
A situação está a preocupar os bancos, que criaram já um grupo de trabalho para analisarem as implicações das taxas passarem para terreno negativo, adiantava na quinta-feira passada o "Jornal de Negócios". A Associação Portuguesa de Bancos não quis dar pormenores e remeteu para a posição escrita que emitira na véspera: "Embora não se preveja que a Euribor a 3 ou 6 meses venha a atingir valores negativos, a APB deve estar preparada para lidar com tal eventualidade e antecipar potenciais questões".
Já a Deco - Associação de Defesa do Consumidor reconhece que seria uma "faca de dois gumes": "O consumidor tanto tem créditos como tem depósitos. É inequívoco que quanto mais baixa for a taxa de juro, menor será a prestação a pagar, mas também menores serão as remunerações dos depósitos. Tudo depende do ponto de vista. Um consumidor muito endividado achará muito positivo, enquanto que, para outro que esteja pouco endividado e com um grande volume de depósitos, já não será nada positivo", sublinha João Fernandes, economista da Deco.
Bancos
Teresa Gil Pinheiro, economista do BPI, também considera "muito pouco provável" que nestes prazos a que estão indexados os empréstimos as taxas venham a cair para terreno negativo. Quanto muito, aproximar-se-ão de zero e, nesse caso, o que aconteceria seria que as famílias teriam de pagar apenas o valor do spread contratado com o banco, diz.
Já fonte de outra instituição bancária ouvida pelo Dinheiro Vivo, e que quis manter o anonimato, garante que a situação das taxas de juro negativas [nos prazos a uma e duas semanas, que se referem às operações interbancárias] não passam de uma "anomalia de mercado" e que "se vai corrigir normalmente". E mesmo que as taxas de referência dos créditos à habitação viessem a cair para valores negativos, diz, tal não significa que os bancos pratiquem taxas negativas. "Há sempre formas de mexer nos spreads", lembra.
De qualquer forma, para este responsável, a ideia da existência, em permanência, de taxas negativas, "é, na sua essência, verdadeiramente absurda" porque significaria "o fim do sistema financeiro". E porquê? "Porque ninguém deposita dinheiro a perder capital e os bancos também deixariam de emprestar porque, no limite, acabariam a pagar. É uma situação completamente fora de contexto e desajustada", frisa.
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"BCE tenta forçar os bancos a emprestar"
Economista do Banco Carregosa
Que efeito tem no crédito à habitação taxas Euribor em terreno negativo?
À partida, as taxas poderão estar um dia ou dois em terreno negativo, mas não é expectável que estejam mais que isso, e a taxa do crédito à habitação é sempre calculada com base na média dos últimos 10 ou 20 ou 30 dias, depende dos bancos e dos prazos. Se for a Euribor a seis meses pode ser a média dos últimos três meses.
Mas imagine que se mantém negativa por um período maior. O que acontece?
O banco pode sempre aumentar um bocadinho ao spread. De qualquer forma, imagine um spread de 1,5% e uma Euribor de 0,1% negativa. A prestação seria de 1,4%. Haverá sempre lugar ao pagamento de uma prestação, é quase impossível não haver lugar a pagamento.
A que se deve toda esta situação?
À vontade do Banco Central Europeu de forçar o sistema financeiro a emprestar o dinheiro que tem parqueado sem grande retorno. O BCE quer aumentar a massa monetária na economia, fomentando quer o consumo quer o investimento. O objetivo é conseguir subir a inflação para os valores históricos e desejáveis de 2%, quer por via da pressão dos consumidores sobre os preços, quer pelos negócios, pela abertura de mais empresas, o que implica também, maior consumo, mais máquinas.
Impulsionar o crescimento económico na Zona Euro...
Exatamente. Através de uma política monetária expansionista bastante agressiva. Que se espera que crie emprego e aumente a produtividade. É sempre um risco. Em termos teóricos, é positivo. Não sabemos se, na prática, vai resultar.
Fonte: Dinheiro Vivo
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