27 outubro 2016

Estrangeiros mantêm interesse no imobiliário português


O investimento estrangeiro no imobiliário português não deverá ser afetado este ano, quer na compra direta de imóveis quer no investimento institucional. A indústria alerta, contudo, para a necessidade de estabilidade fiscal. As estimativas para o investimento estrangeiro no setor imobiliário este ano mantêm-se otimistas.


No investimento em imobiliário comercial – sobretudo de origem institucional – os estrangeiros foram responsáveis por mais de 90% dos €2.000 milhões transacionados em 2015, peso que não deverá alterar-se este ano. De acordo com estimativas das principais consultoras imobiliárias a atuar em Portugal, 2016 deverá atingir semelhante volume, tendo em conta que o 1º semestre registou níveis entre €870 e €1.050 milhões, estimam a JLL, CBRE e C&W. E neste segmento, o interesse dos estrangeiros não dá mostras de abrandar. “Nós investimos com uma visão de longo prazo, e estamos ativos há 20 anos em Portugal. Nesse período não houve um único ano em que não tenhamos realizado investimentos” referiu José Antonio Martín-Boregon, da CBRE Global Investors, no encontro internacional de investimento Portugal Real Estate Summit, no Estoril. Já Richard Croft, da M7 Real Estate, explicou que “estamos muito entusiasmados em relação a Portugal e às oportunidades que oferece”, sublinhando que “existem muitos ativos interessantes que estão no mercado”. Também Juan Pepa, da Lone Star, revelou que se mantêm “ativos na procura de oportunidades de investimento em Lisboa”. 


No investimento direto (mais associado à compra de unidades habitacionais), a APEMIP antecipa que o ano feche com €4 mil milhões transacionados por estrangeiros. Se tivermos em conta que a CPCI, outra associação do setor, posiciona em €3,3 mil milhões o investimento direto estrangeiro em 2015, tal representa um crescimento superior a 20%. As oportunidades que surgiram no mercado com as alterações à lei do arrendamento, a reabilitação urbana, o crescimento do turismo e os programas de captação de investimento – como os vistos gold e o estatuto de Residente Não Habitual (RNH) – são apontadas pela indústria imobiliária como grandes impulsionadores do interesse estrangeiro por Portugal, em paralelo a fatores intrínsecos de atração como o clima, a gastronomia, a segurança ou qualidade de vida. Isso mesmo é evidenciado pelo Millennium bcp quando, no âmbito da sua carteira de imóveis, promove Portugal como destino de investimento imobiliário. “Portugal é um destino turístico reconhecido e premiado” e aproveitando este reconhecimento” procuramos sempre apresentar o país como uma boa oportunidade para investir”, explica Adelaide Amaral, do Marketing da Direção de Negócio Imobiliário do Banco. As caraterísticas do mercado imobiliário e a sua atratividade face a outros mercados europeus quer na perspetiva de criar valor quer para uso pessoal, estão sempre em evidência nos périplos internacionais promovidos pelo Banco para vender os seus imóveis junto dos mercados internacionais, onde os instrumentos de captação de investimento estrangeiro já referidos “não deixam de ser valorizados como forma de promover Portugal”. 

O sucesso destes instrumentos é inegável e só os vistos gold permitiram atrair em 4 anos cerca de €2,1 mil milhões em compras de imóveis, captando nacionalidades que até então eram pouco expressivas neste mercado, como os chineses. 

Estabilidade exige-se

Para a indústria imobiliária, estes instrumentos foram dois importantes dínamos para cimentar a credibilidade de Portugal nos mercados externos e atrair investimento estrangeiro para o imobiliário português. E ainda que reconheçam que os dados mais recentes “não assumem ainda o impacto da criação de imposto imobiliário (anunciados no OE para 2017)” – disse Reis Campos, presidente da CPCI -, os operadores de mercado concordam na necessidade de ter estabilidade fiscal para que Portugal “se mantenha na rota do investimento mundial”, refere Adelaide Amaral, defendendo que “temos de dotar o país das condições necessárias para os investidores estrangeiros se manterem atraídos”. “Será necessária uma elevada dinâmica do mercado e estabilidade fiscal, além do reforço da concessão de crédito pela Banca para manter a credibilidade do país e, da mesma forma, a credibilidade destes programas criados para captação de investimento estrangeiros”, nota ainda. Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, sublinha que “para manter os bons níveis de procura no mercado de compra e venda de casas” no âmbito dos clientes estrangeiros, “é necessário garantir a estabilidade fiscal, assegurando a previsibilidade nas condições de mercado”. E de acordo com Luís Lima, presidente da APEMIP, tal não está garantido com o novo imposto, que “vem alterar as regras a meio do jogo e terá efeitos devastadores”, afetando “a confiança e a credibilidade do sector e do nosso país, a médio e longo prazo, junto dos investidores estrangeiros”. A estabilidade fiscal é também uma bandeira dos players estrangeiros no campo do investimento institucional em imobiliário comercial. Sendo claro que “Portugal é um destino de investimento cada vez mais internacional”, disse José Veiga Sarmento, da APFIPP durante o evento realizado no Estoril, parece ser necessário “manter o jogo, simples, transparente e claro”, disse, por sua vez, o economista António Nogueira Leite, sublinhando ainda “que é isso que os investidores estrangeiros procuram”. 

Fonte: Público Imobiliário

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