Mais casas, mais caras. O regresso do crédito à habitação está a fazer muitos portugueses voltarem à sua primeira opção, a compra. A reduzida oferta nos centros das cidades, agora focada no alojamento turístico, obriga-os a ir para a periferia. O arrendamento perde força.
Não se nega a mudança. A pressão turística no centro de Lisboa está a alterar a vida e o negócio imobiliário na capital. Com impacto nos preços. Miguel Poisson, diretor-geral da Era Imobiliária, dá um exemplo concreto: "Há imóveis arrendados apreços acima do mercado devido a uma cláusula de subaluguer", que autoriza quem assina o contrato a colocar o espaço a arrendar a turistas com preços mais elevados.
"Em algumas zonas de Lisboa já se sente esse efeito, o que restringe o acesso a algumas famílias", admite.
Alfama, Baixa, Chiado onde o metro quadrado para venda pode chegar aos cinco mil euros são os principais alvos, mas o contágio dá-se por toda a Lisboa,
Ricardo Sousa da Century 21 confirma: "O short renting: está a expandir-se para todo o concelho, com uma transição clara do mercado tradicional. A construção de um mercado de arrendamento saudável tem sido dificultada.
A fórmula é ditada pela lógica do "lucro imediato": se no arrendamento tradicional um imóvel tem rentabilidades de 4% a 5%; no turístico o retorno esta acima dos 10%. Muda-se o perfil de Lisboa: centro fica para as turistas ou para quem tem dinheiro. A reabilitação urbana é feita a pensar nos compradores com alto poder de compra, sobretudo estrangeiros.
Onde está então a solução para evitar que Lisboa se transforma numa nova Barcelona, onde o alojamento turístico ameaça a presença dos locais? "Estamos bastante a tempo de definir uma estratégia integrada de habitação-turismo. Neste momento, a classe média, a base da sociedade, está sem solução", posiciona Sousa.
Para Miguel Poisson, o mercado está a funcionar na sua plenitude. Contudo, admite a necessidade de "políticas de contenção no sentido de criar uma mescla entre parado e- população local e turistas".
Há mesmos casos, lembra o líder da Era, de famílias que optam por mudar-se para zonas mais distantes da cidade e colocar a sua casa a alugar a turistas. Aqui entra outra parte desta equação: a subida do crédito à habitação.
Primeira opção: periferia
Há muito que o crédito à habitação não estava nestes níveis. Os dados do Banco de Portugal apontam para empréstimos de 2.100 milhões de euros até Maio. O indicador cresceu 64% quando comparado com os primeiros cinco meses de 2014.
Em Portugal, comprar sempre foi a primeira opção, em detrimento do arrendamento, que acabou por ser apenas um "escape" no período de crise. No primeiro semestre de 2015, a Century viu as operações de venda crescer 23%, com 3.561 transações fechadas. Na Era, ultrapassou-se a barreira das 5.500 vendas. O preço médio de venda, a nível nacional, fixou-se nos 125 mil euros.
As famílias estão a comprar mais casas, mais caras, movendo-se para a periferia, onde o valor dos imóveis está mais ajustado as suas carteiras. A causa? A reduzida oferta no centro das grandes cidades, sobretudo Lisboa. Todavia, os dados da Century 21 mostram uma subida de 13% no preço de venda nas linhas de Sintra e Cascais. Já o valor para arrendar nestas zonas subiu 39% no primeiro semestre de 2016.
Perante esta dinâmica, diz Miguel Poisson, há até investidores interessados em remodelar imóveis nestas áreas e colocá-los no mercado de arrendamento tradicional pela proximidade de transportes e atratividade dos preços.
Há ainda famílias “resistentes" que insistem em comprar casa em Lisboa. A pressão turística nas zonas históricas leva-as a Benfica, Lumiar ou Campolide. Sem pechinchas. “É uma falsa questão. Não existem pechinchas no mercado", garante o líder da Era.
Fonte: Negócios
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