13 fevereiro 2016

Imobiliário. Investimento estrangeiro bate recorde de €3,3 mil milhões


Um terço foi canalizado para habitação, em grande parte por via da concessão de vistos gold. O investimento imobiliário em Portugal fechou o ano de 2015 com alguns recordes que vão ficar para a história do sector.


O primeiro, anunciado há cerca de um mês por várias consultoras internacionais a operar em Portugal — sobretudo nas principais cidades —, apontava para quase €2 mil milhões aplicados em grandes transações no segmento não residencial, com destaque para as áreas comerciais, hotéis e espaços de escritórios.

O segundo recorde agora conhecido totaliza uma soma de todo o investimento estrangeiro ligeiramente acima da fasquia dos €3,3 mil milhões, em contraponto com os €2,6 mil milhões conseguidos em 2014, quantia que também já tinha sido um recorde.

De acordo com a Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), a maior parte daquele valor registado em 2015 (€1,9 mil milhões) foi aplicado em grandes transações, a maior parte delas lideradas por fundos de investimento de dimensão mundial, como a Lone Star Funds e a Blackstone. Ainda segundo a mesma fonte, €1,1 mil milhões recaíram sobre o segmento habitacional, em grande parte impulsionado pelos investimentos ao abrigo da concessão de vistos gold (ver texto ao lado) a cidadãos que se querem instalar em Portugal, ainda que de forma não permanente. Recorde-se que em 2014 o investimento estrangeiro em habitação não tinha ido além dos €930 milhões.

A ‘INVASÃO’ FRANCESA

Os restantes €327 milhões foram pequenas aplicações imobiliárias, mas acima de tudo lideradas por particulares.

Outra fonte do mercado contactada pelo Expresso garante que uma parte considerável desta última ‘fatia’ se terá ficado a dever a investimentos sobretudo protagonizados por reformados franceses e britânicos ao abrigo do regime dos Residentes Não Habituais (que dá benefícios fiscais a quem se instale temporariamente em Portugal).

Esta medida, implementada há cerca de três anos, acabou por tornar Portugal — em especial o Algarve — um destino muito cobiçado entre famílias mais ricas de vários países europeus, com largo destaque para França, Holanda e Inglaterra e, sobretudo, entre pessoas reformadas ou à beira da reforma. Chegaram mesmo a ser estabelecidos acordos para troca de clientes entre mediadoras imobiliárias francesas e portuguesas. Além do Algarve, Lisboa surgiu depois como a segunda zona mais procurada para as chamadas ‘reformas douradas’.

No que diz respeito à apetência de grandes fundos de investimento internacionais pelo mercado imobiliário em Portugal, a explicação pode resumir-se a dois fatores: preços competitivos, sobretudo quando comparados com os que se praticam noutras praças europeias e, por outro lado, rentabilidades elevadas.

OFERTA COMEÇA A ESCASSEAR

O que neste momento se começa a sentir, segundo várias fontes do mercado, é que perante o aumento constante da procura já se começa a verificar alguma escassez do lado da oferta, em especial no que respeita a bens imóveis localizados nas principais artérias de Lisboa, ou seja, no eixo descrito pela Avenida da Liberdade, zona do Marquês de Pombal, Avenida Fontes Pereira de Melo, Saldanha e uma boa parte da Avenida da República.

Há mesmo quem diga que a pequenez do mercado lisboeta, em comparação com o de outras capitais europeias, poderá acabar por condicionar esta onda de retoma que se tem vindo a verificar nos últimos dois/três anos. A parte boa desta questão é que, perante a falta de imóveis para investir no centro da cidade — e caso o apetite dos ‘homens do dinheiro’ não esmoreça — poderão finalmente começar a entrar no mercado algumas dezenas de prédios de terciário situados na periferia da capital que esperavam há vários anos por um comprador.

A verdade, segundo alguns analistas, é que a imagem do país lá fora melhorou consideravelmente nos últimos dois anos, em especial depois de se ter ficado a saber que Portugal não iria precisar de um segundo resgate por parte da troika. Aos olhos dos investidores imobiliários Portugal já aparece frequentemente associado a países como Espanha ou Irlanda, e cada vez mais distanciado da Grécia.

Por outro lado, o facto de existir muita liquidez no mercado mundial também ajuda, pois os fundos de investimento têm de aplicar o seu dinheiro em algum lado e Portugal é mencionado com mais frequência.

A cereja no topo do bolo acaba por ser o facto de mercados de grande dimensão e tradicionalmente fortes, como Londres, Paris ou Frankfurt, estarem cada vez mais saturados e, perante essa evidência, o capital começa a encaminhar-se para os chamados países periféricos onde, naturalmente, Portugal se inclui.

Fonte: Expresso

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