Nos últimos 12 anos, os bancos tornaram-se mais exigentes no hora do "sim" à concessão de crédito. Subiram os "spreads", reforçaram os critérios e, com isso, emprestaram menos dinheiro à economia. A crise financeira e, sobretudo a chegada da troika, significaram um forte "travão" na concessão de crédito à economia.
Os juros dispararam para máximos históricos e os bancos tornaram-se mais exigentes na hora da autorização dos financiamentos. Nos últimos meses, o custo tem vindo a diminuir e a exigência também, mas continua a ser difícil conseguir um empréstimo. Prova disso é que os bancos nunca emprestaram tão pouco dinheiro à o economia corno em Fevereiro.
Em igual mês de 2003, os bancos emprestaram um total de 6,3 mil milhões de euros às famílias e empresas. Em Fevereiro de 2015, 12 anos depois, o montante de novos créditos à economia ascendeu a 2,79 mil milhões de euros, de acordo com os dados mais recentes do Banco de Portugal. Este é o valor mais baixo desde que o supervisor começou a publicar estes dados, precisamente no ano de 2003, e que fica muito abaixo dos 10,7 mil milhões de euros que os bancos emprestaram à economia em Dezembro de 2004.
Ou seja, concede-se menos crédito hoje do que em 2003. Porquê? "O acesso ao crédito tornou-se relativamente mais caro e mais difícil, os critérios são mais exigentes", expli-ca Paula Carvalho. A maior exigência das instituições financeiras começou a sentir-se sobretudo a partir de 2008, na sequência da crise financeira que fez disparar os encargos com as prestações e colocou o desemprego em máximos históricos. Más notícias que, conjugadas, levaram o incumprimento das famílias e das empresas para recorde.
As dificuldades de particulares e empresas em cumprirem com as suas obrigações para com os bancos justificaram a maior restritividade na concessão de financiamento. Uma restritividade que se traduziu em "spreads" mais elevados e que chegaram aos 7,95% no crédito à habitação, no caso do Banif. Em Setembro de 2008, neste segmento, a taxa de juro média das novas operações ascendeu a 5,76%, o valor mais elevado de sempre.
Mas os custos do crédito aumentaram também para as empresas. Em Março, segundo os dados do BCE, a taxa de juro média do novo crédito para pequenas e médias empresas atingiu os 4,49%, o que compara com a taxa média de 2,94% relativa aos países do ouro. Nos últimos anos, a "torneira" do crédito tem estado praticamente fechada, sendo as empresas exportadoras as principais exceções.
Travão com preço
As instituições Financeiras passaram a ser mais rigorosas nos critérios para a concessão de empréstimos. "Por exemplo, a relação entre o valor do activo e o valor do empréstimo é agora maior pois os bancos têm urna postura mais exigente, mais cautelosa do que no passado", lembra a economista-chefe do BPI. No crédito à habitação, as instituições financeiras deixaram de emprestar 100% do valor do imóvel, passando a financiar entre 70% a 80% da avaliação deste, num período em que as avaliações sofreram fortes quebras. E quanto mais elevado o rácio, maior o "spread", a menos que se adquira mais produtos.
Associaram os financiamentos a outros produtos, como seguros, PPR, cartões de crédito, para garantir um reforço da relação com o cliente e, com isso, captar poupanças. Mas principalmente comissões, procurando aumentar a margem para registarem mais lucros.
Por outro lado, há maior flexibilidade e novos produtos. "Estão disponíveis empréstimos a taxa fixa e a taxa variável, cabendo ao investidor decidir pela melhor opção e, em regra, os prazos de algumas operações também foram alargados (por exemplo, crédito à habitação)" acrescentou Paula Carvalho.
Fonte: Negócios
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