07 novembro 2012

Reabilitar "Um bom problema"


A necessidade de uma habitação condigna e ajustada à realidade de vida de cada indivíduo deveria ser um direito universalmente consagrado e efetivamente cumprido. Acontece que, ao longo dos últimos 50 anos, (para não irmos mais atrás no tempo), em cada continente, em cada país, em cada cidade, em cada aglomerado populacional, esta necessidade e "direito" foi sendo interpretada de diferentes formas.
Centrando-nos no continente europeu, encontramos realidades diversas e opções distintas de como tentar que cada indivíduo tenha a sua habitação condigna, ajustada às suas necessidades funcionais e integrada no aglomerado populacional onde está inserida. Quando chegamos a este ponto, de querer conseguir a plenitude da realização simultânea destes objetivos, levantam-se questões de diversa e complexa ordem, seja do ponto de vista social, seja no plano urbanístico e arquitetónico, questões de ordem económica e do funcionamento dos próprios mercados, cruzando-se com fatores de ordem política, local ou dita nacional. Estas são questões demasiado complexas e extensas e que requerem abordagens muito mais profundas.

No entanto, qualquer análise que se faça, independentemente do espaço e do tempo em que o façamos, passará sempre, em algum momento da análise, pela opção de reabilitar o que já existe ou construir novas habitações, e é aqui que, culturalmente, nos separamos uns dos outros.

Nas maiores cidades portuguesas, em particular em Lisboa e no Porto, o que assistimos nos últimos anos, em concreto no período pós 25 de abril de 1974, foi à opção clara pela construção de novas habitações, que se tornou progressivamente desenfreada a partir dos anos 1980, com o facilitismo do crédito bancário por contraponto pela ausência total de uma política de arrendamento, que, a ter existido, conduziria por si só, de forma necessária, ainda que não suficiente, a um incremento da reabilitação do parque habitacional existente. A especulação imobiliária gerada alargou os limites urbanos das cidades, densificando em termos de habitantes as áreas suburbanas, mas, progressivamente, originou uma desertificação dentro dos seus limites geográficos e das suas zonas históricas propriamente ditas.

Verifica-se hoje que cidades como Lisboa e Porto perderam, nos últimos anos, em média 30 a 40% dos seus habitantes para as periferias, que, por sua vez, foram crescendo de forma mais ou menos anárquica, quer social quer urbanisticamente.

Aos dias de hoje, temos um problema, ... (se fosse só um)! Mas é um bom problema. De forma diversa de países como Itália ou até alguns países nórdicos, nos quais a primeira opção foi reabilitar as construções e habitações existentes, em Portugal proativamente não foi essa a principal opção. Pois bem, que o seja reativamente. Empurrados por uma conjuntura económica global e nacional desfavorável, que dá indicações de não ser defeito, mas de ser feitio, podemos converter esta adversidade numa oportunidade fantástica , quiçá, irrepetível de resolver este bom problema, que é o de reabilitar construções, muito em particular o património habitacional das nossas cidades. Numa análise mais economicista e setorial, para a industria da construção, estou absolutamente convicto que a resolução deste bom problema... é a única saída possível.

Por António Henriques, Diretor Imo24 - Av. Roma

Fonte: OJE

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.