02 maio 2016

Mediação imobiliária: Retoma atrai novos empreendedores


O bom momento que se vive no sector tem vindo a atrair profissionais que nunca tinham trabalhado nesta área e que encaram agora a mediação imobiliária como uma oportunidade de negócio lucrativa. O sector imobiliário foi um dos mais afetados pela crise recente que abalou a economia nacional. Depois de anos negros de estagnação que empurraram para o desemprego e para a emigração centenas de profissionais especializados em quase todas as áreas do sector, o imobiliário tem vindo a dar sinais de recuperação.


Desde 2014 que o sector vem recuperando a sua dinâmica e atrai um número crescente de investidores. Entre eles está uma nova geração de empreendedores que, apesar de nunca antes terem trabalhado neste ramo, encaram a mediação imobiliária como um negócio com futuro. São novos perfis de empresários que fizeram carreira noutras áreas e que agora apostam na compra e venda de habitação.


Vêm de áreas como as Tecnologias de Informação (TI), o Direito, a Banca e Finanças e muitas outras onde consolidaram carreiras de sucesso (em muitos casos em sucessivos cargos de liderança) e hoje aplicam as suas melhores estratégias de gestão na compra e venda de imóveis. Manuel Mira Godinho é o exemplo mais recente desta tendência. O ex-administrador executivo da consultora Accenture Portugal e antigo presidente da comissão executiva da tecnológica. Glintt associou-se à consultora imobiliária norte-americana. Keller Williams em março deste ano, após um longo processo de análise ao mercado.

Depois de cessar funções na Glintt, em junho de 2015, Manuel Mira Godinho definiu como opção investir num projeto próprio. Engenheiro de formação e com uma carreira dedicada quase em exclusivo à liderança empresarial na área tecnológica, em funções nacionais e internacionais, ponderou investir em três sectores distintos: TI (aquele que à partida lhe seria mais confortável pelo conhecimento do mercado), Turismo (em clara expansão) e Imobiliário, uma área que desconhecia mas que apresenta "margem de progressão e espaço para novos projetos dinâmicos e inovadores", explica o empresário.

O plano de negócios de Manuel Mira Godinho (na foto) na Keller Williams contempla um investimento de 250 mil euros, ainda em curso. Enquanto dono de negócio (operating principal) da marca, o gestor terá licença para operar o mercado (market center) de Lisboa, sob a chancela Keller Williams Select (KW Select), que operará na zona do Marquês de Pombal. Em cinco anos, a sua previsão é de que a KW Select possa criar 150 postos de trabalho. O facto de desconhecer o sector, garante o empresário, não o intimidou. "Como é do domínio público, o sector imobiliário em Lisboa está a atravessar uma fase muito positiva, com muito investimento nacional e internacional. O potencial de valorização, face a outras capitais europeias, ainda é considerável", esclarece, salientando o importante papel da Keller Williams na área da formação, consultoria e coaching aos novos investidores da marca, permitindo minimizar os riscos do investimento.

Mais vendas aliciam empresários

Os números demonstram o aumento do investimento na área da mediação de imobiliária. Os dados da Associação Profissional das Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) confirmam que não só se transacionaram mais imóveis em Portugal nos últimos anos como há mais mediadoras a operar no mercado. Em 2013, Portugal somava 3.131 empresas em atividade. Em 2014 eram já 3.660 e, segundo os dados mais recentes da associação, 2015 fechou com 4.009 empresas de mediação a operar em solo nacional.

Luís Lima, presidente da APEMIP, confirma a crescente atratividade que o sector está a registar entre profissionais, mesmo os oriundos de áreas marginais a este. "O imobiliário está num período de ascensão. O número de transações tem vindo a aumentar. Em 2013 venderam-se 79.775 alojamentos familiares, em 2014 foram 84.215, e no ano passado verificou-se um aumento na ordem dos 27%, com 107.302 casas transacionadas", explica. O perfil de quem cria uma empresa de mediação imobiliária diversificou-se. Luís Lima fala de um regresso de antigos empresários do sector que, a braços com dificuldades de sustentabilidade geradas pela crise, não conseguiram manter em funcionamento os seus negócios e agora regressam à atividade, aproveitando o período de retoma, mas confirma que "muitos são certamente de outras áreas, que veem no sector imobiliário uma oportunidade de negócio e arriscam experimentar este mercado". 

Com um investimento mais modesto do que o realizado por Manuel Mira Godinho, cerca de 40 mil euros, Pedro Guia (na foto), proprietário da Century 21 Golden House, também viu a mediação imobiliária como uma área de futuro. Aos 36 anos, o empreendedor, licenciado em Direito, chegou a trabalhar algum tempo na sua área de formação e foi responsável pelo contencioso da RCI Bank, a financeira do grupo Renault. Há cerca de seis anos rumou a Moçambique para trabalhar numa empresa da família na área da logística e recursos humanos. Quando começou a pensar no regresso a Portugal, criar uma empresa na área da mediação imobiliária foi a sua escolha. "É uma área de que sempre gostei e achei que começava a mexer e a crescer. Por outro lado, com 36 anos e sendo 'velho' para o mercado de trabalho, a perspetiva era criar um negócio próprio", conta Pedro Guia. Regressou com a família no ano passado e, depois de analisar algumas redes imobiliárias optou pela Century 21.

A franquia da marca implicou o investimento de 20 mil euros, a que se juntaram 12 mil nas obras da loja e entre 5 a 10 mil euros em fundo de maneio. Começou a operar em setembro de 2015 e conta já com uma equipa de 15 consultores, que ganham à comissão, uma coordenadora de loja, um diretor comercial, além do seu posto de trabalho e o da mulher. Instalado em Belém, já vendeu casas e fez arrendamentos, embora neste último segmento a oferta seja insuficiente para a procura. 

Para o empresário, qualquer negócio é um risco, mas no seu caso é calculado. "O mercado desceu muito, mas sempre existiu. De uma forma ou de outra, sempre se venderam e compraram casas", afirma. O seu plano de negócios a cinco anos prevê a consolidação da atividade com a abertura de mais uma loja em Lisboa. "Se o mercado se mantiver como está e crescer mais um pouco, será ótimo", frisa. 

Oportunidade de negócio 

Ao contrário de Pedro Guia (na foto), que maturou o assunto, a mediação imobiliária entrou na vida de Pedro Palrão por acaso. Licenciado em Economia, trabalhou durante 20 anos em análise financeira e de risco para empresas no BES e, posteriormente, no Novo Banco. No final do ano passado, com 49 anos, negociou a sua saída da empresa e começou a ponderar criar um negócio próprio em vez de procurar emprego por conta de outrem. 

Analisou algumas opções, até que uma amiga, desempregada, que tinha trabalhado na área financeira, lhe pediu a opinião sobre um investimento que queria fazer na Remax Portugal. "Perguntei-lhe se não queria um sócio para o negócio e, depois de pensar algum tempo, aceitou", conta o empresário. A Remax Ímpar, que detém com a sócia Susana Aleijo, tem sede em Pinheiro de Loures e arrancou em janeiro deste ano, depois de um investimento na ordem dos 60 a 70 mil euros que permitiu a criação de oito postos de trabalho, cinco dos quais consultores.

Pedro Palrão aproveitou uma oportunidade de negócio, mas não tomou a decisão por impulso. "Achei que o mercado já tinha batido no fundo e a partir daí só podia melhorar." O futuro não o amedronta, tanto mais que conta com a aposta forte que a Remax realiza na formação dos seus profissionais, num mercado cujo ciclo de crescimento deverá, segundo o empresário, "manter-se por mais alguns anos".

Qualificação gera crescimento 

O volume do investimento imobiliário global deverá bater novo recorde este ano, segundo a consultora Cushman & Wakefield, atingindo os 1,34 biliões de dólares (cerca de €1,18 biliões) em transações. O mercado português não foge à tendência. Na opinião de Luís Lima, "o crescente interesse de estrangeiros no imobiliário português fez desbloquear um processo de estagnação a que se vinha assistindo devido à crise". Segundo o presidente da APEMIP, a melhoria das condições de acesso ao crédito tem também contribuído para a retoma do sector, tal como a mudança de perfil dos profissionais da área que tem vindo a alavancar a crescente profissionalização do imobiliário nacional. Pedro Mira Martins, gestor sénior da área de Imobiliário e Construção da Michael Page, destaca a evolução positiva que o sector tem registado nos últimos dois anos e acredita que, "com Lisboa na rota do turismo mundial, e para os investidores internacionais, que veem na capital portuguesa uma oportunidade ímpar para investir em imobiliário residencial", o desempenho será bom em 2016. Mas garante: "O mercado é hoje mais exigente e as organizações procuram profissionais com melhor formação." Na essência, profissionais focados em cumprir metas com qualidade e trabalhando em equipa. Para o especialista, a mudança de perfil profissional a que se assiste hoje no sector é fundamental para aproveitar em pleno as oportunidades que estão a ser geradas pelo investimento estrangeiro em solo nacional. 

Fonte: Expresso

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