17 julho 2013

A recusa de saldos no imobiliário


A significativa baixa do número de imóveis em venda em Portugal, que caiu cerca de 40% de 2011 para 2012, com a saída de 150 mil imóveis da oferta no mercado de venda, numa tendência que parece estar a ter eco em 2013, significa, em primeiro lugar, que os proprietários de imóveis estão a resistir à desvalorização forçada do património imobiliário que foi sendo ensaiada, várias vezes, desde que rebentou a crise financeira mundial em 2008.

A boa notícia destas interpretações estatísticas é que há cada vez mais pessoas a rejeitar soluções que objectivamente contribuem para desvalorizar uma das principais riquezas alcançadas por muitas famílias portuguesas, a casa que habitam e que compraram, muitas vezes com sacrifícios, como única solução possível, acarinhada e incentivada pelo sistema financeiro e pelo próprio poder político.

Num contexto de falta de liquidez para famílias e empresas, não faltam ‘amigos’ dispostos a sugerir a venda ao desbarato dos bens que restam. ‘Amigos’ que possuem a liquidez que nos falta e que estão dispostos a ‘investir’ na nossa riqueza desde que seja com vantagens claras para quem compra, independentemente do que possa acontecer a quem venda tão desesperadamente.

Se é certo que grande parte do nosso imobiliário foi construído a pensar numa procura que privilegiava a compra, o que torna mais difícil a passagem de tais imóveis para o mercado do arrendamento, a verdade é que muitas das casas que já se ofereceram no mercado de compra e venda estão também a oferecer-se para arrendamento ou a esperar que o mercado volte aos preços equilibrados de sempre, sem especulações, mas também sem desvalorizações forçadas.

Com a construção de novo em baixa – fenómeno que não resulta exclusivamente da crise e que seria natural e inevitável mesmo sem crise – o mercado imobiliário vai, também por via deste reequilíbrio, voltando aos valores normais, mesmo que lentamente, numa tendência que será tanto mais consolidada quanto os proprietários, que possam, recusem vender a preços de saldo.

Quem espreitava o mercado imobiliário como quem olha para aparelhos informáticos topo de gama que estão em vias de serem descontinuados e que, por esta razão, podem baixar subitamente de preço, sem deixarem de ser bons aparelhos, começa a perceber que os preços do nosso imobiliário não vão baixar, antes pelo contrário, têm tendência a regressar aos valores normais.

A crescente nova procura, de interessados oriundos de economias emergentes, do Brasil à China, da Índia à Rússia, não é tão calculista como muitos pensarão, nem comparativamente com outros interessados mais clássicos e ávidos de pechinchas que, estes sim, esticam o olhar até ao limite na mira do menor preço, se possível ainda mais baixo do que o preço do custo do imóvel em causa.

Eu, que sempre me bati contra a desvalorização artificial da riqueza que reside no nosso património imobiliário, registo com agrado este sinal positivo de recuperação dos preços.

Por Luís Lima, Presidente da APEMIP

Fonte: SOL

1 comentário:

  1. Foi com muito agrado que li este artigo, concordo inteiramente com o Presidente.
    A minha pergunta é, quem permitiu os Saldos no Imobiliário...iniciado por uma grande empresa do sector...foi ela própria que deu o mote!

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