Por Paulo Henriques *
Estamos a chegar ao fim do primeiro trimestre de 2012 e os números falam por si: a quantidade de operações e a área total absorvida deverão ficar abaixo de igual período do ano passado, que, como se sabe, foi o pior ano desde que há registos fidedignos das transações no mercado de escritórios de Lisboa. Estes são os factos objetivos. O mercado no primeiro trimestre de 2012 ainda vai conseguir apresentar piores resultados do que os registados em igual período do ano passado.
Mas algo parece estar a mudar. Em conversa com outros agentes, a impressão é a mesma: o número de processos abertos de empresas com procuras ativas no mercado aumentou e muito. As negociações são duras, muito duras mesmo, mas, em relação ao que acontecia no ano passado, a atividade sofreu um enorme incremento e deverão começar agora a aparecer os primeiros resultados dessa atividade acrescida.
Será isto um fenómeno passageiro? Ou o sinal de que algo fundamental está a mudar?
No cenário macroeconómico, e timidamente, as boas notícias começam a aparecer: as taxas de juro no mercado secundário dos títulos de dívida da República Portuguesa começam a baixar em todos os prazos, as exportações continuam a crescer e até a Standard & Poor's referiu que "acredita na capacidade de Portugal em evitar uma reestruturação da dívida pública".
Acredito, de facto, que algo fundamental está a mudar. Se há setores com grande peso na economia que ainda têm um longo caminho a percorrer para uma total reestruturação e adequação às novas realidades, como sejam, por exemplo, os do imobiliário e da construção e obras públicas, outros setores parecem ter posto definitivamente a crise para trás.
Não quero dizer com isto que vêm aí os bons tempos - pelo contrário, do ponto de vista social, acredito que as coisas ainda vão piorar e muito, porque se acredito que somos capazes de ganhar a batalha do défice orçamental, uma muito mais difícil batalha aguarda a economia portuguesa: a do crescimento económico. E certamente ninguém acredita que, com a atual carga fiscal, seja possível garantir a taxa de crescimento necessária para a República voltar a financiar-se normalmente nos mercados internacionais de dívida. Esse reajustamento ainda está por fazer e terá, obviamente, enormes custos sociais.
Acredito, no entanto, que começamos a assistir aos primeiros sinais de vitalidade daqueles setores e empresas que já se reestruturaram e que não estavam dependentes e a viver à sombra de um Estado que tudo pagava, tudo sustentava, e sempre todos baseados num acesso fácil, barato e aparentemente inesgotável a crédito nacional e internacional. Com o passar do tempo, mais setores e empresas irão estar nesta nova posição, o que consiste em boas notícias para o mercado de escritórios e para a Economia em geral.
* Partner da B. Prime
Fonte: OJE
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