O comportamento da construção de estruturas de engenharia civil (túneis, sistemas hidráulicos, estradas) e da edificação não residencial (hospitais, escolas, empreendimentos de turismo e outros) justifica o otimismo moderado com que Ricardo Pedrosa Gomes, presidente da Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas (FEPICOP), analisa a evolução deste sector. Os índices de acompanhamento da conjuntura nesta área de atividade, baseados em dados estatísticos oficiais e em opiniões expressas pelos empresários mensalmente, mostram que a engenharia civil passou de valores negativos de -1,4% em 2011 e de -22,1% em 2012 para um crescimento de 26,6% em 2013, sendo que os primeiros três me-ses de 2014 mostram 41,2% de variação homóloga trimestral.
Por seu turno, no mesmo período, o segmento de edifícios não residenciais passou de um nível de atividade na ordem dos -16% e -13,5% para uma cifra positiva de 2,3 % em 2013, com mais de 60% na variação homóloga do 1º trimestre de 2014.
Acresce um sentimento de confiança manifestado pela maioria dos empresários do sector quanto a encomendas esperadas e criação de emprego. Ainda assim, não há lugar para ilusões: "É um facto que a engenharia civil e a construção não residencial já estão a ter indicadores positivos, o que não acontecia há bastante tempo. No entanto, essa conjugação ainda não é suficiente para alterar a tendência negativa do mercado", frisa Ricardo Pedrosa Gomes.
Otimismo moderado
Ou seja, "há uma inversão de tendência", mas esta "ainda não é suficientemente clara". De facto, a previsão é que o sector acabe este ano com uma queda de 4% - "ou um bocadinho melhor, por exemplo uma queda de 2% ou a estagnação".
Por trás da evolução positiva destes dois segmentos da construção - bem diverso da outra componente, a habitação, que tarda em sair da paralisia em que mergulhou - estão, segundo Ricardo Pedrosa Gomes, os fundos estruturais da União Europeia, no caso da engenharia civil civil, e o Estatuto do Residente Não Habitual, para os edifícios não residenciais direcionados para o turismo.
"Ao longo dos últimos anos, o Governo congelou o investimento e a utilização dos fundos estruturais mas agora, de duas, uma: ou gasta essas verbas ou elas têm de ser devolvidas à UE". Assim, "muitos projetos que tinham atividade física de construção não podiam mais ser adiados, sob pena de se perderem esses fundos".
E de que projetos estamos a falar? "É o resto da rede primária do Alqueva, é o resto dos trabalhos inerentes aos subsistemas de águas e saneamentos (empreitadas de menor dimensão, salvo exceções, mas que têm dado uma certa dinâmica ao nível regional e das empresas mais pequenas), é a conclusão do túnel do Marão e é, ainda, em menor escala, projetos que algumas autarquias ainda conseguem implementar".
A perspetiva é a de que, "se a economia continuar a evoluir favoravelmente, a tendência de melhoria no sector manter-se-á até ao final do próximo ano porque, entretanto, dá-se a transição para o novo quadro comunitário de apoio, embora saibamos que este será, em termos de investimento para a construção, muito reduzido, comparado com realidades anteriores".
Quanto ao sector de edifícios não residencial, "imensos projetos na área da hotelaria e da segunda habitação estiveram congelados mas estamos a assistir, neste primeiro semestre do ano, ao reativar desse mercado", assinala o presidente da FEPICOP. A razão reside na constatação de que "em determinados segmentos, sobretudo de residência de valor mais elevado, o stock, habitacional está a começar a ser reduzido. O que levou alguns desses investidores a reativarem planos de investimento em novas unidades que estavam congelados".
Na origem deste "degelo" está uma dinâmica de procura estrangeira muito específica. "Não é o visto dourado, mas sim o regime fiscal para residentes não habituais que está a atrair muita gente do Norte da Europa, sobretudo franceses, nórdicos e britânicos." Na prática, este fluxo "tem um duplo efeito: está a reduzir o stock sobretudo em áreas turísticas (caso do Algarve ou dos projetos de Troia, que tiveram muito mais vendas do que em anos anteriores, ou o caso de alguma residência de nível mais elevado em centros históricos) e, ao mesmo tempo, está a ter efeito psicológico junto de alguns promotores que acabam por arriscar mais".
Fonte: Expresso
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