Da análise do comportamento da União Europeia (UE) face à crise económica e financeira mundial, não se vislumbra que dela tenham sido extraídos quaisquer ensinamentos. Este aspeto é tanto mais relevante quando todos temos consciência que as nossas economias estão intimamente ligadas e nenhum estado-membro poderá dar uma resposta eficaz aos desafios globais agindo de forma isolada. Assiste-se, isso sim, a uma falta de coordenação das políticas económicas que, se não devidamente invertida, pode conduzir à erosão permanente da perspetiva de crescimento, à descrença e, consequentemente, a níveis estruturalmente elevados de desemprego.
Vem isto a propósito dos últimos dados da Comissão Europeia, que revelam que a confiança dos empresários europeus que operam no setor da construção se manteve, em termos médios, num patamar positivo (+0,7%), enquanto em Portugal se verificou uma quebra estimada em cerca de 28% face ao final de 2011, o que agrava o fosso, nesta área, entre Portugal e os restantes países da UE.
Todos temos consciência dos terríveis efeitos da crise económica para o setor da construção.No entanto, pela sua relevância na sociedade, há que refletir sobre as melhores formas de minimizar esses efeitos, que não passem apenas pela saída, em desespero de causa, das empresas e dos trabalhadores para outros países, ou à falência, mas criando condições que os tornem menos vulneráveis.
Novas questões passaram a afetar o setor da construção, como as relacionadas com os impactes ambientais e sociais das atividades produtivas, criando novos problemas, novas áreas de trabalho e novas exigências em termos de adequação dos processos com vista à incorporação do conhecimento num mercado cada vez mais exigente e competitivo.
O setor da construção é caracterizado por exigir um conhecimento heterogéneo por parte dos diversos intervenientes, por estar associado a contratos muitas vezes de curta duração e por alguns dos atores disporem de formação deficiente e apresentarem uma atitude avessa a mudanças perante novas abordagens técnicas e organizativas.
Assim, é relevante a disponibilização de incentivos, tanto do Governo como dos empregadores, com vista à melhoria da capacidade técnica dos diversos atores, em particular dos trabalhadores menos qualificados, através de programas de formação credíveis, orientados para uma resposta mais consentânea com as exigências de uma tecnologia sempre em evolução, para especificações e disposições contratuais para as quais não estão devidamente preparados e para garantir uma adaptação a culturas diferentes.
Este aspeto assume particular importância nas PME e no enquadramento de trabalhadores que pretendam deslocar-se para outros países, numa perspetiva de internacionalização.
Igualmente importante para as PME é a criação de condições que possam gerar o incentivo ao trabalho em conjunto, estimulando a criação de clusters de empresas especializadas, cada uma com competências específicas, e integrando uma abordagem comum que permita ganhos de eficiência indispensáveis num ambiente altamente competitivo.
Por Carlos Matias Ramos, Bastonário da Ordem dos Engenheiros
Fonte: Público
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