20 janeiro 2016

Mercado doméstico vai fazer mexer compra de casas este ano


O aumento do rendimento disponível deverá ter impacto no setor imobiliário já este ano, esperando-se “bons sinais” para o mercado de venda de casas devido aos compradores portugueses. “No imobiliário, penso que haverão bons sinais para o mercado de compra de habitação este ano”, antecipa João Duque, que explica que face a um maior poder de compra “as pessoas mudaram um pouco o seu comportamento e isso atira-as para a frente também para a compra de bens duráveis, como uma casa”.


O economista falava num pequeno-almoço organizado ontem em Lisboa pela revista Vida Imobiliária para antecipar a evolução do mercado imobiliário em 2016, onde marcaram presença banca, investidores, promotores, consultores e mediadores imobiliários. 


O último ano já começou a dar indicação nesse sentido, com “o mercado interno a crescer muito mais em 2015 do que o mercado internacional”, disse na ocasião Ricardo Sousa, Administrador da Century 21 Portugal, que acrescentou ainda que tal situação tem já “impacto em mercados como o da linha de Sintra, Grande Lisboa, Margem Sul e até mais periféricos como Santarém, por exemplo”. 

A maior dinâmica do mercado de venda de casas é visível nas operações realizadas e “hoje em dia, por cada três transações residenciais, uma é de arrendamento e duas de vendas”, o que é “uma inversão face ao que acontecia há três anos”, afirma Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, entidade que produz estatísticas e informação para o mercado residencial. Na sua perspetiva, tal deve-se ao facto de “hoje termos não só compradores como crédito”, embora José Araújo, diretor da Direção de Negócio Imobiliário do Millennium bcp, igualmente presente no encontro, defenda que “os Bancos nunca deixaram de emprestar dinheiro para comprar imóveis”, com especial foco “nos ativos das suas carteiras”, onde o crédito encontrava “taxas muito apelativas”. 

Para este responsável, a dinâmica do mercado doméstico deve ser vista não só nas perspetiva da compra pelo utilizador final já que “o mercado doméstico está ativo também para os pequenos aforradores que encontram no imobiliário, alavancado ou não, uma alternativa muito mais apelativa para investimento que os depósitos bancários.” E detalha: “A compra de um T2 ou de um T3 permite a um pequeno investidor obter yields em torno de 5%, quando as taxas de juro estão abaixo de 1%”. 

Face a este cenário, os operadores de mercado estão otimistas e esperam mesmo uma valorização dos preços das casas de 4% ao ano nos próximos cinco anos, de acordo com o PHMS, inquérito mensal realizado pela Confidencial Imobiliário e citado por Ricardo Guimarães. Este inquérito mostra, aliás, “uma consolidação do sentimento positivo desde 2013”, disse aquele responsável, que frisa que este otimismo é visível quer em termos de evolução de preços quer de tendências de mercado. 

Investimento estrangeiro deve ser pensado a longo-prazo 

O investimento estrangeiro, quer institucional quer particular, foi um dos destaques do mercado imobiliário em 2015, com níveis recorde de transações no imobiliário comercial e um crescimento importante na procura internacional de imóveis por particulares. Contudo, para Gilberto Jordan, CEO do Grupo André Jordan, “Portugal não tem conseguido atrair investimento de longo-prazo” o que no caso do imobiliário é crucial, já que “temos sempre de pensar em ciclos longos, de pelo menos 10 anos”. Também para Diogo Pinto Gonçalves, da sociedade gestora de fundos de investimento Selecta, “esta fase que estamos a viver agora não é sustentável a prazo”, já que “vivemos sempre dependentes do mercado externo”. 

Eric van Leuven, managing partner da Cushman & Wakefield, explica que em 2015 o investimento estrangeiro diversificou geografias e também perfis de risco dos negócios, constituindo a “esmagadora maioria do investimento transacionado em Portugal” no ano passado. Apesar de ainda não se registar “nenhuma grande desaceleração do interesse dos investidores internacionais”, Eric van Leuven alerta para o facto de o investimento estrangeiro ser “algo muito dependente da confiança” e nesse âmbito, o profissional destaca a importância de ser conhecido o Orçamento de Estado (OE) 2016, o que aliás foi frisado por muitos outros operadores presentes neste encontro. “Há efetivamente um sentimento de wait and see por parte dos investidores”, refere José Araújo, acrescentando que “a verdade é que em 2016 o OE ainda está em fase de gestão”. Também João Duque realçou a “ausência de um elemento muito importante para Economia, que é OE2016”. No âmbito imobiliário, este instrumento será também especialmente relevante para as transações motivadas pelo estatuto de residente não-habitual, no âmbito do qual os franceses têm vindo a destacar-se. “O mercado francês é particularmente sensível à questão dos direitos sucessórios” considera o presidente da APPII, Polignac de Barros, que considera que se tais direitos “lhes vierem a ser impostos no OE 2016” isso terá um impacto imediato neste mercado, “pois cria instabilidade fiscal e consequentemente uma quebra rápida de confiança”. Por isso, conclui, “será muito negativo para a economia real”, pois “há uma perda de investimento” e o “investimento estrangeiro é primordial para desenvolver a economia portuguesa”, conclui.

Fonte: Público Imobiliário

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