Itália e França -, as perspectivas de actividade do mercado imobiliário são, de um modo geral, fracas. Dito isto, as perspectivas de investimento destes mercados são, no entanto, um pouco mais optimistas. Para os próximos 12 meses, estima-se que os valores de capital cresçam, em maior ou menor grau, nestes três países. 

Como economista do território urbano e planeamento de cidades, considera que a política de ordenamento do território no Europa está no caminho certo ou precisa de uma nova abordagem? 
A Europa possui uma grande variedade de diferentes regimes de planeamento. A minha experiência profissional decorre principalmente do sistema britânico, que se baseia no princípio de que os planos de desenvolvimento destinam-se a espaços que podem ter diferentes usos do solo. Tem havido uma forte aposta no 'local' e encorajamento no planeamento de bairro como parte da abordagem do plano global de desenvolvimento, tornando possível às comunidades identificar e sugerir os possíveis usos que podem ser dados às terras nas suas respectivas áreas. Isso tem ajudado a resolver o problema de longa data de qualquer abordagem política ser capaz de atender às aspirações locais. Esta realidade torna-se notória quando se constata que existe uma extrema necessidade de uma maior oferta de casas em todo o país. O Reino Unido está a começar a ter mais desenvolvimento habitacional mas, na minha opinião, é irregular e necessita de soluções mais criativas para ser possível casar o sistema de planeamento com a procura do mercado. 

Conhece, de alguma forma, o mercado imobiliário português? 
Não tenho experiência pessoal do mercado português, mas os nossos membros em Portugal dizem-nos que, depois de alguns anos muito difíceis, estão claramente a sentir mais actividade desde o início deste ano. Isto é válido tanto para o capital imobiliário, com Fundos de todo o mundo a querer agora investir em Portugal, como para os investi-dores, onde empresas e retalhistas parecem estar cada vez mais confiantes. Portugal teve, obviamente, de Fazer algumas reformas estruturais dolorosas, mas necessárias, e para o sector imobiliário em particular, a alteração da tão esperada lei de arrendamento tem sido um verdadeiro condutor para a mudança - como é demonstrado pelo grande número de projectos de reabilitação actualmente em curso em cidades do interior. A crise também aumentou a consciência para a necessidade de existir um aconselhamento imobiliário transparente e objectivo, que é exactamente o que os membros do RICS podem proporcionar.

Fonte: Magazine Imobiliário

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