Nesses concursos tudo o que pudesse contribuir para a vitória era aceitável, face ao desespero dos concorrentes, todos eles, à partida já tão vencidos que a possibilidade de serem abatidos como o são os animais feridos em acidentes até parecia uma solução libertadora se equacionada num cenário de empobrecimento e decadência e de perda generalizada de muitos vectores fundamentais para que a nossa vida, a vida de todos nós, tenha sentido.
A história não se repete, mas os ambientes depressivos sim e, no presente, os riscos que a situação vivida no imobiliário estão a gerar, com aumentos insuportáveis das taxas de esforço que as famílias aguentam para assumir os compromissos contraídos em sede de crédito para aquisição de habitação própria, podem levar a ambiências tão negras como as magistralmente retratadas no filme citado.
O crescimento das dações de imóveis para pagamento de dívidas faz crescer o stock de activos imobiliários e disparar a tentação da consequente desvalorização forçada na hora do regresso dos mesmos ao mercado, o que não significa que em Portugal exista uma bolha ou borbulha imobiliária como esforçadamente alguns tentam fazer crer, ignorando os interesses das pessoas e até da banca.
Demonstrar que em Portugal não existe qualquer bolha imobiliária, ao contrário do que aconteceu, recentemente, em Espanha e nos Estados Unidos, não é vergonha alguma nem é afastar potenciais investidores. Estes, quando não querem confundir-se com especuladores, procuram mais facilmente mercados transparentes e seguros do que mercados onde uma borbulhagem inventada é apresentada como doença inevitável e infantil do imobiliário.
A menos que aceitemos bons negócios à custa das mais de 75% das famílias portuguesas que vivem em casa própria, mas correm o risco de serem abatidas como o são os animais feridos em acidentes.
Luís Lima - Presidente da APEMIP
Fonte: APEMIP
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