04 julho 2012

Tiago Borges: Custo atrativo de Lisboa pode levar multinacionais a escolher esta localização


O custo do imobiliário comercial é um fator determinante na escolha das multinacionais para se instalarem numa cidade. Um estudo da Mercer conclui que a capital portuguesa está mais atrativa em termos de custos iniciais de investimentoe posterior manutenção, afirma Tiago Borges, partner na consultora.

A Capital portuguesa cai 22 lugares entre as mais caras do mundo. Portugal, Grécia, Itália e Espanha registaram a maior queda nos preços de alojamento em 2012, afetados pela crise da Zona Euro. De acordo com o ranking anual elaborado pela consultora Mercer, Lisboa desceu 22 posições face ao ano anterior, ocupando o 108.º lugar na lista das cidades mais caras do mundo. A capital portuguesa registou uma descida acentuada, sendo que a Europa no seu todo sofreu as consequências da crise.
O "Estudo Global de Custo de Vida" da Mercer analisou o nível de vida de 214 cidades em cinco continentes, tendo em conta mais de 200 fatores como transportes, alimentação, vestuário, bens de uso doméstico e entretenimento.

Luanda, em Angola, que em 2011 foi a cidade mais cara do mundo, este ano foi ultrapassada por Tóquio, seguida por outra cidade japonesa: Osaka, que ocupa a terceira posição.

Na Europa, Moscovo, na Rússia, é a cidade mais cara, continuando a ocupar o quarto lugar no ranking, com Genebra no quinto e Zurique no sexto lugar.
Nos últimos lugares do ranking, ou seja, entre as cidades mais baratas do mundo, surge Carachi, no Paquistão, seguida pela capital paquistanesa, Islamabad, que é a segunda mais barata.

O resultado do estudo da Mercer sobre o custo nas maiores cidades mundiais conduziu a uma descida de Lisboa - que impacto terá no imobiliário comercial?
O "Estudo Global de Custo de Vida" da Mercer baseia-se na análise efetuada relativamente a um conjunto de cerca de 200 itens que influenciam o nível de custo de vida de cada localização na ótica de um colaborador expatriado. Nesse sentido, a análise que importa neste estudo, a nível do imobiliário, é a do custo das rendas de diversas tipologias de habitação, normalmente procuradas por expatriados e suas famílias, e que estes suportam (ou as empresas que representam), sendo mesmo o item que mais peso tem na constituição do índice. No entanto, existe uma correlação positiva entre os valores do imobiliário habitacional e o comercial, pelo que poderão ser tiradas algumas conclusões relativamente à competitividade dos preços do imobiliário comercial através do índice de custo de vida da Mercer. Assim, o facto de Lisboa estar percecionada, a nível global, como uma cidade atrativa em termos de custo de vida pode levar a que as organizações multinacionais considerem esse fator nas futuras escolhas de localização, sendo o custo do imobiliário comercial uma das causas para essa escolha.

Este resultado para Lisboa torna-a mais atrativo em termos de captação de escritórios internacionais e de multinacionais?
Apesar de o índice não analisar especificamente os valores de imobiliário comercial, o facto de determinada cidade ter um custo de vida mais baixo fará com que os custos globais de investimento inicial e a sua manutenção sejam percecionados como mais competitivos. Esses fatores aliados a outros (qualidade e custo da mão de obra, nível de línguas, burocracia e outros). Nesse sentido, uma descida no ranking comparativo de custo de vida entre as cidades poderá ter efeitos positivos a médio prazo na atratividade de Lisboa como destino para escritórios internacionais e para multinacionais.

O estudo poderá determinar um novo tipo de abordagem da cidade de Lisboa para determinados eventos ligados ao turismo de negócios, congressos ou turismo de inverno?
O estudo de custo de vida da Mercer pretende analisar o nível global de custo de vida de um conjunto de cidades de referência, através da análise da variação dos custos de diversos itens que compõem um cabaz global que se pretende representativo. No entanto, na abordagem do posicionamento de Lisboa como localização de referência para determinados eventos (turismo de negócio, congressos...), apesar de o preço ser uma das vertentes quase sempre ponderadas, não será o único. A existência de oferta hoteleira adequada, a rede de transportes, a quantidade de voos internacionais existentes, a facilidade e tempo de ligação entre o aeroporto e a cidade, a oferta cultural, a segurança apercebida serão alguns dos fatores que serão avaliados pelos operadores, pelo que qualquer abordagem que se pretenda efetuar terá de considerar estes e outros fatores de forma coordenada, e definir claramente quais os diferenciadores numa estratégia de comunicação que pretenda posicionar Lisboa neste mercado.

Que impacto teve o movimento cambial nesta descida do custo de vida para Lisboa?
Os movimentos cambiais tiveram uma influência significativa na descida global, em termos comparativos, do custo de vida de Lisboa. Esse movimento de descida foi extensível a praticamente todas as cidades situadas em países da Zona Euro, pois verificou-se uma desvalorização com algum significado da nossa divisa face às principais moedas mundiais, o que fez com que o custo de vida nestas cidades, quando medido em comparação com outras divisas, tivesse diminuído. No entanto, os fatores cambiais não são os únicos que explicam as oscilações no ranking nas cidades, existindo outros, mais intrínsecos às movimentações de preços, que ajudam a explicar maiores ou menores variações no índice global.

Os valores não refletem, por outro lado, uma situação recessiva nas cidades cujo custo de vida mais diminuiu?
Efetivamente, verifica-se que as cidades situadas em geografias mais fortemente atingidas por situações recessivas tiveram descidas mais que proporcionais às que seriam justificadas apenas pelos movimentos cambiais. Nesse sentido, cidades como Lisboa, Atenas, Madrid, Barcelona e Roma viram o seu nível global de custo de vida ser afetado por estas duas vertentes - uma desvalorização da sua divisa, e uma tendência comparativa de movimentos de preços que as fez serem percecionadas como comparativamente mais baratas.

Este movimento de queda de preços em Lisboa tenderá a acentuar-se? O estudo consegue antecipar esse fenómeno?
Não é possível prever os movimentos futuros nas oscilações dos preços relativos nas cidades, pois estes irão depender da evolução da situação económica e da evolução das dinâmicas cambiais. No entanto, poderemos antecipar que, enquanto se mantiver a atual situação económica e enquanto o euro não mostrar sinais de força, os movimentos comparativos de cidades como Lisboa poderão tender para a descida.

Como se posiciona Lisboa em relação a cidades próximas como Madrid e Barcelona?
Madrid posicionou-se, no ranking global da Mercer, em 78.º lugar, descendo do 60.º no ano anterior. Já Barcelona posicionou-se no 85.º lugar (66.º em 2011). Verificamos, portanto, que a distância do custo de vida Lisboa face às duas principais cidades espanholas se manteve estável.

E relativamente a cidades próximas do Norte de África?
As principais cidades mais próximas do Norte de África apresentam, de um modo geral, um custo de vida inferior a Lisboa. Argel (124.º), Casablanca (127.º), Cairo (128.º) e Tripoli (129.º), situam-se um patamar abaixo em termos de custo de vida. No entanto, a distância entre Lisboa e estas localizações diminuiu.

Qual o comentário global que a Mercer faz aos resultados do estudo? As cidades asiáticas confirmam a pujança?
As cidades situadas em economias emergentes confirmam a sua pujança através do aumento do custo de vida das mesmas. Não só na Ásia, mas noutras geografias (América Latina), este movimento tem sido notório nos últimos anos. Por outro lado, as cidades americanas também sofreram um encarecimento relativo no último ano (neste caso, alavancado pela valorização do dólar face à maior parte das principais divisas). Por último, existem algumas localizações em países em vias de desenvolvimento que, à partida, não identificaríamos como estando no topo da lista, mas que, devido à falta de alguns bens e à escassez de oferta no setor imobiliário, tornam estas localizações particularmente dispendiosas.

Fonte: OJE

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.