18 março 2015

Nunca se viu um mercado de investimento imobiliário tão dinâmico como agora!


2014 pode ser considerado um ano recorde no investimento imobiliário em Portugal. Nunca se viu tanto dinheiro canalizado para este setor como no ano passado. É verdade que, em termos de ativos de rendimento, não foi o ano mais dinâmico: com um total de €870 milhões, foi o melhor ano dos últimos 6, mas longe do máximo de 1.400 milhões de euros atingido em 2007. Contudo, destacaram-se em 2014 outras formas de investimento, direto e indireto, no imobiliário nacional que não se observaram, pelo menos com esta intensidade, no passado.


Refiro-me: 1) à transação de diversos edifícios para promoção/reabilitação no centro de Lisboa; 2) ao aumento significativo de venda de imóveis residenciais a estrangeiros; e 3) à alienação de empresas com grandes portfólios imobiliários, nomeadamente as duas companhias de seguro, Tranquilidade e Fidelidade, e o grupo ES Saúde. O conjunto destas outras formas de investimento em imobiliário representou mais de 1.700 milhões de euros injetados no mercado nacional em 2014. De referir que este valor seria ainda mais elevado se ocorressem vendas de pacotes de crédito mal parado (vulgo “NPL” – non performing loans) por parte do setor bancário. Apesar da crise que afetou profundamente os bancos nacionais, estes adiaram a venda dos seus créditos mal parados, canalizando estes ativos para fundos de reestruturação. 

Destaco seis fatores que contribuíram e vão continuar a contribuir ao longo de 2015 para este dinamismo no mercado de investimento imobiliário: dois globais e quatro locais. A nível global destaca-se 1) a elevada liquidez existente em todo o mundo, e 2) as reduzidas taxas de juro que fazem do imobiliário uma interessante alternativa de investimento. Em termos locais destaca-se: 1) uma maior confiança na economia nacional; 2) valores de venda muito abaixo de outros mercados europeus; 3) a necessidade de vender – após 5 anos de recessão ou reduzido crescimento económico, o número de empresas, quer públicas quer privadas, com problemas financeiros é significativo; 4) um atrativo pacote legislativo e fiscal de incentivos à reabilitação urbana e à captação de investimento estrangeiro. 

Este ano prevê-se um incremento em todas as formas de investimento atrás referidas, com exceção, provavelmente, de portfólios imobiliários incorporados em alienações de empresas, uma vez que a maioria destas transações observadas em 2014 resultou do colapso do Grupo Espírito Santo. 

O programa de Quantitative Easing recentemente lançado pelo BCE, com a consequente expetativa de desvalorização do euro face a outras moedas e ainda mais baixas taxas de juro, vai certamente contribuir para tornar o investimento na Europa ainda mais atrativo. O facto de Portugal ter ainda taxas de rentabilidade acima de muitas outras cidades europeias irá contribuir para a captação de interessantes volumes de investimento para o nosso país. 

Contudo, apesar das inegáveis vantagens do Quantitative Easing, também receio que a memória seja curta e caiamos novamente numa das principais causas da crise bancária, que estamos ainda a tentar ultrapassar: os elevados níveis de financiamento bancário ao investimento. Uma das principais diferenças quando comparamos o investimento nos anos 2006/7 com o verificado nos finais de 2013 e ao longo de 2014 traduz-se num maior equilíbrio entre capitais próprios e alheios. Será que o programa europeu de Quantitative Easing não vai novamente distorcer este equilíbrio? 

Por Cristina Arouca, Diretora de Research e Consultoria da CBRE 

Fonte: OJE

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