30 janeiro 2013

O imobiliário após o fim da crise


No imobiliário, falar a olhar para o passado provoca a nostalgia de bons tempos e o lamento a propósito dos vazios que se construiu, sobretudo na periferia das cidades, o que provocou outros no centro das cidades e nas aldeias.

Se falamos do presente, é inevitável a menção à crise e o que ela significa para os que pagam a sua casa e ainda têm de suportar os gastos a mais que vieram da desregulação do sistema financeiro, ou na emigração de profissionais e empresas ligados à construção.


Por fim, falar do futuro, significa desesperar com a retoma que não chega, ao lado de um discurso político centrado no “regresso aos mercados”, não parecendo importa que isso ocorra com todos nós mais pobres, alguns emigrados e com menos (e pior?) Estado. Em “financês”, será que, com todo este nosso enorme esforço, que aumenta a dificuldade de crescer no futuro, ao contrário do que ocorreu em 2012, ao menos a dívida nacional diminui? 

Bom, deixemos o passado da nostalgia e da culpa de termos feito tudo mal (nós, quem?), deixemos o presente (por demasiado depressivo) e ainda o irritante “financês” e vamos à pós-crise, o que arrisca a ser tomado por bruxaria, é certo, tal o nível da imprevisibilidade.

Bom…
Depois da crise, com a diminuição da capacidade económica da larga maioria, associada ao recuo do Estado (ou “refundação”!), verificou-se um aumento acentuado das diferenças. O luxo, das vivendas e do comércio de bens das marcas mais prestigiadas ou das sedes das melhores empresas, ficou concentrado em poucos lugares com forte segurança, quase sem pobres e com muitos estrangeiros endinheirados, assim como alguns espaços na praia e no campo, por força do preço por estacionar, estar na esplanada ou à sombra.

Entretanto, muito dos velhos prédios na cidade histórica atraem a atenção dos que valorizam a proximidade entre habitação, comércio e serviços os mais diversos, com ruas, praças e jardins públicos com mais vida, e o andar a pé, de bicicleta e de transporte público, são as formas de circulação de maior qualidade, na promoção do bem-estar.

Um grande problema são os prédios envelhecidos que necessitam de obras de reabilitação, a maioria na periferia e aro pericentral, pagos com enorme dificuldade por quem os habita, mas cuja má qualidade construtiva e dependência do automóvel na mobilidade, se associa à má imagem que os cartazes do “à venda” lhes deram, para que passassem a ser indesejados.

Pior ainda, face à ausência de política de habitação, estão os velhos bairros sociais, transformados muitos deles em guetos perigosos, onde a lei e a ordem só se faz em ações militarizadas, para nada dizer do regresso das barracas nos lugares mais indesejados.

Portugal acabada a crise parece o Brasil de finais do século XX, com guetos de ricos e espaços de desespero! Entretanto – triste consolação –, pode ser que o Brasil seja então parecido com o Portugal de 2010!

Por José Rio Fernandes, geógrafo e doutor em Geografia Humana. Professor Catedrático no Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto é Investigador no Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território.

Fonte: Público

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