22 março 2012

Requalificar: uma mais-valia para atrair investimento

Por Ana Vidal Andujar * 
O sucesso de cada país é também o produto do êxito de cada cidade, de cada vila ou aldeia. Se cada localidade tiver capacidade para atrair e reter pessoas/talento, indústria, serviços, academia, tudo o resto vem por arrasto.

Portugal é um país com localização privilegiada face à Europa, com séculos de história, tradição. Se por um lado estes três fatores são, por si só, motivos de atração de investimento, por outro lado a necessidade de preservar a história das cidades escrita através dos edifícios, torna praticamente impossível novas edificações. Uma realidade que leva muitas cidades a tornarem-se inacessíveis e em muitos casos pouco atrativas ao investimento, ainda que tenham mão-de-obra altamente qualificada e uma localização geográfica privilegiada.


O grande desafio é, por isso, tornar as cidades mais atrativas, mais prósperas e, sobretudo, encontrar um ponto de equilíbrio entre a beleza dos edifícios que contam a história e as necessidades atuais. Por outras palavras, o grande desafio é requalificar o que está velho e nalguns casos abandonado.

Lisboa é um caso típico do que escrevo. A cidade carece urgentemente de encontrar o seu ponto de equilíbrio entre o passado, o presente e o futuro. Um presente/futuro que tem necessariamente de incluir a reconversão de muitos edifícios construídos em séculos passados. Uma reconversão que tem de incluir uma simbiose entre a beleza e o encanto de outrora com as necessidades atuais. E a simbiose deve ser válida tanto para edifícios de escritório ou comércio, como para edifício de habitação.

Atualmente, a iniciativa JESSICA visa aplicar fundos estruturais em projetos ligados à regeneração urbana através de empréstimos, participações de capital ou garantias. Só por si, esta iniciativa cria a base para que as cidades possam, através de entidades, públicas ou privadas, coletivas ou singulares, promover projetos urbanos no âmbito de planos integrados de desenvolvimento urbano sustentável. Mas, não basta.

Para que o desenvolvimento sustentável aconteça, é necessário quebrar barreiras e ultrapassar obstáculo muitas vezes criados pelas entidades responsáveis pelo licenciamento. É certo que as barreiras que visam proteger a história, a memória não são exclusivas de Portugal. Em países como França ou Espanha a situação é semelhante.

Mas, face a um edifício classificado e que está abandonado - e existem vários na cidade de Lisboa - as perguntas impõem-se: Deixar cair para construir novo? Demolir para construir novo? Reconstruir deixando a fachada intacta? Reconstruir e adaptar por dentro mantendo a fachada?

Admito, tal como a Bouygues Imobiliária, que outras opções poderão ser equacionadas quando o objetivo é aumentar a competitividade da malha urbana das cidades. No entanto, é urgente desburocratizar, valorizar as cidades como museus vivos que no entanto se devem adaptar às necessidades da vida moderna e que não devem descurar a criação de condições competitivas que fomentem a concorrência entre si.

* diretora-geral Península Ibérica Bouygues Imobiliária

Fonte: OJE

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