A medida, que está a ser estudada pelo Banco de Portugal, pode ser imposta ainda este ano e irá afectar os resultados dos bancos.
O Banco de Portugal quer impor aos bancos nacionais um novo reforço de provisões, desta vez para imparidades de activos imobiliários. Os responsáveis pelos bancos temem que a medida venha a afectar ainda mais os resultados das instituições em 2013.
A decisão ainda está em estudo e poucos querem falar nela, mas já está a deixar alguns responsáveis à beira de um ataque de nervos. Afinal, o crédito imobiliário é um dos segmentos que mais está a penalizar a banca portuguesa.
Mira Amaral, presidente do Banco BIC Português, diz que não tem este problema na instituição que dirige, pelo que esta não será afectada. Mas sabe que para outros bancos as novas regras podem ser uma dor de cabeça. Ainda assim, lembra que "tudo na vida tem um lado positivo, neste caso, o aumento da transparência das contas dos bancos".
De facto, nunca os balanços das instituições bancárias foram tão escrutinados como de há dois anos para cá e a chegada da troika a Portugal faz com que hoje seja possível afirmar com segurança que os resultados apresentados por estas instituições financeiras reflectem bem a verdade das suas operações.
O Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional, a par de instituições como o Banco de Portugal, entre outras, trouxeram novas exigências de capital e de liquidez que afectaram o negócio da banca na Europa em geral e em Portugal em particular, ainda mais castigado pelas medidas de austeridade que entretanto têm vindo a ser adoptadas.
Ratings miseráveis, dificuldades no acesso a dinheiro, reforços de capital, desalavancagem, carteiras de crédito analisadas a pente fino, reestruturações, planos de recapitalização são palavras e expressões odiadas pela banca que teve de as aguentar e que, provavelmente, terá de aguentar muito mais.
Em 2010, foram inaugurados os testes de stress às instituições financeiras, seguindo um novo modelo. Desde então, sucederam-se as análises às carteiras de crédito e os testes a potenciais cenários de crise. Com a chegada da troika foi imposto aos oito maiores bancos portugueses - Caixa Geral de Depósitos, BCP, BES, Santander Totta, BPI, Banif, Crédito Agrícola e Montepio Geral -, que em seis meses atingissem um rácio Core Tier I de 9% e, até final de 2012, de 10%. A isto juntou-se a decisão da EBA - Autoridade Bancária Europeia - de impor aos principais grupos bancários europeus a criação de uma almofada temporária de capital para risco soberano.
Hoje muito mais desalavancados, a verdade é que ninguém arrisca um prazo para dizer quando voltarão os bancos aos lucros de antes, que agora não parecem mais do que uma miragem.
O Banco de Portugal conhece hoje, à lupa, a situação de cada um dos bancos a operar em Portugal. E é por isso que quer que estes provisionem as imparidades de crédito imobiliário. Resta saber em que condições.
O jornal i procurou saber junto do Banco de Portugal quais os valores em causa e quando terão de ser aplicadas as novas regras, mas nem o governador Carlos Costa, nem ninguém do seu gabinete respondeu às nossas questões até à hora de fecho da edição.
A última vez que o grupo dos principais oito bancos a operar no mercado nacional (que representam 80% do sistema) teve de reforçar imparidades foi na sequência do Programa Especial de Inspecções da troika e custou-lhes perto de 860 milhões de euros - cerca de 474 milhões de euros, uma vez que as instituições foram reforçando provisões até à apresentação dos resultados finais da auditoria.
No segmento do imobiliário, o agravamento do contexto económico trouxe, de parte a parte, desconfiança e receio de compromissos, sobretudo de longo prazo, como é o caso dos créditos à habitação. A diminuição da procura de crédito trouxe muito menos negócio, os spreads mirabolantes negociados em tempo de vacas gordas estão abaixo do custo e o incumprimento atinge níveis recorde dos úlimos cinco anos. Ou seja, juntam-se três factores negativos neste campo: menos negócio, menor rentabilidade e aumento das imparidades.
Fonte: iOnline
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