19 abril 2015

Escassez de oferta está a condicionar mercado de escritórios em Lisboa


A absorção de escritórios aumentou significativamente em 2014 e as perspetivas para 2015 são ainda mais otimistas. Contudo a escassez de escritórios no mercado de Lisboa está a comprometer a performance do mercado. Na opinião de Pedro Salema Garção, head of agency, da Worx, “as perspetivas para o segmento de escritórios são positivas, embora a escassez de oferta nova possa condicionar significativamente a performance do mercado, uma vez que a oferta existente não corresponde aos requisitos da procura, sobretudo em termos de dimensão”. Ainda assim, salienta, espera-se que este ano termine com um volume de take up (ocupação), em linha com o registado o ano passado.


Opinião semelhante tem Carlos Oliveira, partner, diretor de escritórios da Cushman & Wakefield. “A nossa expetativa, que se confirma com os dados do primeiro trimestre, é de uma absorção muito em linha com o que aconteceu em 2014”. Acrescenta, “esta dinâmica pode ser prejudicada pelo facto de começar a escassear a oferta de qualidade e com dimensão em Lisboa, o que poderá ter impacto nos arrendamentos de áreas significativas por parte dos grandes ocupantes”. A redução das operações de maiores dimensões, ou o facto de ocorrerem em pré-arrendamento, poderá ter algum impacto no take up do final do ano, uma vez que dificilmente serão compensadas por algum aumento de arrendamentos de pequena e média dimensão, alerta Carlos Oliveira. 

Aliás, de acordo com os últimos dados conhecidos, o mercado de escritórios da Grande Lisboa entrou em 2015 a dar sinais de consolidação do crescimento da procura que se viu no ano passado. “De Janeiro a Março foram fechados, na Grande Lisboa, 69 negócios, totalizando perto de 30.000 m2 de espaços ocupados e refletindo um crescimento de mais de 70% face a igual período de 2014, e mais de 60% acima da média dos últimos 5 anos, refere a C&W

Paulo Henriques, partner da B. Prime, prevê “a continuação de uma recuperação do mercado em relação a 2014. Isto se a situação na Grécia se mantiver estável”. Contudo, acrescenta, “se nos referirmos apenas às variáveis internas da nossa economia a recuperação estará apenas ameaçada pela crescente falta de escritórios de qualidade para ocupação imediata. Essa será, sem dúvida, a principal barreira a que a absorção de espaços durante 2015 não seja superior à registada em 2014”, alerta o responsável da B. Prime

Eduardo Fonseca, diretor do departamento de escritórios da Aguirre Newman, acredita que a retoma do mercado de escritórios está em curso, avizinhando-se assim um possível ano histórico no que diz respeito ao número de m2 colocados”. Refira-se que a absorção de escritórios, em Lisboa, entre Janeiro e Fevereiro, totalizou já 19.152 m2, valor superior em 47% ao verificado em igual período de 2014.

“Estamos muito otimistas e acreditamos que em 2015 o mercado vai manter, e mesmo melhorar, a boa performance registada em 2014. Os indicadores do primeiro trimestre são muito positivos e notamos, de facto, um forte dinamismo no mercado, com um número mais elevado de operações e até uma maior celeridade no fecho das mesmas”, considera Mariana Rosa diretora de office agency da Jones Lang Lassale. Acrescenta que, “ao longo destes meses temos constatado que as empresas estão mais ativas e mais confiantes, o que se reflete não só no crescimento da procura mas também no arrendamento de áreas maiores”. Na opinião da responsável da JLL, isto é um sinal evidente de que as empresas estão a expandir-se, mas esta dinâmica que se sente no mercado é também o resultado de uma tendência que observamos cada vez mais. “Falo da aposta de algumas multinacionais para instalarem em Lisboa os seus escritórios, nomeadamente call centers, em detrimento de outras cidades europeias”, destaca Mariana Rosa.

Áreas com maior escassez 

A falta de escritórios qualificados sente-se em toda a cidade de Lisboa, ainda assim, há áreas que se apresentam com uma maior escassez de oferta. “As zonas 1 e 2 (zona mais central de Lisboa – Avenida da Liberdade/Av. Fontes Pereira de Melo/ Saldanha/Amoreiras) são, sem dúvida, as mais afetadas, especialmente quando falamos em espaços de grande dimensão”, destaca Pedro Salema Garção. 

Para o responsável da Worx, a zona 2 foi, em 2014, o local com mais dinamismo, representado perto de 30% do total da área ocupada. Este valor foi fortemente influenciado pela entrada em stock do edifício Duarte Pacheco 7 que foi terminado e totalmente ocupado (mais de 17.000 m2) durante o ano passado. A zona 5 (Parque das Nações) manteve a sua atratividade ao longo de 2014 e é, neste momento, uma das áreas com menos produtos em stock. “A falta de edifícios novos ou reabilitados nestas zonas tem levado as empresas a procurar espaços um pouco mais afastados do centro da cidade e que ofereçam rendas mais competitivas”, destaca Pedro Garção. 

Mariana Rosa considera que, neste momento, há grande falta de escritórios com grandes áreas e de qualidade em todo o mercado, sendo particularmente visível nas zonas 5 (Parque das Nações) e 3 (Eixo da 2ª Circular ao Campo Grande, incluindo Praça de Espanha / José Malho – a nova zona de escritórios). “No caso do Parque das Nações, a escassez de oferta deve-se ao facto de nos últimos anos se ter registado nesta zona um grande ajustamento das rendas, o que aliado à boa localização e à qualidade de grande parte dos edifícios fez com que muitas empresas optassem por mudar para esta área da cidade”, alerta Mariana Rosa. Na zona 3 a falta de promoção nova faz com que seja cada vez menor a oferta de escritórios nos poucos edifícios de escritórios existentes. 

Paulo Henriques é também de opinião que a falta efetiva de escritórios de qualidade começa a fazer-se sentir em Lisboa. “O exemplo mais evidente dessa falta de escritórios é a zona do Parque das Nações onde a falta de alternativas em relação à existente há cerca de dois anos é por demais evidente”, destaca. 

Por seu lado, Carlos Oliveira destaca que a falta de escritórios “apenas se verifica em zonas determinadas e com dimensões significativas. O índice geral de disponibilidade ainda ronda os 11% pelo que não se pode falar em escassez de oferta. Se introduzirmos o fator qualidade a análise será diferente porque dos 11% referidos há algum produto obsoleto e muita oferta a necessitar de algum investimento em remodelação”. 

Para Eduardo Fonseca, a escassez é visível, “mas apenas em algumas zonas da cidade dentro de algumas tipologias de áreas, como exemplo a zona 5, Parque das Nações, principalmente para empresas que procurem áreas superiores a 1.000 m2 que terão alguma dificuldade de obter resposta”.

Fonte: Vida Económica

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